As cinco maiores bizarrices do desporto rei no Brasil

Marcial CortezJulho 11, 20229min0

As cinco maiores bizarrices do desporto rei no Brasil

Marcial CortezJulho 11, 20229min0
Viradas de mesa, mudanças de regulamento e até mesmo duas equipas a comemorar o mesmo título por mais de uma vez. O futebol brasileiro é repleto de bizarrices. Vamos lembrar os cinco episódios mais esquisitos da história do desporto rei no Brasil.

Em nosso webcast “Ginga Canarinha”, sempre costumamos dizer que estamos a mostrar o melhor e o pior do desporto rei no Brasil. Por aqui, nas terras tupiniquins, o nosso querido futebol é muitas vezes maltratado por regulamentos esdrúxulos e viradas de mesa históricas. É verdade que nos últimos anos a situação melhorou bastante, já vamos para 20 anos de um Brasileirão consolidado e um calendário mais ou menos organizado. Mas sempre é bom lembrar o passado para não repetirmos os mesmos erros.

Assim, vamos relembrar as cinco maiores bizarrices do futebol brasileiro. Será uma tarefa bem difícil dentre tantas lambanças que já ocorreram em nossos relvados.

Contagem regressiva, do quinto ao terceiro lugar

Em quinto lugar, vamos falar do Santos Futebol Clube, que ganhou um vice campeonato brasileiro sem ter qualificação para tanto. Em 1983, o Campeonato Brasileiro era disputado com regulamentos diferentes a cada ano, bem diferente do que ocorre hoje. O critério que qualificava os 44 (sim, você leu direito – 44) participantes do Brasileirão, cujo nome à época era Taça de Ouro, era a classificação no campeonato regional. O Campeonato Paulista classificava seis equipas para o Torneio Nacional e o Santos acabou em nono lugar no Paulistão. Assim, teria que disputar a Taça de Prata, uma espécie de Série B.

Ocorre que por influências políticas ou por mistérios que jamais saberemos, o Peixe foi “convidado” a jogar a Taça de Ouro. Assim, entrou pela porta dos fundos da competição, mas acabou chegando à final, quando perdeu para o Flamengo, que se tornou o Campeão Brasileiro de 1983.

Infelizmente, esses “convites” eram comuns no passado. O Cruzeiro foi campeão da Copa do Brasil em 1996 pelo mesmo artifício – pelas regras da época, o Estado de Minas Gerais só poderia enviar duas equipas para a Copa do Brasil – o campeão e o vice. A Raposa ficara em terceiro lugar naquela época e pela regra não poderia disputar o certame. Mas, por meio de um “convite”, não só disputou como ganhou a Copa, ao vencer o Palmeiras na final.

O quarto lugar também fica com o Santos, mas dessa vez dividido com o Palmeiras. No Campeonato Paulista do mesmo ano da graça de 1983, o Peixe vencia o jogo por 2-1, até que no último minuto, após a cobrança de um escanteio, a bola foi rebatida na área e sobrou para o avançado Jorginho, que bateu de fora da área. A bola ia para fora, mas o árbitro José de Assis Aragão estava mal colocado sobre a linha de fundo, e a bola acabou por bater nele e entrar no gol. Final, Palmeiras 2-2 Santos, com gol do árbitro no crepúsculo da partida. Após o feito, Aragão pediu o afastamento junto à Federação Paulista de Futebol, mas a entidade não aceitou e o árbitro voltou a apitar os jogos.

Capa do periódico Placar número 699, de 1983, que retratou o “gol do Aragão”. Foto – Reprodução Revista Placar

O terceiro lugar fica com o Palmeiras, ou melhor, com uma das torcidas organizadas do Verdão, conhecida como Mancha Verde. Em 1989, durante o martírio alviverde que durou 17 anos sem título, a Federação Paulista concedia um troféu, chamado Taça dos Invictos, à equipa que ficasse sem perder por mais tempo. O Verdão empatou com o Bragantino em 1-1 e com isso chegou à 20a partida invicta. Ganhou a Taça e seus torcedores, ávidos por um título, invadiram o relvado do estádio de Bragança Paulista. A polícia agiu para conter a claque e para isso utilizou seus cães de guarda. Os palmeirenses foram pra cima dos cachorros e um torcedor da Mancha mordeu o cachorro. Segundo dizem os próprios membros da agremiação, o torcedor que dentou o cão gritava “viva os gatos, viva os gatos!”

O vice campeão da bizarrice

O segundo lugar da bizarrice do futebol tupiniquim não vai para um clube específico, mas para uma situação: as viradas de mesa. Várias equipas do desporto rei canarinho já foram beneficiadas com as famosas mudanças de regulamento, acionamentos da Justiça Comum, alterações em datas de jogos e outras coisas do gênero. Vamos citar alguns casos já famosos por aqui.

O primeiro deles é do São Paulo, que no Paulistão de 1990 não conseguiu ficar entre os melhores e teve que disputar a Série B no ano seguinte. Quando o Tricolor caiu, o sentimento geral era de tristeza e o próprio Telê Santana ao chegar na equipa disse que precisaria fazer uma reformulação para voltar à elite. No entanto, o que se viu no ano seguinte foi um malabarismo para fazer com que o time do Morumbi conseguisse subir para a primeira divisão no mesmo campeonato. As duas séries seguiram em paralelo numa primeira fase, e na segunda fase os primeiros lugares do Módulo Amarelo (Série B) se juntaram aos classificados do Módulo Verde (Série A). O resultado foi que o São Paulo sagrou-se campeão no mesmo ano. Vale lembrar que esse assunto é uma das maiores polêmicas do futebol brasileiro, pois a torcida do São Paulo nega o rebaixamento até hoje.

Repórter da TV Bandeirantes após jogo do São Paulo contra a Catanduvense em 1991. No lado direito do pescoço do repórter, lê-se claramente a denominação Série B que representava o Módulo Amarelo do regulamento. Imagem: Captação TV Bandeirantes no YouTube

Outro caso famoso também é do Tricolor, mas desta vez é do Tricolor carioca, o Fluminense. Aliás, o rubro verde é o campeão absoluto das viradas de mesa. Em 1996, a equipa caiu para a segunda divisão no campeonato brasileiro. Mas, numa reviravolta espetacular, e sob alegação de que toda a arbitragem do campeonato estava a atuar de modo suspeito, a queda foi revertida e o Fluzão voltou à Série A em 1997. No entanto, o time daquele ano era tão ruim que caiu de novo, e desta vez não foi possível salvá-lo fora dos relvados. O Fluminense foi muito mal na Série B em 1998 e caiu para a Série C em 1999. Conseguiu a vaga para a Série B no ano seguinte e…

Por mais uma dessas manobras inexplicáveis, saltou diretamente da Série B para a Série A no ano 2000. Ou seja, o Tricolor carioca está a dever duas Séries B, a de 1996 e a de 2000. Além destes dois casos clássicos, há muitos outros na história do futebol, como o que ocorreu com o Botafogo em 1999, que deveria ter caído, mas por uma manobra incrível nos tribunais conseguiu permanecer na elite e rebaixou o pequeno Gama, do Distrito Federal.

O Grande Campeão

São muitas coisas bizarras e precisaríamos de vários textos para entrarmos nos detalhes de cada uma delas, mas sem sombra de dúvida o episódio mais bizarro de todos é o Campeonato Carioca de 1990. Pelo regulamento, o campeão do primeiro turno (Vasco) jogaria a meia final contra o campeão do segundo turno (Fluminense), e disputaria a final contra a equipa com melhor campanha na soma dos dois turnos (Botafogo).

Pois bem, então teríamos Vasco x Fluminense, e quem ganhasse jogaria com o Botafogo pra decidir o título. Ocorre que o Vasco ganhou do Fluminense e foi pra final com o Botafogo. Nesse ínterim, o campeonato foi paralisado para a realização da Copa do Mundo da FIFA 1990. E foi justamente nesse período que Eurico Miranda, então presidente do Vasco, propôs uma mudança no regulamento, na qual a vitória do time de melhor campanha ao longo dos dois turnos (Botafogo) provocaria uma prorrogação no jogo final. Essa mudança foi proposta dias antes da realização da partida, e todos os clubes assinaram, menos o Botafogo.

Chega o dia do jogo e o Botafogo ganha a partida. Os jogadores comemoram, enquanto os vascaínos aguardam o início da prorrogação. A Federação carioca, sem saber o que fazer, esconde a Taça. Porém, o capitão do Botafogo recebe em suas mãos uma Taça que não era o trofeu oficial e a equipa dá a volta olímpica a carregar a Taça Cidade de Nova Friburgo. Os jogadores do Vasco continuam no relvado a esperar o início da prorrogação. Quando o tempo regulamentar para iniciar o tempo extra se esgota, o árbitro encerra o jogo e os vascaínos começam a comemorar o título, pois na visão deles a prorrogação foi ganha por W.O. e o campeão é o Cruzmaltino. Como não havia Taça para levantar, a torcida doa uma caravela de papelão e os jogadores do Vasco dão a volta olímpica com o inusitado presente da torcida.

Dias depois, a Federação considerou o Botafogo como campeão legítimo e eles receberam a Taça oficial mais de um mês após a conquista.

Jogadores do Botafogo na volta olímpica com a Taça que não era a oficial. Foto: Captação de imagem Youtube
Jogadores do Vasco comemoram com uma caravela entregue pela torcida o mesmo título comemorado pelo Botafogo vinte minutos antes no episódio mais bizarro do futebol tupiniquim. Foto: Captação de imagem Youtube

 


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS