A aposta no mercado interno – um mundo cheio de vantagens pt.2

Ricardo LopesAbril 24, 20238min0
Será o mercado interno do futebol português uma solução viável para os clubes nacionais? Ricardo Lopes analisa os benefícios de contratar localmente

Na primeira parte deste artigo, analisámos algumas vantagens da aposta no mercado interno. Se continuarmos a olhar para o passado há duas construções de plantel que se basearam no mercado interno que deram muito mais frutos do que o esperado: o FC Porto de Mourinho e o Sporting de Rúben Amorim.

No primeiro caso, o FC Porto venceu a Champions League, após reformar-se com alguns elementos que estavam no nosso campeonato, como Nuno Valente, Paulo Ferreira, Deco, Maniche ou Derlei. Claro que nem todos os jogadores chegaram no mesmo mercado, houve um processo faseado, que obteve o seu auge em 2003/04.

Já o Sporting mexeu-se com qualidade, trazendo Nuno Santos, Matheus Reis, Pedro Gonçalves ou Bruno Tabata, acabando com uma seca no campeonato que durava desde 2001/02. Neste caso, foi o trabalho de somente dois mercados de transferências. É o sucesso mais recente que podemos dar. É uma opinião transversal que o Sporting se mexeu com grande qualidade nesse período.

Possivelmente os dois nomes da atualidade que passaram por este registo e que estão mais próximos de poder encher os cofres de seus respetivos clubes são Pedro Gonçalves e Mehdi Taremi (Rafa chegou de Braga, que é outro patamar). O primeiro veio proveniente do Famalicão, já por um negócio elevado, mas que valeu todos os cêntimos, enquanto que o segundo é um dos melhores (senão o melhor) finalizadores do nosso campeonato, que o Rio Ave conseguiu seduzir para vir a Portugal, embora fosse um elemento conhecido do futebol asiático. Marcus Edwards, Nuno Santos, Galeno entre outros, poderão dar um grande rendimento financeiro a respetivos clubes. O Benfica tem sido o clube com menos aposta, preferindo elementos da sua formação ou contratar em outros mercados (o que não tem mal nenhum, se for feito com critério).

A correr por fora (já que não faz capas de jornais, embora o merecesse) está Al Musrati, que chegou oriundo do Vitória SC ao Sporting de Braga, após uma temporada de empréstimo ao Rio Ave, de Carlos Carvalhal. Será seguramente uma das melhores vendas da história do Sporting de Braga. Rafa (aqui sim, faz mais sentido a aplicação do seu caso, ao olharmos para o passado distante) é o grande exemplo dos arsenalistas e do seu sucesso com o mercado interno, ao ser identificado no Feirense, ter feito enormes temporadas em Braga e mais tarde tornar-se um elemento fundamental para o Benfica, deixando os cofres do clube minhoto cheios.

Naturalmente que o processo de contratar dentro de portas tem a sua margem de erro. Porém, caberá ao scout e restantes membros do clube, se o jogador estará ou não pronto para dar o salto.

2022/23 apresentou-nos um leque de atletas que mostraram e/ou confirmaram que têm capacidades de dar o alto para um outro patamar, tanto em Portugal, como no estrangeiro, sendo que certos elementos fazem falta a Sporting, FC Porto, Benfica e Braga, que carecem de opções de qualidade em certas posições, que poderiam ser suprimidas com a contratação de certos elementos que já estão no nosso país, mesmo que emprestados por elementos de fora.

Se começarmos pela baliza, posição que nenhum dos clubes deverá reforçar, somente em casos de saída, o grande nome que podemos destacar é o de Luíz Júnior, elemento que brilha em Famalicão desde 2020/21 (época que chegou aos seniores). Um elemento que já merece dar o salto, podendo inclusivamente regressar ao Brasil, para uma equipa de alta gama.

Na defesa, comecemos pelo centro, onde possivelmente o FC Porto e o SC Braga poderão fazer algumas mudanças no Verão. Neste caso, há três nomes que vale a pena refletir: André Amaro, Bamba e João Basso. Os dois primeiros (que não deverão manter-se no Minho, muito menos ir para Braga), destacam-se o seu potencial e a sua juventude, exibindo Amaro alguns traços de liderança. Bamba tem sido inclusivamente observado por Mancini. Já João Basso é a peça fundamental para o Arouca esta temporada, mostrando uma enorme solidez defensiva, sendo o capitão da equipa. Apesar de ter vindo a ser falado mais vezes esta temporada, o seu crescimento sólido já vem do passado.

Nas alas, há dois nomes que vale a pena mencionar. Pela direita, Costinha e pela esquerda Leonardo Lelo, dois laterais muito ofensivos e com capacidade de estar numa equipa que queira assumir o jogo, tendo demonstrado altas valências, quer numa defesa a 3 quer numa defesa a 4 (bons jogadores para os Três Grandes, que vão mexer, principalmente na esquerda). Pedro Malheiro e Bruno Langa merecem a chamada de atenção.

Entre a ala e o centro, Alexandre Penetra tem tido a sua afirmação total em 2022/23. É difícil afirmar qual é a sua melhor posição, já que tem estado a alto nível nas duas, o que pode ser importante em caso da sua equipa gostar de utilizar alguma variabilidade tática. Não sendo um portento ofensivo, é bastante seguro defensivamente.

Passando para o meio campo, Guga tem sido o motor do Rio Ave de Luís Freire, um autêntico cérebro da equipa e com capacidade plena para jogar num meio campo a dois. Soube dar o passo atrás e ir ate à Segunda Liga, mas a partir desse momento foi sempre a subir, sendo constantemente ligado ao FC Porto, porém valeria a pena a Sporting, Benfica e Braga manterem o jogador monitorizado.

Um pouco mais à frente no terreno (mais próximo de um 10 do que um 8), Iván Jaime tem espalhado magia desde que aterrou em Portugal. Mais uma excelente aquisição do Famalicão, que deverá encher os cofres do emblema. Já não o deveremos conseguir manter em Portugal, a não ser com alguma proposta que bata a concorrência do estrangeiro, nomeadamente de Espanha. Ricardo Guima tem brilhado no Chaves, merecendo a ressalva, assim como Sylla, protagonista do meio campo do Arouca.

No ataque, é mais que óbvio o problema do Sporting e da necessidade do Braga em substituir Vitinha, algo que não foi feito no mercado passado. O nome que mais dá apetite é o de Fran Navarro, porém o mesmo pode ter já um acordo com o FC Porto. Assim, podemos destacar três diferentes nomes.

O primeiro (e na minha opinião o melhor) é o de Osmajic, que tem sido o avançado do Vizela durante esta temporada e exibiu capacidades para dar algo mais num grande, sendo uma das principais a entreajuda com os colegas, mesmo quando o Vizela joga em bloco baixo. É absolutamente indiscutível no emblema de Tulipa. Caso o Cádiz o queira vender, deverá receber propostas de Portugal. Butzke tem sido um elemento algo inconstante no Paços de Ferreira, porém é fácil de verificar que tem uma margem de progressão enorme, sendo o protagonista do Paços de Ferreira quando está em dia sim.

O seu problema é mesmo não ser um jogador muito constante, além de estar num clube que luta para não descer, o que dificulta imaginá-lo em outro tipo de projetos.

Aos 24 anos e com um 1,94m, pode ser destaque se estiver bem acompanhado (sistema de dois avançados seria o ideal para ele). Sofre do mesmo problema de Osmajic, que é o facto de estar emprestado, neste caso pelo Granada. Por último, vale a pena dedicar umas curtas linhas a Rafa Mujica. São 14 golos em 26 jogos pelo Arouca, sendo o abono de família da equipa surpresa do campeonato. Tem uma enorme capacidade de movimentos e adaptou-se com gigante facilidade a Portugal. O grande problema é verificarmos se o mesmo terá a mesma consistência na próxima época, já que esta foi a sua única grande temporada. Há que colocar na balança essa possibilidade.

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Sabemos que é irreal que as equipas mais fortes do nosso campeonato atuem somente no mercado interno, porém não seria de admirar que existissem duas ou três contratações do estilo, por parte de cada uma das equipas. Ainda assim, é necessário que as restantes equipas subam o nível, para que existam mais alvos, além de aumentarem a qualidade do nosso campeonato.


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