10 momentos do Campeonato do Mundo de futebol pt.2
De Junho até Novembro, o Fair Play vai recordar alguns dos melhores momentos de Campeonatos do Mundo, oferecendo sempre duas histórias ao leitor, podendo ser divertidas, sérias, insólitas, educacionais, ou de outro género, e que ajudaram a escrever uma página na espectacular história do torneio de futebol mais aguardado a cada quatro anos.
BANKS E A VIGANÇA DE MONTEZUMA
No mundial de 1970, Gordon Banks ficou famoso pela sua majestosa defesa ao cabeceamento de Pelé. Entrou para a história do futebol como uma, senão, a melhor defesa do mundo, que o Rei recorda nas seguintes palavras: “Já marquei mais de mil golos, mas sempre lembro do que eu não fiz em 1970”.
Depois de carimbar a passagem na fase de grupos, Alf Ramsey – selecionador inglês – deu um dia livre aos seus jogadores. Os jogadores aproveitaram para conhecer melhor a gastronomia e as bebidas locais. Banks , Charlton, Cooper, Geoff Hurst e Moore entraram numa cantina onde foram recebidos em euforia e comeram e beberam até mais não. Convém notar que os ingleses tinham levado comida, água e outras bebidas para fugirem à famigerada “Vingança de Montezuma”.
Montezuma, imperador azteca, recebeu Hernán Cortés, conquistador espanhol, com muita benevolência. Foi traído. Antes de morrer, rogou a praga: todo estrangeiro que pisasse no México seria acometido de um severo mal-estar. E isso aconteceu com Gordon Banks.
Como relembra: “Não sei se a garrafa foi aberta na minha presença ou não, só sei que meia hora depois comecei a passar muito mal. (…) O problema era que eu tinha que ir ao wc tantas vezes que não conseguia descansar de jeito nenhum“.
Com o titular afligido por uma crise gastrointestinal gigantesca, chegou a vez do guarda-redes suplente – Peter Bonetti – assumir a defesa da baliza inglesa frente a Alemanha Ocidental (RFA). O jogo começou a ganhar por 2-0, mas Beckenbauer, Muller e companhia acabariam por virar o jogo para 3-2 afastando os detentores do titulo, vingando a final de 66 com ajuda de um imperador Azteca.
ON THIS DAY in 1970…
England goalkeeper Gordon Banks made THAT save to deny Brazil legend Pele at the World Cup. ? pic.twitter.com/l4ixcNtGrj
— GOAL (@goal) June 7, 2018
UM GOLO ANULADO QUE (TALVEZ) MUDOU TUDO
Em 1978, a Argentina recebeu em sua casa o Campeonato do Mundo, com 16 equipas participantes, entre os quais os estreantes do Irão e Tunísia, para além dos habitués do costume como o Brasil, Argentina, Itália, Espanha, e a campeão em título, a República Federal Alemã, dando cor a um Mundial que se esperava emocionante, muito por conta do ambiente que se iria viver nas bancadas. Este cenário frenético oferecido pelo país das Pampas acabou por ser a cor que maior contraste deu a esta edição de 1978, sem falar das controvérsias que se iriam passar durante a prova, com o Brasil a estar curiosamente envolvidas em todo, mas sempre do lado da vítima e de nação prejudicada. Não, não estamos a falar do 6-0 que a Argentina infligiu no Perú, resultando na relegação da canarinha para a disputa do 3º lugar da prova máxima do futebol mundial, e sim o que queremos relembrar hoje é do golo anulado frente à Suécia que acabou por forçar a ida do Brasil para o grupo B, quando poderiam ter encaixado no grupo A e assim evitar os seus “vizinhos” sul-americanos.
Mas o que tem de especial um golo anulado? Tudo. Todavia, antes de atacarmos a situação em concreto, há que relembrar dois pormenores importantes para que o leitor não estranhe a história: o primeiro passa pelo facto do Campeonato do Mundo ter sofrido diferentes alterações de formato, sendo que em 1978 ainda estava veiculado o de duas fases-de-grupos com quatro equipas, seguindo-se a final e o 3º lugar para as duas primeiras classificadas da segunda fase; os jogos de futebol só eram jogados até aos 90′ não existindo tempo de compensação. Tendo esses dois detalhes como nota, passamos ao momento em que o Campeonato do Mundo de 1978 poderá ter mudado de rumo, no encontro entre o Brasil e Suécia.
O jogo de estreia para ambas as selecções foi disputada até ao limite do exequível com ambas as formações a procurarem formas de chegar às redes com Sjöberg a concretizar por um bom remate, respondendo o Brasil depois por Reinaldo, registando-se um empate a um golo na entrada para a segunda metade. A canarinha pressionou até onde podia, esbarrando todos os seus remates quer nas luvas de Ronnie Hellström ou nos cortes providenciais de Björn Nordqvist, elevando o timbre do duelo ao seu pico máximo… até que chegou o momento do golo, ou melhor, não-golo de Zico. Centro de Reinaldo a partir de um canto, e Zico com uma cabeçada monstruosa fez as redes vibrar, colocando o público brasileiro ao rubro e a festejar! Porém, e antes que os festejos continuassem, o árbitro Clive Thomas anulou o golo por dizer que quando o pontapé de canto fora marcado já o tempo de jogo tinha terminado, e o cabeceamento de Zico era portanto “ilegal”. Incredulidade, choque e escândalo, levando aos jogadores, staff e adeptos brasileiros a um estado de total fúria perante uma decisão, no mínimo, pouco esclarecedora. No fim, o Brasil acabou mesmo com um empate a um golo, e este resultado teve como “consequência” no cair para o Grupo B da fase-seguinte, no qual constava a Argentina, futura campeão do Mundo.
Clive Thomas que já era visto no Reino Unido e Europa como um árbitro complicado, problemático e com historial de tomar decisões pouco “lúcidas” em jogos de importância máxima, acabou por assinar um dos momentos mais insólitos do futebol mundial.
World Cup ‘78: Clive Thomas’ infamous final whistle… pic.twitter.com/wcKHrohZYr https://t.co/C6MyRjcBt7
— A Football Archive* (@FootballArchive) September 11, 2020