Paulo Meneses e a “pressão no futebol” – uma falsa questão pt.2

Fair PlaySetembro 5, 20225min0

Paulo Meneses e a “pressão no futebol” – uma falsa questão pt.2

Fair PlaySetembro 5, 20225min0
O treinador do Cehegín Deportivo, Paulo Meneses, continua a descrever o que é a pressão no futebol e como lida com a mesma diariamente nesta 2ª parte

Continuamos a falar do que é a pressão no futebol, os obstáculos criados pela mesma e como melhor me posso preparar enquanto treinador e pessoa.  Para além disso, também dedico algumas horas várias vezes por semana, à leitura (artigos que surgem, teses de mestrado ou de doutoramento das Universidades, livros que compro, etc). Então, penso que a pressão é um tema que não me preocupa muito, porque sinto que houve no passado e continua a haver no presente uma dedicação e preparação exaustiva como treinador. No mesmo sentido, penso que os jogadores das minhas equipas sentem o mesmo: não há pressão. Isto porque considero que, através da grande preparação (ao detalhe) dos treinos e jogos, o jogador sabe e sente que estará bem preparado para os desafios que se apresentem. Desse modo, penso que os preparamos com a confiança suficiente para a competição.

Outro exemplo da minha preparação que contribuiu e contribui muito para o que sou enquanto treinador hoje em dia, foi a experiência na 1ª Liga do Panamá (Chorrillo Fc). Este clube normalmente lutava pelo titulo e jogava a Liga de Campeões CONCAF. Tínhamos jogadores de nível muito alto, alguns eram chamados à Seleção do Panamá em todas as convocatórias. 3 desses jogadores estiveram no Mundial da Russia 2018.

Ou seja, trabalhar com jogadores desse nível, deu-me uma experiência riquíssima e deu-me muita bagagem para me preparar da melhor forma para os desafios que tenho tido.

Em Laos, fui adjunto do Eduardo Almeida no Lanexang United – equipa que lutava por ganhar o titulo da 1ª Liga. Qualificamos a equipa para a Pré Eliminatória da Liga de Campeões da Ásia. Tinhamos muitos jogadores da Seleção de Laos, mais uma grande experiência com jogadores de alto nível.

Por exemplo, em Portugal tive a oportunidade de trabalhar com um grande treinador: o mister Pedro Caixinha. Ele era um dos treinadores mais promissores da 1ª Liga de Portugal. Esses meses com ele na União de Leiria, foram de um crescimento brutal, até porque tínhamos jogadores que agora estão no mais alto do futebol: Oblack (emprestado pelo Benfica ao U. Leiria, actualmente no Atlético de Madrid) e André Almeida (emprestado pelo Benfica também e que foi muitos anos o capitão do SL Benfica).

Na AD Alcorcón (Espanha), o meu crescimento foi brutal como treinador. Durante as temporadas que eu trabalhei nesse fantástico clube, tive a oportunidade de trabalhar em muitas equipas (Sub 7, Sub14, Sub16, Sub17, Sub 19 e na equipa B). Aprendi muitas coisas com outros treinadores e ainda mais na segunda temporada como Coordenador da Metodologia de Treino do clube.

Ao mesmo tempo que estava na AD Alcorcón, além de trabalhar com o Javier Miñano na Seleção Espanhola, também fui professor convidado, ajudando o Javi durante 3 anos no Inef Madrid, na disciplina de Futebol de Alto Rendimento.

Onde pude aprender muitos assuntos maravilhosos do futebol de alto rendimento e também, pude conhecer e aprender com outros treinadores que trabalharam em grandes clubes da Europa, quando vieram para o INEF Madrid.

Desta forma, como vimos até aqui, aprendi muitas coisas importantes com os melhores treinadores (nos clubes onde trabalhei e nas Universidades que frequentei), desenvolvi minhas habilidades de treinador (nos projectos onde trabalhei), cresci muito trabalhando com jogadores de alto nível.

Tudo isso que vivi até aos dias de hoje, penso que me preparou da melhor forma para o que sou eu como pessoa e como treinador no presente, e creio perspectivar com bons olhos para o futuro, desejando que apareçam bons desafios através de grandes e bons projectos.

É por tudo o que eu disse neste artigo, que um treinador que se prepare durante anos da melhor forma, não terá (na minha opinião) que sentir pressão nenhuma no seu trabalho, mas sim enfrentar essas realidades (muitas delas são dificuldades) com coragem, com positivismo e vê-los como autênticos desafios.

Uma palavra para os jovens treinadores. Estudem muito futebol, vejam e analisem muitos jogos (e filtrem a informação e não copiando para a vossa realidade), procurem auto refletir diariamente sobre o vosso trabalho, partilhem informação com outros treinadores – saímos todos mais ricos partilhando. Sejam humildes e abertos a novos conhecimentos, nunca desistam dos seus objectivos, trabalhem muito para os conseguir. Dessa forma, creio estar certo que a “pressão” vai se transformar em confiança e desafio.

Termino este artigo como comecei. Na parte final da minha resposta à GoalBold Indian Football, terminei por escrever:

“estou procurando desafios maiores do que o projeto Aizawl FC, porque me sinto muito preparado para lidar com esses grandes desafios. E não tenho dúvidas, se conseguir um bom projeto, com jogadores melhores, com certeza farei bom trabalho novamente e apresentarei resultados ainda melhores.”


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