Paulo Meneses e a aventura no Nejmeh SC: a Taça é “nossa”!

Fair PlayMaio 8, 20235min0

Paulo Meneses e a aventura no Nejmeh SC: a Taça é “nossa”!

Fair PlayMaio 8, 20235min0
A conquista da Taça do Líbano é o momento mais alto deste Diário do Treinador de Paulo Meneses que nos conta as suas aventuras com o Nejmeh

Depois de nos quatro artigos iniciais em que Paulo Meneses contou como começou a viagem no Nejmeh SC e as dificuldades em tentar moldar um clube vencedor para voltar ao caminho da glória, é altura do treinador contar a página dourada que assinou ao serviço do emblema libanês.

ACABAR A LIGA DA MELHOR MANEIRA PARA PREPARAR A TAÇA

Quando cheguei em Dezembro, a equipa estava em 4º lugar. Iríamos começar o Play Off de campeão, com os 6 primeiros na classificação a jogar 10 jogos.

O Presidente do clube, Mr. Mazen, propôs-me conseguir o 3º lugar para a qualificação para a Liga Árabe, tínhamos por isso que subir uma posição. Conseguimos fazer melhor, terminamos em 2º e com a qualificação directa para a AFC Cup Asiática (Liga Europa de Ásia). Um feito muito grande, porque no Libano há 2 equipas muito fortes economicamente, com planteis de luxo para a realidade.

Outro dado positivo, fizemos 13 jogos oficiais e estamos invictos desde que cheguei.

Houve uma pausa enorme, primeiro por causa da pausa das Seleções e depois por causa do Ramadão. Durante essas semanas, não baixámos a guarda e preparamos os Quartos de Final, a Meia Final e a Final da Taça da melhor maneira possível, que o Nejmeh SC podia ganhar.

A TAÇA É NOSSA

Penúltimo penalty para o adversário, o nosso guarda-redes defende (já tinha defendido o 1º), e a taça é do Nejmeh SC.

Jogávamos a final da taça contra o campeão de Liga, a equipa mais forte do país (nos últimos 15 anos ganhou 9 campeonatos). Depois de termos empatado 2 vezes nos jogos do campeonato, enfrentávamos o Ahed a última vez esta temporada.

Preparámos a final da taça ao pormenor, sabendo que iríamos defrontar um adversário com muita qualidade, com muita experiência. Com a paragem do Ramadão e das Seleções, senti que a nossa excelente dinâmica que tínhamos tido durante o Play Off (onde muita gente considera que o Nejemh foi a melhor equipa), não era mais a mesma.

No entanto, não nos fixamos nos problemas, mas sim procuramos soluções. Na 1ª parte o adversário esteve melhor que nós. Falamos ao intervalo, corrigimos algumas situações e conseguimos equilibrar o jogo na 2ª parte.

O jogo estava “amarrado” tacticamente, sem muitas oportunidades de golo. Quando faltavam 20 minutos para terminar o jogo, fizemos a única substituição com intenção táctica. Metemos mais um médio centro com características ofensivas, e a nossa equipa ganhou mais poder com bola. Nos últimos 15 minutos conseguimos jogar em campo contrário e encostar o campeão da liga no seu meio campo. No entanto, não conseguimos marcar.

Chegava o momento dos penalties, e ao minuto 90 substituímos o nosso medio defensivo por um médio criativo (melhor na execução de penalties). O árbitro tinha dado 5 minutos de descontos, ao minuto 93 substituímos o Guarda Redes (em termos de estatísticas na defesa de grandes penalidades, era bastante melhor).

Estavam desta forma reunidas todas as condições para fazer boa figura nos penalties.

Reunimos toda a equipa técnica, sabíamos quais os jogadores que eram exímios na marcação das grandes penalidades. Somente tínhamos que escolher a ordem.

Depois juntámos todos os intervenientes no jogo numa roda, alguns jogadores falaram e quiseram assumir a liderança de mostrar o caminho para levantar a taça, falando palavras de animo, motivando os companheiros, nesse momento senti que, como treinador, quando vejo que o barco está a andar no caminho certo, basta fazer acenos com a cabeça para os jogadores que vão bater o penalty, cruzar o olhar e confirmar a segurança e confiança que temos ambos. Quando desfizemos a roda, falei com os 5 batedores de penalties, e disse-lhes para escolherem a maneira de como iriam bater, o lado onde queriam bater, não hesitar e bater com confiança. Disse-lhes também que, a taça iria ser para o nosso lado. Ao guarda-redes abracei-o e disse-lhe que confiava nele e que ele iria dar-nos a taça.

1º penalty: O capitão deles bate e o nosso guarda redes defendeu. Penso que foi fundamental para nos dar ainda mais confiança. O nosso 1º penalty foi convertido com mestria. Estávamos na frente do marcador. O 2º penalty deles, o nosso guarda redes defendeu de novo, mas o árbitro mandou repetir. Eles na repetição fizeram golo, mas ficou o lado mental mais reforçado com mais um penalty defendido. Até ao 4º penalty, nós marcamos e eles também marcaram. Até que, o nosso guarda redes defendeu o 4º penalty, e acabou: A Taça era nossa. A Taça era do Nejmeh SC.

Foi uma festa tremenda, primeiro no estádio, depois nas ruas da cidade com muita muita gente a acompanhar o autocarro. Demos uma volta à cidade e depois fomos directos para o Estádio do Nejmeh, onde já nos esperavam milhares de adeptos.

Beirut é outra vez vermelha – “Beirut is red again“.

Frase que eles usam aqui quando ganham um derby (quando ganhámos contra o Al Ansar e nos qualificamos para a AFC Cup de Ásia), e neste caso com a conquista da taça contra o outro colosso do futebol Libanês.


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