Paulo Meneses e a aventura no Nejmeh SC: os desafios da AFC Cup

Fair PlayNovembro 26, 202310min0

Paulo Meneses e a aventura no Nejmeh SC: os desafios da AFC Cup

Fair PlayNovembro 26, 202310min0
Paulo Meneses preenche mais uma página do seu Diário de Treinador do Nejmeh SC, com a AFC Cup a ganhar uma importância forte

O treinador do Nejmeh SC, Paulo Meneses, relata mais uma jornada na liga do Líbano e a 4ª ronda da AFC Cup, no qual o clube do português está a tentar surpreender!

7º JOGO DA LIGA

Jogos para a Liga antes das competições internacionais, quer sejam para a AFC Cup de Ásia, quer sejam jogos da Seleção, são às vezes difíceis de preparar, porque normalmente os jogadores já estão com o pensamento nos jogos internacionais. 

Mas sendo o principal objectivo a conquista da Liga, era imperioso estar concentrado e motivado durante a semana para preparar o jogo contra o Tripoli da melhor maneira.

O inicio de jogo foi de domínio repartido, mas concedemos demasiado espaço ao adversário, na qual foi ganhando confiança. No que foi preparado durante a semana e pedido aos jogadores, poucas coisas estavam a ser colocadas em prática.

O adversário consegue marcar a meio da primeira parte, através de um contra – ataque, que surge de um canto a nosso favor, corte de cabeça do adversário, a bola ressalta para fora de área, fomos lentos no ataque à 2ª bola fora de área, depois não fomos agressivos o suficiente para disputar a bola no meio campo adversário (para ganhar a bola, ou até mesmo fazer falta táctica e parar o contra – ataque).

Ao intervalo, tive que ser muito duro com os jogadores, não só pelo resultado mas principalmente pela prestação e a atitude que não demonstramos na 1ª parte. Pouco agressivos, os 3 médios centros não estavam a ser agressivos no meio campo em termos de pressão, 1ª e 2ª bola (um aspecto muito muito importante para mim principalmente quando jogamos contra equipas que fazem uso do jogo directo) estavam a ser dominadas pelo adversário, na circulação de bola, estávamos muito estáticos, com pouca intenção de jogar e fazer jogar os colegas, etc. Ou seja, a nossa identidade não era aquela.

Retificamos algumas situações ao intervalo, quer em termos de atitude e intensidade, quer em termos tácticos. Retirámos um medio centro que também tinha jogado de inicio no jogo anterior na AFC Cup de Asia contra a equipa do Iraque, e metemos outro médio-centro (que realmente entrou muito bem e se adaptou bem aquilo que o jogo estava a pedir).

No minuto 2, circulámos a bola pelos 4 defesas, nos 3 corredores. Quando a bola chegou ao central esquerdo, fez uma incursão conduzindo a bola pelo meio campo contrario, centrando rasteiro a bola para o interior da grande área, onde o nosso Ponta de Lança encostou para o empate.

A equipa estava mais dominante no jogo, mais confiante, mais agressiva e intensa em todos os lances, não deixando o adversário jogar nem chegar à nossa grande área.

A nossa equipa tinha recuperado a identidade que nos caracteriza em cada jogo (inclusive nos treinos), e estávamos a aproximar-nos da baliza adversária cada vez mais e criando situações de golo.

O 2º golo surgiu de uma falta lateral do meio campo contrário, treinada muitas vezes, já desde a época passada. Bola longa para lá do 2º poste, o nosso defesa central esquerdo ganhou de cabeça, assistindo para a pequena área o outro central. Estava feito a remontada para 2-1, para seguir líderes na tabela.

4º JOGO DA AFC CUP DE ÁSIA

O 4º jogo da competição Asiática foi realizado na Arábia Saudita. O adversário era de peso, equipa Iraquiana acostumada a jogar em competições como a Liga dos Campeões da Ásia.

Nós tínhamos vários jogadores importantes indisponíveis por lesão, alguns deles jogadores estrangeiros. Aqui, o peso dos jogadores estrangeiros é enorme. Apesar de sabermos o poderio do adversário e nós não estarmos na máxima força, isso não nos inibiu nem diminuiu a nossa ambição.

Viajamos no Sábado (com jogo na segunda feira), e a viagem não correu como eu esperava. Na Ásia, as questões da logística quando temos jogos fora, tem uma importância fundamental.

Estava agendado um treino no Sábado ao final do dia, para adaptação ao relvado e também para “soltar” um pouco das pernas da viagem. Chegámos muito tarde ao hotel, e sem almoço. Os atletas foram almoçar às 18h, e estavam exaustos (a maioria tinha acordado às 5h da manhã). Como é obvio, cancelei o treino de campo. Pedi aos atletas para descansarem depois do “almoço”, e treinamos entre ginásio e a piscina durante 30 minutos.

Como seria de esperar, mostrei a minha insatisfação à direção acerca da organização desta viagem.

No dia seguinte voltamos ao normal num estágio de equipa num hotel, pequeno almoço e almoço todos juntos, fizemos uma reunião com a equipa mostrando o video sobre o adversário e à noite jantar todos juntos.

No dia do jogo, a mesma rotina do dia anterior. Depois do pequeno almoço, fiz algumas reuniões individuais e grupais (com os 3 médios centros que iam jogar). O objectivo era falar sobre o posicionamento, as tarefas individuais, grupais e colectivas em termos ofensivos, defensivos e transições ofensivas e defensivas. Com alguns deles, as bolas paradas também foi um motivo de conversa.

Fizemos a palestra pré jogo na sala de reuniões, e fomos directamente almoçar.  

2.30h antes do jogo, a policia estava à porta do hotel esperando para escoltar o autocarro que nos levaria ao estádio.

Início do jogo, estávamos bem posicionados e mostrávamos concentração em todas as ações que realizávamos.

Sem bola adoptámos um sistema híbrido em bloco médio, 1-5-3-2 que se poderia transformar momentaneamente em 1-4-4-2, e em 1-5-4-1 (em bloco baixo). Estávamos bem posicionados e agressivos nas zonas de pressão.

Quando recuperávamos a bola, conseguíamos sair em transição ofensiva, e quando não era possível realizar a transição, não perdoamos a bola e mantínhamos a posse de bola – tal como foi treinado e pedido à equipa.

Com bola, estávamos a construir desde o guarda-redes, com boas ligações com os médios centro. A equipa demonstrava-se segura com bola, jogando com personalidade (tal como lhe foi pedido).

Na 1ª parte criamos algum perigo na baliza adversária, mas sem sermos eficazes. Fomos portanto com 0-0 para o intervalo.

No intervalo, disse à equipa para continuar a ter essa personalidade com bola, para continuar a estar concentrada e agressiva sem bola.

Acrescentei se, continuássemos assim o golo iria aparecer, estávamos no bom caminho para ganhar o jogo.

Subimos ao relvado, minuto 2 da 2ª parte, o meu central direito (lateral direito de raiz por não termos mais defesas centrais disponíveis para jogar) junto à nossa grande área, junto à linha lateral quis fazer um passe interior paralelo para o médio-centro, meteu a bola nos pés do avançado adversário, disparou fora de area: 1-0 para eles.

Neste tipo de competição, um pequeno erro, face ao alto nível dos jogadores adversários, não costumam perdoar.

Voltamos ao jogo que estávamos a fazer até então, e numa bola parada contra nós, recuperámos a bola junto da nossa área, o nosso “carrillero” direito fez uma condução de bola muito bem conseguida (conduziu até à entrada da área, fixou o defesa, soltou num dos avançados que cruzou rasteiro para o 2º poste onde o outro avançado apareceu a encostar. Estes elementos aqui descritos, fazem parte dos exercícios de treino que nós realizamos para trabalhar as transições ofensivas.

Estava feito o 1-1. 

Depois do golo do empate, estávamos melhor no jogo, a jogar mais em campo do adversário, estávamos a chegar com perigo à baliza adversaria, mas sem ser eficaz.

Aos 15 minutos da 2ª parte, eles fizeram um centro para área, o meu defesa central do meio, disputou a bola com o defesa central direito (adaptado), a bola sobrou para a entrada da área, o mesmo avançado de primeira, sem preparação, disparou para o 2-1.

2 erros, 2 golos sofridos.

Tentámos mexer na equipa com jogadores vindos do banco, jogámos os minutos finais junto da grande área adversária, mas a bola não quis entrar nas várias oportunidades que criámos.

Resumo do jogo, nem sempre a equipa que melhor futebol joga, que mais posse de bola tem, que domina e controla grande parte do jogo, ganha. Mas uma coisa eu tenho a certeza, a jogar assim, estamos mais perto de ganhar mais vezes, e não só o futebol do Líbano sai reforçado mas também o jogador individualmente sai valorizado.


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