Gostamos tanto assim de futebol?

Brás AssunçãoDezembro 7, 20233min0

Gostamos tanto assim de futebol?

Brás AssunçãoDezembro 7, 20233min0
Brás Assunção faz uma reflexão sobre o estado do futebol português e se os adeptos/dirigentes gostam tanto assim do esférico

Nos últimos tempos, tantas ofertas de jogos, vários canais televisivos, streaming e pay-per-views deveriam ser um sonho para quem gosta de futebol. Pelo menos para mim seria. Notem que escrevi seria, porque na realidade, não é! São vários factores que me fazem ficar saturado e a preferir ver ou fazer outras coisas, do que sentar no sofá e ver um jogo de futebol.

O primeiro motivo para tal é a overdose de jogos das várias ligas ao mesmo tempo. Parece que todos os jogos têm que ser transmitidos no mesmo dia, no mesmo horário. E claro, ficamos sempre a ver as mesmas ligas, os mesmos clubes, e os mesmos personagens de sempre.

Para não falar da renda mensal que nos sai do bolso, para poder acompanhar as ligas que mais apreciamos. Acho penoso!

O segundo é a qualidade pífia da nossa liga portuguesa. Onde é mais importante ser polémico, reclamar das arbitragens em todas as jornadas, do que ver o jogo em si. A cultura de ódio enraizada neste país faz com que ser adepto de um determinado clube tenha mais valor do que o amor pelo desporto em si. Onde o fanatismo é doentio, e chega a ser violento a vários níveis. Assim fica difícil gostar de futebol.

Se mudarmos o cenário televisivo para os estádios, o panorama fica ainda pior.Temos uma taxa de ocupação baixíssima, uma das piores da Europa e nada fazem para melhorar isso. Aliás, só pioram a situação.

Quando temos dirigentes que preferem não vender bilhetes às equipas adversárias, para não ficarem em minoria nos jogos em casa, e quando recebem equipas grandes duplicam ou triplicam os preços dos bilhetes. É de uma pessoa desligar-se desta indústria que tanto faz para matar a alegria do futebol.

Até os jogadores, as principias roldanas desta engrenagem, já sentem na pele o peso desta industrialização. Bem sei que são pagos a peso de ouro, e é quase uma forma de garantir o status quo de estrelas Pop, caso aconteça algo de grave.

Porém é inegável o número de lesões prolongadas que os jogadores de topo estão a sofrer, por excesso de jogos. Temos visto o aumento de competições nas datas FIFA, aumento de equipas no campeonato do mundo e campeonato europeu, e até a Champions vai mudar de formato na próxima época, aumentando assim o número de jogos.

Este novo formato vai desgastar mais os clubes de menor dimensão, contribuindo para abrir mais o fosso dos colossos europeus para os demais. Isto em teoria. Mesmo com receitas maiores para todos os envolvidos, esta decisão vai ser sentida em muito pouco tempo, tanto nas ligas europeias, como nas ligas domésticas. Os mais fortes ficarão mais fortes, e os mais fracos com tendência a desaparecer. Existem semelhanças com a Superliga Europeia, porém com outras condicionantes.

Na minha opinião, tão más quanto! Só que desta vez não vejo ninguém a reclamar, e a fazer manifestações em frente aos estádios. Será cegueira colectiva? Ou já estamos fartos de futebol, e a cada dia que passa, estamos mais conformados com a ideia de que o futebol já não é mais nosso, e sim “deles”?

Tudo em prol do entretenimento bacoco e a exaltação das cifras vindas do esforço dos atletas, e da nossa paixão cega por esta modalidade. A corda está a ruir, mas irá partir de que lado? Continuamos a gostar tanto assim de futebol?

https://twitter.com/MarcoRedDevil/status/1384307320419663874


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