O Brasil e a conquista do Sul-Americano de futebol de 1919

Virgílio NetoFevereiro 13, 20184min0

O Brasil e a conquista do Sul-Americano de futebol de 1919

Virgílio NetoFevereiro 13, 20184min0
O Brasil e a conquista do Sul-Americano de futebol de 1919. Como o primeiro título da Copa América foi importante para começar a construção de uma identidade nacional.

Em texto anterior foi dado um panorama sobre o começo do futebol no Brasil e seu desenvolvimento nos primórdios. Em especial, uma referência ao primeiro jogo de sempre de uma selecção (ainda não era “Canarinha”) nacional, em 1914. O crescimento da modalidade, somado ao grande fluxo de entrada de imigrantes durante a Primeira Grande Guerra (1914-1919) torna o futebol cada vez mais presente no cotidiano da nação. Neste sentido, o Brasil resolve sediar o terceiro campeonato sul-americano (actualmente chamado de “Copa América” em sua capital de então: a cidade do Rio de Janeiro. Era o alicerce para o início da construção de elemento importante para a identidade nacional.

A Confederação Sul-Americana fora fundada em 1916, mesmo ano da primeira edição do torneio continental (o mais antigo de sempre), vencida pelos uruguaios. No ano seguinte, outro torneio, novamente vencido pelos orientais. Chegava 1919 e o governo brasileiro trabalhava em torno de um projecto de protagonismo político do país. Uma das acções era o de receber a competição continental de futebol. Nem mesmo a epidemia de “gripe espanhola”, que assolava partes do Brasil,  impediu que sua capital recebesse o evento, no mês de Maio.

Desde o seu início, a formação e convocatória dos brasileiros enfrentou rivalidade entre cariocas (habitantes da cidade do Rio de Janeiro) e paulistanos (habitantes da cidade de São Paulo), as duas principais do país a partir da implantação da República (1889). Para 1919, os seleccionadores (não havia um míster, era um “Ground Committee”) chegaram a um acordo, mesmo com mais atletas de São Paulo sendo convocados.

A campanha foi impecável, com vitória sobre os actuais bicampeões, o Uruguai, por 1 a 0. Todos os jogos foram disputados no “ground” das Laranjeiras (Fluminense Football Club). Nas bancadas, houve inclusive presença em alguns dos jogos do Presidente da República à época, Delfim Moreira. Dentro de campo, o surgimento dos primeiros ídolos dos brasileiros, como Arthur Friedenreich (brasileiro, com mãe de origem africana e avô alemão) que terminou como goleador do certame, e o guarda-redes Marcos Carneiro de Mendonça. A origem étnica e social destes ídolos – o último era membro de uma elite e o primeiro, de origem humilde e multirracial – compunha um discurso de formação do povo brasileiro, que seria muito importante duas décadas mais tarde, e que será tratado em outro artigo.

O Sul-Americano de 1919  foi uma conquista bastante importante não apenas para o futebol do Brasil, mas para o Brasil. Era visto com bastante desconfiança pelos vizinhos, em função do recente passado monárquico e por intervir de maneira agressiva nos assuntos internos dos outros. Ao mesmo tempo, era tido como fechado e exótico aos olhos do mundo, e buscava romper com esta ideia. O triunfo continental era a entrada em definitivo do desperto-rei nos hábitos do povo brasileiro.

Elenco do Brasil (posição/nome/alcunha/clube):

Guarda-Redes: Marcos Carneiro de Mendonça (Marcos), Fluminense FC (Rio de Janeiro)

Guarda-Redes: Dionysio Álvaro dos Santos (Dionysio), Santos FC (São Paulo)

Defesa: Píndaro de Carvalho Rodrigues (Píndaro), CR Flamengo (Rio de Janeiro)

Defesa: Bianco Spartaco Gambini (Bianco), SS Palestra Italia (São Paulo)

Defesa: Luiz Bento Palamone (Palamone), AA Mackenzie (São Paulo)

Meio-campo: Sérgio Pereira Pires (Sérgio), CA Paulistano (São Paulo)

Meio-campo: Arthur Antunes Moraes e Castro (Laís), Fluminense FC (Rio de Janeiro)

Meio-campo: Amílcar Barbuy (Amílcar), SC Corinthians Paulista (São Paulo)

Meio-campo: Armando de Almeida (Gallo), CR Flamengo (Rio de Janeiro)

Meio-campo: Agostinho Fortes Filho (Fortes), Fluminense FC (Rio de Janeiro)

Meio-campo: Álvaro Martins (Martins), América FC (Rio de Janeiro)

Avançado: Luís Maia Bettencourt de Menezes  (Luís Menezes), Botafogo FC (Rio de Janeiro)

Avançado: Adolpho Millon Junior (Millon), Santos FC (São Paulo)

Avançado: Manuel Nunes (Neco), SC Corinthians Paulista (São Paulo)

Avançado: Oscar Cyrillo Carregal (Carregal), Santos FC (São Paulo)

Avançado: Arthur Friedenreich (El Tigre), CA Paulistano (São Paulo)

Avançado: Arlindo Correia Pacheco (Arlindo), SC Corinthians Paulista (São Paulo)

Avançado: Heitor Marcelino Domingues (Heitor), SS Palestra Italia (São Paulo)

Avançado: Haroldo Pereira Domingues (Haroldo), Santos FC (São Paulo)

Avançado: Arnaldo Patusca da Silveira (Arnaldo), Santos FC (São Paulo)


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