Nílson Miguel – “O pior momento foi não conseguirmos ser campeões nacionais”
Nílson, fixo de 25 anos, assume-se como um dos indiscutíveis do SC Braga/AAUM comandado por Paulo Tavares. O FairPlay já o havia destacado como um dos jogadores a ter em conta nesta Liga SportZone (ver aqui). Uma entrevista exclusiva.
O Nílson começou a sua carreira no Sporting, nos Juniores Sub-17. Num País onde o Futebol é Rei e onde o Campeonato Português de Futsal apenas começou em 1990-1991, o que o fez optar por seguir esta modalidade?
Comecei aos 12 anos, no Cacém, no Grupo Socio Cultural Novos Talentos. Comecei a jogar futsal por causa dos meus amigos e também pela proximidade do pavilhão a minha casa, era só atravessar a rua. Aos 16 anos fui para o Sporting, onde terminei a minha formação.
Os seus primeiros anos como Sénior foram vividos no Portela. Como é que acha que a experiência na 2ª e 3ª Divisões Nacionais contribuiu para o seu crescimento como jogador?
Foram muito importantes, quando sai do sporting queria era jogar, então como um amigo meu ia jogar para A.M. Portela também fui. Foi um choque, no Sporting tínhamos as melhores condições para treinar, não nos faltava nada, estamos fechados numa bolha, não tinha a mínima noção da realidade das restantes equipas, neste caso a Portela. Tínhamos de levar o equipamento de treino para lavar em casa, não tínhamos pavilhão próprio, o piso não era o melhor.
No primeiro ano de sénior, estávamos na 3 divisão nacional, praticamente não jogava, estava muito desiludido, mas felizmente tínhamos um balneário muito bom, onde os mais velhos do grupo ajudaram-me bastante e com o tempo fui-me tornando importante no grupo. Nesse ano fomos campões nacionais da 3 divisão.
O que quero dizer com isto tudo, é que já passei muito tempo sentado no banco, já sai muitas vezes do pavilhão chateado com o treinador, mas aprendi que ficar amuado ou arranjar desculpas não é a solução. Muitas vezes os jogadores que jogam menos são dos mais importante para o sucesso do grupo, mas como é obvio ninguém gosta de jogar pouco.
Guarda alguma tristeza de não ter jogado pela Equipa Principal do Sporting CP?
Na altura, fiquei chateado porque todos nós queríamos jogar na equipa principal, mas tinha a plena noção que dificilmente ficaria nos seniores.
Uma equipa que todos os anos luta pelo campeonato e UEFA, não deixa grande espaço para os jovens da formação, e da nossa equipa de juniores ainda ficaram dois jogadores, André Galvão e o Gonçalo Portugal o que foi muito bom.
Chegou ao Braga numa altura em que o clube arsenalista já se afirmava como um dos crónicos candidatos ao Play-off. Quais as maiores dificuldades que sentiu para se afirmar?
A principal dificuldade foi a nível físico: tinha sido operado duas vezes ao joelho, estava parado há mais de um ano e fiz a parte final da recuperação no Braga/AAUM, ou seja, o Braga/AAUM apostou em mim quando pouca gente acreditava.
O estar longe de casa também foi difícil no inicio, mas felizmente o balneário também era muito unido e fui recebido muito bem.
Dos seus 5 anos no Braga, qual o momento que mais o marcou, pela positiva ou negativa?
O pior momento foi não conseguirmos ser campeões nacionais na época passada: tínhamos plena noção da dificuldade, mas não era impossível. Terminamos a época desiludidos, mas com o sentimento de dever cumprido.
Foi uma época muito difícil, desde lesões, alguns jogadores foram acusados de já estarem a pensar na época seguinte pois iam-se embora, não falo apenas dos que foram para o Benfica. Mesmo com as adversidades mostramos que tínhamos um balneário muito coeso e acho que grande parte do nosso sucesso deveu-se a nossa união nos momentos mais delicados da época.
O melhor momento foi a estreia na UEFA Futsal Cup, momento único na carreira de um jogador, não há jogador que não queira estar presente numa competição destas.
O Sporting de Braga/AAUM é uma instituição pioneira em Portugal, aliando o poder dos estudantes enquanto praticantes ávidos de desporto com a experiência das estruturas. Como é trabalhar num clube que abraça para si os estudantes e até os acolhe na equipa principal? Sente que é um modelo sustentável?
É um projeto diferenciador, e esse é mais um dos aspetos que o distingue, por permitir, motivar e incentivar a que os atletas tenham também altos rendimentos escolares.
Creio que é um modelo sustentável do ponto de vista social e pedagógico dado que para além da formação desportiva, também existe um desenvolvimento da parte pessoal que permite que o atleta esteja melhor preparado para ultrapassar os desafios.
De todos os jogadores com quem partilhou a quadra, há algum que considere que esteja um nível acima de todos os outros e cujos voos serão altos?
Acho que o Tiago Cruz vai ser uma das nossas referencias na modalidade.
A sua estreia pela Seleção das Quinas chegou tarde (apenas em Novembro de 2016). Acha que existe alguma dificuldade acrescida para os jogadores fora dos 2 “grandes” em se afirmar como opções válidas e de continuidade?
Não considero que a minha estreia tenha sido tardia, cada jogador tem o seu tempo, uns chegam aos 20, outros aos 30. O importante é estarmos preparados para agarrar a oportunidade, pois não faltam jogadores com qualidade.
Naturalmente os jogadores que estão nos dois grandes, que são profissionais, têm alguma vantagem, cabe-nos a nós equipas que estão num patamar ligeiramente inferior combater essas diferenças, desde o investimento nas equipas seniores e nos escalões de formação.
A época passada foi de sonho para o Braga, com a conquista do 2º Lugar da Liga SportZone e a entrada na UEFA Futsal CUP. Como foi o contacto com realidades futsalísticas totalmente diferentes? Nota-se um nível de profissionalização e de cultura de jogo diferentes de país para país?
Sim, a época passada foi muito boa. Estivemos na ronda de elite da UEFA onde conseguimos a passagem a próxima fase.
A maior dificuldade foi no jogo contra o Inter, eles são claramente superiores, ao mínimo erro eles aproveitam. Nos restantes jogos não achei grande diferença, nós temos um jogo mais técnico enquanto que o Dina e o Maribor têm um jogo mais físico.
Muito se falou da sua saída para o Sporting no final da época transacta. Contudo, Nílson manteve-se fiel à casa-mãe e é agora um dos pilares da equipa liderada por Paulo Tavares. Sente que este casamento será duradouro ou gostaria de experimentar novas realidades futsalísticas?
Sempre me senti muito bem no Braga e muito importante dentro do grupo. Gostaria de experimentar outras realidades mas tudo tem o seu tempo. Em relação ao Sporting, não chegamos a acordo, acontece.
O mister Paulo Tavares é, indubitavelmente, uma referência no Futsal Nacional. Quais as características/ideias que o Nilson considera que Paulo Tavares apresenta e que lhe garantem o sucesso?
Ate agora é o melhor treinador com quem trabalhei. É muito exigente, percebe muito bem todos os momentos do jogo e sabe tirar o melhor dos seus jogadores.
O Futsal em Portugal é uma modalidade em grande expansão e que vem ganhando espaço nos meios de comunicação mais influentes. Considera que o Futsal já foi capaz de se livrar da fama de “Futebol de Salão” para ser entendido e compreendido como uma modalidade totalmente distinta do Futebol?
Ainda somos vistos como o irmão pobre do futebol, mas a evolução da nossa modalidade tem sido muito grande. Todas as semanas temos um jogo da liga Sportzone e da liga espanhola, somos uma das modalidades com mais praticantes em Portugal, temos o melhor jogador do mundo, a nossa seleção está sempre presente nas fases decisivas das grandes competições, as equipas portuguesas são presença assídua na Final Four da Uefa Futsal Cup. Estes feitos ajudam bastante a cimentação do futsal como uma modalidade forte.
Apesar da profissionalização cada vez maior no Futsal Português, são inúmeros os clubes que terminam devido a falta de apoio/verbas. O caso mais recente, e talvez mais estranho, foi o do SL Olivais. Que factores acha contribuírem para estas falências de clubes de sucesso?
Não posso opinar muito sobre o SL Olivais, pois não sei ao certo o que se passou. É importante que os clubes tenham um plano sustentável, quando o orçamento é 10 e as pessoas que tomam as decisões nos clubes gastam 12, é óbvio que a curto/médio prazo vão ter problemas.
Em relação à falta de apoios, o futsal não é sinónimo de lucro para os clubes, o que leva muitas vezes ao desinteresse dos patrocinadores e consequente desinvestimento.
O Nílson tem algum “ídolo” futsalístico que o tenha ajudado a moldar o seu estilo de jogo?
Tenho algumas referências, mas não tenho nenhum jogador que possa chamar de ídolo,
Algum conselho para os jovens futsalistas portugueses que anseiam pela estreia na Liga SportZone?
Se querem jogar na primeira divisão, apliquem-se, pois ter apenas qualidade não chega.
Às vezes as oportunidades aparecem sem estares à espera. Por exemplo, no Braga/AAUM se tiveres qualidade, treinares minimamente bem, aos 18/19 anos o mister põe-te a jogar, 5min ali, mais 5min no próximo jogo. Ou seja, ainda és sub-20 mas já fazes parte do plantel sénior. Mas se não tiveres os pés assentes e se te acomodares, em pouco tempo passas para a bancada e dificilmente voltas a ter a confiança do treinador.