Vice-campeão com honras – o “offload” do Europeu de sub-18

Francisco IsaacOutubro 9, 20215min0

Vice-campeão com honras – o “offload” do Europeu de sub-18

Francisco IsaacOutubro 9, 20215min0
Não foi possível conquistar o título, mas Portugal pode sair animado deste Campeonato da Europa de sub-18 como Francisco Isaac explica

Portugal lutou por um resultado melhor, mas a Geórgia puxou dos galões de campeão (somaram o tricampeonato europeu neste escalão de sub-18) e garantiu o título de vencedor deste Campeonato da Europa de sub-18 2021. Os três destaques de análise ao encontro da final dos jovens Lobos de Miguel Leal e João Uva.

O DESTAQUE: NOS PIORES MOMENTOS SURGIU PORTUGAL

Nunca seria um jogo equilibrado ou que Portugal pudesse contestar o favoritismo da Geórgia, não querendo dizer isto que era impossível sonhar com um título inédito, sabendo-se de antemão das diferenças de preparação, qualidade e dimensão técnica/táctica/física destes lelos sub-18 (pelo menos 10 estiveram envolvidos no tour dos sub-20 à África do Sul). Mesmo quando os georgianos mostraram toda a sua superioridade física, conseguindo empurrar os jovens lobos ou impedir que a maior manha técnica lusa obtivesse o espaço necessário para sair a jogar, os jogadores portugueses não viraram a cara à luta, partiram para cima do adversário, aplicaram uma defesa agressiva e de constante procura de resgatar a oval no breakdown (já lá iremos na secção seguinte), o que permitiu equilibrar, de certa forma, o encontro.

Quando a Geórgia montou os seus imparáveis mauls dinâmicos (obtiveram dois ensaios a partir desta plataforma de jogo), a selecção portuguesa não fraquejou e continuou a arriscar e a tentar implementar a sua estratégia, não receando ir às formações-ordenadas – curiosamente foi mais equilibrado do que se pensaria – ou aos alinhamentos, querendo atingir outro patamar, almejando chegar à área de validação contrária e desferir o dano possível a um superfavorito em título.

A união dos jogadores convocados para este último encontro – Portugal registou algumas baixas após o encontro frente à Espanha, como Guilherme Cortes – foi inspiradora e chegou a cativar o público presente no Estádio FIFA em Kaliningrado, surgindo até excelentes momentos de posse de bola, que levaram a formação contrária a ir ao limite defensivo e até forçar algumas penalidades que, infelizmente, não foram aproveitadas como mereciam. A Geórgia chega ao seu tricampeonato, depois de ter conquistado o título em 2018 (frente à França por 08-03), 2019 (contra a Espanha) e, agora, em 2021.

O MELHOR PONTO: BREAKDOWN VOLTOU A DAR OXIGÉNIO

6 penalidades conquistadas naquela luta intensa, árdua e que força um espírito de sacrífico titânico, que é o breakdown, mostram bem a raça, técnica e vontade dos atletas portugueses em disputar esta final, mantendo o mesmo processo defensivo observado quer frente aos Países Baixos e Espanha, não sendo, por isso, algo fruto do acaso. Sebastião Petronilho, Guilherme Valente, Mateus Ferreira, Alfredo Almeida (entre outros) participaram avidamente neste processo e garantiram sucesso no arrancar penalidades ou turnovers, numa claro sistema defensivo bem esboçado e que chegou a criar irritação à Geórgia, com estes a acabarem por contorná-la e perceber como deveriam fazer a circulação de bola, isto especialmente nos segundos trinta-e-cinco minutos desta final.

A placagem eficaz e dura evitou danos maiores em certas alturas de maior fluidez da operação ofensiva contrária, com Duarte Cortes a controlar com excelência o pack avançado, forçando um constante overlap e recuperação activa pós-placagem, que acabou por ser decisiva para um certo equilibrar na luta pelo território e posse de bola.

Faltou um pouco mais de sorte para os jovens portugueses conseguirem algo mais quando recuperaram a oval, mas a resiliência e mentalidade lutadora deixou sinais encorajadores para o futuro do rugby nacional.

PONTO A MELHORAR: NERVOS PREJUDICARAM O ARRANQUE

Normal que na entrada para este jogo se esperaria alguns nervos, ainda por mais quando do outro lado estava, como já dissemos, uma equipa largamente mais experiente e preparada para lidar com este tipo de encontros, que até este encontro não tinha sofrido qualquer ensaio (só a Bélgica conseguiu aplicar 3 pontos), mantendo a sua área de validação limpa, numa das campanhas mais seguras a nível defensivo que alguma vez aconteceu neste Rugby Europe Championship.

Contudo, não se pode deixar de analisar que o nervosismo geral ofereceu demasiada iniciativa à Geórgia para sair a atacar, principalmente quando os jovens lobos sub-18 efectuaram pontapés pouco lógicos (pelo menos três para o centro do terreno, onde estavam todas as principais unidades do ataque contrário), entradas demasiadamente fáceis de parar e de arrancar uma penalidade, e alguns erros de apoio defensivo e ofensivo, oferecendo tempo e espaço para os seus adversários decidirem melhor o que fazer com a oval.

Um cenário que se esperava e que não pode ser totalmente criticável, pois para todos os convocados para este Europeu de sub-18 foi a primeira-vez que jogaram num ambiente deste género, algo partilhado com outras selecções, como os Países Baixos, Espanha (maioria inexperiente, sendo que três jogadores já actuaram na selecção de 7’s sénior) ou Bélgica. O 2º lugar não é um prémio de consolação, mas sim um sinal forte do crescimento excepcional do rugby nacional que tem mais matéria-prima para continuar a dar alegrias aos adeptos portugueses.


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