Seis Nações 2020 R3: Les Bleus seguem na rota do Grand Slam

Francisco IsaacFevereiro 23, 20207min0

Seis Nações 2020 R3: Les Bleus seguem na rota do Grand Slam

Francisco IsaacFevereiro 23, 20207min0
País de Gales e França proporcionaram um jogo emotivo e, por vezes, altamente surpreendente com os Les Bleus a manterem intacto o sonho de conseguir um Grand Slam!

O que seria Seis Nações sem controvérsia e polémica, recheado de momentos extraordinários e ensaios espectaculares que marcaram a 3ª ronda destas Seis Nações 2020! A França está no caminho para chegar a um glorioso Grand Slam depois de derrubarem os campeões em título em Cardiff!

Os destaques analisados no Fair Play

ESPECTÁCULO POBRE NO OLIMPICO DE ROMA

Itália e Escócia engajaram num jogo extremamente físico e “fechado”, que acabou por dar vitória para os homens de Gregor Townsend graças inicialmente a um ensaio genial de Stuart Hogg… este seria o resumo em uma frase de um jogo com pouca história para se contar, e isto deveu-se ao facto de ter sido mal jogado na sua essência com ambas as selecções a revelarem um excessivo nervosismo no que toca ao controlo e transmissões da oval, na gestão da mesma no breakdown ou no simples conseguir garantir boas plataformas para o ataque a partir das fases estáticas.

No final dos 80 minutos saiu vencedora a equipa mais madura e com capacidade em dominar o encontro nos períodos de maior stress, não esquecendo as exibições individuais estrondosas de Stuart Hogg, Adam Hastings e Hamish Watson, catapultando os comandados de Gregor Townsend a sair de Roma com uma preciosa vitória, evitando assim a Wooden Spoon de 2020. Hogg foi responsável pelo primeiro ensaio do jogo, numa arrancada estratosférica e imparável sem placador a altura, apesar da tentativa de Polledri (mais 17 placagens do asa, sem esquecer os dois turnovers) e Steyn em caçarem o nº15 sem vão, diga-se.

A Escócia foi compacta na defesa, evocando uma série de placagens eficazes e extremamente dominantes que silenciaram de certa forma jogadores como Minozzi, Bellini (ainda assim foi dos mais inconformados com três quebras-de-linha, uma das quais mal aproveitada no seu término) ou Hayward durante grande parte do encontro, sendo para já uma das (poucas) imagens de marca dos escoceses nesta edição das Seis Nações 2020. Do lado da Itália há pouco a dizer… voltaram a ter momentos de grande lucidez, onde a defesa fazia a diferença junto da área de ensaio ou nas boas saídas da área de 22, mas faltou consistência e equilíbrio nas operações, especialmente no que concerne ao ataque. Tommaso Allan e Carlo Canna conseguem jogar juntos, mas falta algo mais para dar elevar os italianos para outra esfera a nível de qualidade de jogo.

Hogg voltou ao seu melhor, mas a Escócia ainda gagueja na condução do ataque… faltam jogos contra o País de Gales e França e veremos o que Townsend consegue oferecer aos seus adeptos.

CONFUSÃO, KO’S, INTERCEPÇÕES E EMOÇÃO AO RUBRO

Comecemos pelo fim… aquele turnover de Camille Chat foi ou não o momento do jogo? Claro que houve aquela intercepção de Romain Ntamack a um passe mal produzido de Nick Tompkins ou aquele passe por detrás das costas de Johnny McNicholl, mas o turnover do talonador suplente naquele último suspiro do jogo foi extraordinário, tanto porque impôs um ponto final num avanço frenético do País de Gales como pela excelência defensiva do atleta dos Les Bleus na luta no breakdown.

Foi intenso, suado e enervante, com os atletas de ambos os países a envolverem-se constantemente em pegas e acessos debates, com Dan Biggar (exibição estupenda do abertura, que merece o destaque de MVP a par de Romain Ntamack e Virimi Vakatawa) a ser a cara da frustração galesa no final do encontro.

Quem merecia ganhar? Ambos. A França pela primeira-parte que produziu, com uma defesa caprichosa e fria sempre pronta a reorganizar-se mesmo que estivesse em cima da linha da ensaio como aconteceu entre os 38 e 45 minutos (o jogo prolongou-se pela “insistência” do País de Gales) e com ataque altamente aproveitador e mordaz, sempre a espreitar o contra-ataque; o País de Gales pelos segundos quarenta minutos, somando 17 pontos revelando uma faceta ofensiva de maior risco e de expansão diferente ao que tinha habituado os seus adeptos, com dinamismos bem interessantes no ataque.

Contudo, erros pagam-se caro e o País de Gales acabou por ser o seu maior rival dentro de campo, com perdas de bola no contacto, facilitismo no apoio ao ruck (Le Roux, Alldritt ou Willemse foram metendo as mãos à oval no momento certo) e passes mal direcionados, um dos quais que acabou nas mãos de Romain Ntamack… esse erro de Tompkins acabou por ser irrevogável e mortal no final das contas, de nada valendo o crescendo naqueles 15 minutos finais do jogo.

A França voltou a ser dominante nas placagens, com 34 de um total de 204, o que confere sempre aquela dose de motivação extra em jogos disputados até ao último segundo… o Grand Slam está a dois jogos de distância e basta aos Les Bleus manterem esta postura e mentalidade para conseguirem quebrar a malapata dos últimos anos. Para o País de Gales agora é altura de lutar para não ficar nos últimos lugar da competição, apesar desse cenário ser improvável.

EDDIE JONES 1… ANDY FARRELL 0!

Domínio. Esta é a palavra que mais se fez ouvir entre adeptos, comentadores e antigos jogadores após o apito final de Jaco Peyper com a selecção inglesa a controlar por completo o jogo frente aos seus rivais irlandeses. Uma defesa altamente dura, agressiva e de profundo impacto foi manietando os parcos processos ofensivos da Irlanda, que nunca soube sair do “bolso” da estratégia defensiva montada por Eddie Jones.

Maro Itoje, Sam Underhill, Owen Farrell e Kyle Sinckler foram das principais unidades no que toca a impor uma brutalidade total na hora de placar, carregando alguns jogadores do Trevo para trás com uma facilidade tal, que acabou por contaminar a forma de jogar e pensar dos homens de Andy Farrell, ficando isso claro com o gaguejar constante de Jonathan Sexton, Conor Murray ou Robbie Henshaw. Veja-se em específico algumas das acções individuais de Maro Itoje, em específico aos 70 minutos de jogo altura em que o segunda-linha lança-se num tackle inteligente que arrancou no último a oval da posse do portador de bola, pondo fim a uma acção do ataque adversário já dentro dos 22 metros.

A intensidade física defensiva inglesa só foi superiorizada pelo domínio demonstrado no ataque, colocando constantemente pressão seja pelo jogo ao pé (George Ford, Owen Farrell e, especialmente, Ben Youngs foram mestres nos pontapés, dois dos quais acabaram em ensaios da Inglaterra) ou no manuseamento da oval onde Manu Tuilagi, Tom Curry ou Courtney Lawes assumiram protagonismo no entrar no contacto, expondo a alguma passividade da defesa irlandesa que foi forçada a colocar dois ou três placadores envolvidos em acções defensivas, “auxilando”assim a Inglaterra.

A Selecção de Sua Majestade foi uma vencedora 100% justa realizando uma das suas melhores exibições nos últimos 12 meses, demostrando que afinal Eddie Jones ainda sabe impor o seu plano de jogo mesmo que seja contra uma selecção tão irrequieta como esta “nova” Irlanda.

REGISTOS DA 3ª RONDA

MVP da Ronda: Adam Hastings (Escócia) – 1 ensaio, 2 assistências, 100 metros conquistados, 2 quebras-de-linha, 10 defesas batidos e 10 placagens (65% eficácia);
Placador da Ronda: Sam Underhill (Inglaterra) – 24 placagens (98% eficácia), 2 turnovers e 5 placagens dominantes;
Melhor Marcador da Ronda: Dan Biggar (País de Gales) – 18 pontos (1 ensaio, 2 conversões e 3 penalidades);


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