Seis Nações 2018 Ronda 3: Sua Majestade, a Escócia revoltou-se!

Francisco IsaacFevereiro 25, 20189min0
E quem adivinhava que a Inglaterra ia ao tapete em Murrayfield? O Fair Play analisa as Seis Nações 2018 Ronda 3 com a revolta escocesa na mira!

SEXTON FALHA AO PÉ, MAS REINA À MÃO!

Um detalhe pelo qual ninguém esperava é de que Johny Sexton não cumprisse a sua missão de chutador no encontro frente ao País de Gales, uma vez que em toda a competição só tinha falhado um único pontapé (frente à França na 2ª parte). O médio de abertura falhou cerca de quatro pontapés, divido em duas conversões e duas penalidades, perfazendo um total de 10 pontos que a certa altura do encontro fizeram muita falta à Irlanda.

Mas se nos pontapés aos postes Sexton não foi formidável, no jogo à mão foi soberbo galgando metros com a oval nas mãos, “inventou” espaços para assistir os seus colegas, meteu a equipa a andar a um ritmo alto e não parou de dar ordens e exigir o melhor dos seus companheiros. Estas Seis Nações 2018 têm sido o regresso de um Sexton em super forma, disciplinado, motivado e altamente carismático o que dá outro timbre ao jogo da Selecção do Trevo.

A forma como o nº10 decidiu levar a equipa para a frente em vários momentos do jogo foi inspiradora e desafiadora, colocando o País de Gales a correr para trás, tentando perceber como e onde aplicar pressão defensiva, notando-se alguma incompreensão perante os movimentos ilegíveis de Sexton.

Veja-se aquele seguir rápido do nº10 na segunda-parte, em que invés de optar por chutar aos postes ou ir para o alinhamento, pega na bola, segue rápido e põe os galeses em apuros.

E que dizer da sua participação na defesa? Um dos momentos da tarde vai para aquele “roubo” no breakdown, lançando rapidamente Conor Murray, com o formação a encontrar Earls abrindo uma brecha na equipa visitante que quase deu ensaio.

Este foi um momento fundamental do encontro, pois o País de Gales tentava a todo custo chegar ao ensaio da reviravolta. Sexton não só negou essa possibilidade, como deu início à tal jogada.

Jogo fenomenal de um dos melhores nº10 do Mundo, inspirando a sua Irlanda para um vitória totalmente justa frente ao País de Gales.

DUAS ITÁLIAS, O MESMO RESULTADO

A Itália atirou pela “janela” a possibilidade de fugir à Colher de Pau das Seis Nações em 2018 e só tem de se culpar a si mesma. 16 penalidades (o máximo nesta edição da competição), 13 erros próprios, três alinhamentos perdidos (dois dos quais nos 22 metros franceses) e um cartão amarelo são pormenores mais que suficiente para arrumar com qualquer estratégia que Conor O’Shea teria para o encontro em Marselha.

No primeiro jogo da França nesta cidade, a Itália só “assustou” nos primeiros 40 minutos, em que esteve mesmo na frente do resultado até aos 30 minutos de jogo, porventura de um ensaio de penalidade após um derrube deliberado de maul por parte dos Les Bleus.

Esse 7 pontos chegaram aos 10 minutos de jogo e parecia, na altura, que a Itália iria exercer uma grande pressão sobre as linhas atacantes francesas, em especial sobre o trio-de-trás liderado por Bonneval.

Infelizmente, esse ensaio parece que “adormeceu” mais do que espicaçou, com os italianos a entrarem num ritmo de erros (a quantidade alarmante de maus passes ou de bolas perdidas no contacto são preocupantes) e faltas (continuam a insistir em disputar rucks que já estão perdidos ou caírem no fora-de-jogo defensivo) que deram vida à equipa da casa.

A França fez um jogo “cinzento”, muito longe do rugby apresentado em Murrayfield há 2 semanas atrás, com falhas de combinação, passes mal feitos, bolas largadas para a frente e deficiente postura atacante. Isto é fruto das alterações que Jacques Brunel foi forçado a fazer após os distúrbios ocorridos na viagem à Escócia tendo que se socorrer de várias opções “B” e “C”, mesmo que isso baixasse o nível de qualidade de jogo da França.

A Itália não soube aproveitar esta oportunidade para tentar fugir ao último lugar, sucumbindo a um rugby muito débil e pouco prático que só ajudou a França a respirar um pouco melhor e a tomar a vitamina necessária para se motivarem até ao final da competição.

PERDE A INGLATERRA REGRESSAM OS ARAUTOS DA DESGRAÇA

É inacreditável a quantidade de analistas/comentadores que surgiram mal Nigel Owens apitou para o final do encontro entre Escócia e Inglaterra, com cada um a apresentar as suas observações, críticas, dúvidas e questões perante a derrota inglesa em terras escocesas. O que é ainda mais inacreditável por um lado é a falta de coerência nas análises e por outro a argumentação defeituosa que existe numa boa parte dos novos críticos de Eddie Jones e Cª.

A Inglaterra teve um jogo muito abaixo do esperado, em especial no capítulo de apoio ao portador da bola (12 turnovers, 8 dos quais resultaram em penalidades para a Escócia) e na abordagem ao breakdown, que se pode explicar por uma entrada a “frio” e sem o mesmo capricho que já nos tinha habituado.

Notou-se em certos momentos que os jogadores ingleses estavam mais preocupados em estar nas linhas atrasadas à espera de “bola”, invés de executar os básicos de ataque que Eddie Jones tinha implementado.

O seleccionador inglês foi o primeiro a assumir a culpa no final do jogo, afirmando que o próprio tinha feito a abordagem errado ao jogo, em que esperava outro tipo de jogo por parte da Escócia… a reacção rápida no breakdown, a agressividade na placagem e turnover, a subida rápida não directamente a George Ford mas às opções de ataque tiraram possibilidades de ataque por parte dos ingleses.

Houve outro pormenor que foi notado: o desespero ofensivo da Inglaterra nos últimos 15 minutos de jogo. Ora a bola ia de um lado ao outro, com poucos metros conquistados, sem que a Escócia abrisse espaços ou consentisse faltas… foi inacreditável a falta de opções, mesmo com Owen Farrell a jogar na posição de 10 (excessivamente estático e “preso”) nunca encontraram um caminho claro para a área de ensaio da Escócia.

As críticas vão caindo a cada minuto, sendo que há algumas impressionantes como a da lenda de Clive Woodward (seleccionador inglês entre 1997-2004 e dos British and Irish Lions em 2005) a Dylan Hartley dizendo que não percebe como é que o talonador saiu do campo aos 55′ quando devia ter ficado no campo, uma vez que é o capitão.

Esta crítica pode ser só em jeito de criar “conversa” pois o talonador inglês sai, geralmente, por volta ´dos 52-60 minutos de jogo (isto avaliando os últimos 10 jogos da Inglaterra). Mais, a posição de primeira-linha é a primeira a ser rodada, uma vez que é necessário repor “forças” neste sector a partir de certa altura… é como uma ida às boxes na F1.

Criticar por criticar não serve… dizer que a Inglaterra num dia perfeito ganhava o jogo, é tão válido como dizer que a Escócia num dia perfeito também tinha-o ganho (que ganhou, mas não fez um jogo imaculado). Usar frases clichés para tentar descrever o jogo inglês ou concluir a análise não é ideal para a modalidade.

A Inglaterra ainda depende de si para ganhar as seis Nações, basta ganhar à França em Paris e em casa ante a Irlanda. O Mundo não acabou ontem, a Inglaterra não passou a ser “terrível” e Eddie Jones não passa de bestial a besta.

A DIFERENÇA QUE FAZ EM TER A 3ª LINHA IDEAL, ESCÓCIA!

A Escócia está bem diferente no espaço de três jogos, correcto? Como? O jogo com o País de Gales (em que o Fair Play avançou com uma hipótese de leitura e explicação para a derrota nesse encontro) foi uma mistura de erros, má estratégia e a ausência da postura/concentração correcta, que resultaram naquele resultado avolumado em Cardiff.

Com a Inglaterra a vontade de provar que ainda estavam vivos foi uma das suas maiores forças, realizando um dos melhores jogos a defender dos últimos anos. 141 placagens em 162 tentativas, com 100% de eficácia entre os 40 metros e a área de ensaio (o ensaio de Farrell não nasce de uma falha de placagem, mas sim de uma linha de corrida de grande nível do centro inglês).

No encontro com os galeses a introdução de Cornell Du Preez foi um erro de Gregor Townsend, uma vez que o nº8 do Edinburgh não estava preparado mentalmente ou fisicamente para o jogo, evidenciando-se um eclipsar por completo desse encontro. Com a entrada de Ryan Wilson deu-se outra combinação na terceira-linha, com o escocês a ter outros atributos na luta pelo breakdown, assim como na assistência na linha de defesa.

Hamish Watson continua na sua senda de ser um “ladrão” da melhor espécie possível, com vários roubos no ruck, para além de “empatar” com a velocidade de jogo de uma equipa… que o diga Danny Care que nunca teve a paz necessária para sair a jogar de forma veloz. A juntar a estes dois, o capitão da Escócia foi, para nós, o MVP do jogo com a Inglaterra (Finn Russell foi outro dos destaques, para além de Huw Jones), realizando três turnovers, forçando duas penalidades aos ingleses, assumindo-se como um dos melhores placadores do encontro.

A avançada escocesa deu outra vida ao jogo, completamente “renovados” da sua queda com o País de Gales. Jonny Gray (24 placagens, volta a fazer uma exibição triunfal), Stuart McInally e Grant Gilchrist são outros nomes a destacar… para além de WP Nel, o primeira-linha que mal entrou conseguiu forçar uma penalidade numa formação-ordenada.

Será que ainda conseguem fazer o impensável?

Dois dos vários turnovers da Escócia


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