Portugal segue para o bronze no Mundial – A Bola Rápida do World Trophy
Portugal passa em 2º lugar na fase-de-grupos com 8 pontos, depois de muito defender e castigar os atacantes uruguaios que ficaram “loucos” pela forma como não conseguiam furar pela linha de vantagem lusa. Um 26-15 prova que os jovens lobos sub-20 estão num patamar elevado da evolução enquanto atletas e agora marcam viagem para o encontro do 3º/4º lugar.
Entre penalidades, amarelos e um vermelho, Portugal foi paciente, lutou, demonstrou os argumentos que levaram esta equipa a sagrar-se campeã europeia por duas vezes nos últimos dois anos.
Esta é a Bola Rápida do Fair Play!
PLACAR, PLACAR… É A NOSSA FORMA DE RESPIRAR – 7 PONTOS
Se contra as Fiji Portugal falhou em momentos decisivos no que toca à placagem, já contra o Uruguai não aconteceu o mesmo, muito pelo contrário. Vejam-se os últimos 10 minutos para perceber que toda a pressão uruguaia só resultou em ensaios após uma série de faltas e/ou fases. Pouco depois perderam mesmo a possibilidade de encurtarem a vantagem para 20-26, quando se desfazem do controlo da oval no alinhamento.
Mesmo antes do 2º ensaio do Uruguai aos 31′, os comandados de Luís Pissarra aguentaram 10 fases de jogo dos teritos para arrancarem a bola no breakdown, um dos nove turnovers conquistados durante todo o encontro. Foi um dia excepcional de placagem, onde denotou-se uma boa comunicação na defesa ao largo como junto ao ruck, apresentando a postura e técnica correcta na hora de encaixar o ombro, meter as pernas a trabalhar e de colocar o adversário no chão.
Nos primeiros 10 minutos, destacou-se o equilíbrio a meio do terreno, com os albicelestes a converterem os primeiros três pontos… depois foi a vez dos portugueses terem tido a oportunidade de marcar pontos através de penalidades, mas João M. Lima não conseguiu transformar os dois pontapés que dispôs.
Sempre que o Uruguai tinha a oval em seu poder faziam um bom jogo de entrada directa, para arriscar numa inversão ou sequência rápida para os dois homens mais afastados na ponta, forçando Portugal a esticar a defesa e a confiar no colega do lado na hora de não só placar mas de armar o ruck. A estratégia dos teritos saiu gorada, quando as Quinas recuperaram a oval no contra-ruck ou forçaram um erro de handling na retirada da oval do chão.
Foi exemplar como todos placaram… note-se ao minuto 36′, uma placagem dura do médio-de-abertura de Portugal impedindo o adversário não só de percorrer mais metros, como inviabilizou um offload perigoso. Houve, acima de tudo, cuidado e atenção em como tinham de defender, para depois adicionarem a típica agressividade e resiliência que estes sub-20 de Portugal têm habituado os espectadores.
Luís Pissarra tem invocado que o segredo de Portugal passa principalmente pela forma como defende, responde no contra-ruck, faz pressão rápida sobre o portador da bola ou reage nas “invenções” do adversário.
Contra o Uruguai esse segredo veio ao de cima e deu o alento necessário para os lobos passarem ao 3º/4º lugar. Destaques para Nuno Mascarenhas incansável na hora de placar e reagir logo de imediato, João Fezas Vital sempre activo nas bolas rápidas dos teritos tendo vestido o “fato de bombeiro” por mais de quatro ocasiões, a dureza dos pontas Duarte Pinto Gonçalves e Diogo Cardoso ou no trabalho contínuo de Manuel Peleteiro durante os 80 minutos.
RECONHEÇAM A FORMAÇÃO ORDENADA PORTUGUESA – 5 PONTOS
Várias questões surgiram a seguir aos jogos frente ao Canadá e Fiji sobre a qualidade e valências da formação-ordenada portuguesa, colocando sérias dúvidas que a mesma resistisse aos experts do Uruguai no último jogo da fase-de-grupos. Contudo, ao fim de 80 minutos é talvez hora de reconhecer que não só existe mérito no trabalho feito como há-que reconhecer a evolução fenomenal da qualidade da formação-ordenada portuguesa, cada vez mais vista como uma força e não como uma “fraqueza”.
Estatísticas: Uruguai fez quatro penalidades na FO, enquanto que Portugal fez uma e consentiu dois pontapés-livres por encaixe antes do tempo; Uruguai só por uma vez conseguiu ganhar cerca de dois metros na FO, já Portugal não só conseguiu forçar os teritos a recuar 5 metros como marcou um ensaio de penalidade na 2ª parte. Ao seja, os Lobos foram sem dúvida alguma mais fortes nesta fase-estática, impondo sérios problemas aos seus adversários durante toda a fase-de-grupos.
O trabalho do cinco da frente foi, mais uma vez, de qualidade com João Francisco Lima, Nuno Mascarenhas e José Pimentel a começarem bem com um encaixe de qualidade para pressionar logo os seus homólogos uruguaios. Com Manuel Peleteiro e Sebastião Silva (bom jogo do 2ª linha) a darem o segundo toque, deu-se um trabalho dos 5 de elevado nível que a 3ª linha só teve de dar um empurrão assertivo para assegurar o sucesso da FO portuguesa.
Importante o trabalho de Martim Cardoso enquanto voz de comando, corrigindo pequenos detalhes para extrair um equilíbrio e segurança maior na saída da bola ou na pressão defensiva.
A somar ao quase perfeccionismo na formação-ordenada, também houve um alinhamento de alto nível… o Uruguai perdeu no “ar” três bolas para uma de Portugal, enquanto que as Quinas deixaram-se “apanhar” na defesa de maul dos teritos para perder a posse da oval. Mais uma vez, toda a avançada demonstrou o seu compromisso em executar o plano de ataque desenhado, não abrindo espaço para grandes erros, sobretudo nos momentos de jogo mais frenéticos e problemáticos.
DISCIPLINA PODE CUSTAR PONTOS… E VITÓRIAS – 3 PONTOS
Demasiadas faltas e demasiados cartões, dois problemas que tanto tiraram algum espaço de manobra a Portugal como motivaram os jogadores a unir-se ainda mais para lutar contra uns teritos que ameaçavam marcar ensaios a cada nova penalidade. Três amarelos por faltas anti-desportivas, com o placador a não sair do caminho de forma célere (infelizmente, continua a existir um problema de percepção dos árbitros e de quem interpreta as leis, pois nem sempre um jogador consegue sair por ter o joelho ou pé presos) que o Uruguai nunca aproveitou como deve ser, muito pela defesa aguerrida, eficaz e ágil das Quinas.
Contudo, as várias penalidades na primeira parte foram um problema para a selecção treinada por Luís Pissarra, pois tanto os afastou dos 22 metros como ainda deu oportunidade ao Uruguai de fazer pontos ao pé. Se no 1º e 2º jogo denotou-se uma disciplina mediana, já neste teve altos e baixos, com um pico de penalidades a meio da primeira parte, para depois estabilizar e jogar sem recorrer à bola presa ou à placagem alta.
Com a saída do primeiro amarelo para o Uruguai por falta no chão (placador não só placou alto como atrasou deliberadamente a saída da bola quando faltavam cerca de 5 metros para a área de validação) abriu as portas para os restantes que se seguiriam nos segundos 40 minutos.
Na segunda metade do encontro, os portugueses reencontraram-se e voltaram a usar a disciplina a seu favor, deixando para o Uruguai uma constante “guerra” com o juiz de jogo que resultaria em penalidades e cartões. Todavia, a segunda expulsão temporária foi para Portugal com David Costa a sair do jogo por 10 minutos depois de um encosto ilícito na sequência de um up and under do Uruguai.
Nuno Mascarenhas leva amarelo por disputa ilegal no ruck e pouco depois também Manuel Pinto sofre do mesmo destino. Houve uma vontade de arriscar no breakdown, de criar problemas aos adversários e na limpeza dos rucks, mas por vezes o risco cria sérios problemas disciplinares e a questão do timing é essencial neste ponto.
Mas, e ao contrário do que aconteceu as Fiji, os lobos tiveram mais cabeça e paciência e mesmo com menos dentro de campo conseguiram recuperar o controlo da oval no ruck e alinhamento, para voltar a meter pressão nos seus adversários. Terminariam o jogo dentro dos 22 metros do Uruguai, um sinal claro de que quando há “oxigénio” a fluir tudo se torna mais fácil.
NOTA FINAL – 15 PONTOS
ASPECTOS POSITIVOS: placagem foi essencial para a vitória, denotando-se eficácia tanto jogo no jogo ao largo como curto; reacção ao ruck onde foi vislumbrada uma boa resposta no breakdown; ensaios apareceram nos momentos certos, aproveitando 5 das 12 ocasiões que conseguiram montar tanto através de penalidades ou jogadas; formação-ordenada foi novamente uma valência, colocando serás dificuldades ao Uruguai na hora de saída do 8; comunicação sempre activa, com destaque para a boa leitura das linhas atrasadas; trabalho de qualidade do três-de-trás, onde Gabriel Pop foi excelente na saída com bola e no emparelhamento com os seus colegas das linhas atrasadas; defesa foi extraordinária nos pontos-chave do jogo; banco de suplentes trouxe qualidade e intensidade necessária;
ASPECTOS NEGATIVOS: Disciplina foi um caso complicado na 2ª parte, com três amarelos que criaram dificuldades na gestão de bola e na defesa; por vezes o apoio ao portador da bola esteve longe, dificultando a missão de Martim Cardoso em dar sequência rápida ao jogo; pontapés falhados aos postes continuam a ser um problema, apesar da qualidade dos pontapeadores; perdas da oval dentro do maul ofensivo resulta de uma falha na linha-de-montagem do mesmo;
PORTUGAL: 1- João F. Lima, 2- Nuno Mascarenhas, 3- José Pimentel, 4- Sebastião Silva, 5- Manuel Peleteiro, 6- Manuel Nunes, 7- João F. Vital (cap), 8- Duarte Costa Campos, 9- Martim Cardoso, 10- João M. Lima, 11- Duarte Pinto Gonçalves (3), 12- Gonçalo Santos, 13- Rodrigo Marta, 14- Diogo Cardoso e 15- Gabriel Pop (5)
Suplentes: 16- David Costa, 17, José Sarmento (5), 18- Filipe Granja, 19- Pedro Ferreira, 20- José Roque, 21- Manuel Pinto, 22- Manuel Marta (5), 23- Duarte Azevedo, 26- Francisco Costa Campos
ensaio de penalidade após formação-ordenada na 2a parte
Equipa Técnica: Luís Pissarra (Seleccionador), António Aguilar (Treinador), Verónica Rodrigues (Team Manager), António Ferreira (Médico), Paulo Vital (Fisioterapeuta) e José Paixão (Analista)