O diferencial Barrett (e McKenzie) – Ronda 6 Super Rugby 2018

Francisco IsaacMarço 25, 20187min0
Hurricanes e Chiefs bem podem agradecer o factor e diferencial Barrett e McKenzie! O Super Rugby está ao rubro e ainda só estamos na ronda 6!

IRMÃOS BARRETT DÃO VITAMINA X PARA O CENTENÁRIO DE PERENARA

E já não há equipas imbatíveis na Nova Zelândia, com a queda dos Highlanders no Westpac Stadium em Wellington, casa dos super Hurricanes dos irmãos Savea e Barrett. A formação que foi campeã em 2016 impediu que os “espirituosos” Highlanders conseguissem sequer marcar o ponto de bónus defensivo, num jogo que teve momentos bons, muito bons, menos bons e maus.

Mas vamos ao tema que nos interessa: o que é que os irmãos Barrett fizeram desta vez? O mais velho, Beauden, marcou um ensaio de 50 metros, aproveitando um pontapé de Ben Smith que foi parar à sua bota, com o abertura a dar um kick de resposta, agarrando a bola na sequência… já ninguém o conseguiu apanhar.

Jordie Barrett, por sua vez, demorou a entrar no jogo, mas sempre que encontrou algum espaço desferiu o “terror” na defesa dos Highlanders, abrindo boas linhas de ataque para Julian Savea, Ben Lam (mais dois ensaios para o ponta ex-7’s da Nova Zelândia) ou Matt Proctor entrarem e ganharem metros.

O ensaio de Vince Aso (vale a pena reverem a jogada e o finisher do ponta) nasce da genialidade e velocidade de Jordie, que consegue agarrar dois adversários e fugir a ambos para abrir o “buraco” para Aso.

Foram 19 pontos que saíram directamente das mãos e pés dos irmãos Barrett, seja por pontapés de conversão, penalidades (Jordie meteu um pontapé dos 50), ensaios ou assistências para esse fim.

As combinações entre ambos não foram as melhores, com alguns passes mal “desenhados”, mas sempre que conseguiram encontrar uma boa linha de passe foi complicado pará-los. Com o decorrer da competição será curioso perceber o que pode nascer desta super combinação entre os Barrett, pois os Hurricanes bem que precisam desse diferencial nos jogos grandes.

TJ Perenara agradeceu esta entrega de Beauden e Jordie, naquele que foi o seu jogo nº100 no Super Rugby.

CONQUISTAR O JAPÃO COM O “CHEFE” MCKENZIE AO LEME

Os Sunwolves lá sofreram a primeira derrota humilhante da temporada frente a uns Chiefs que só tiveram olhos para o ataque, como provam os 681 metros conquistados, 25 quebras-de-linha e 21 defesas batidos. No meio disto tudo, o grande responsável foi Damian McKenzie que terminou o jogo com dois ensaios marcados e mais duas assistências.

O defesa que se está a ambientar à posição de médio-de-abertura foi dos principais instigadores do ataque da equipa de Hamilton, com uma série de fugas e corridas que deixaram a defesa dos nipónicos com as voltas trocadas e sem reacção possível. Mas como se explica o desnível no resultado, que vai para além da diferença de qualidade entre plantéis?

Os Sunwolves quiseram jogar olhos-nos-olhos, ou seja, tentaram jogar com uma defesa mais ao largo, expondo-se desta forma a possíveis ataques individuais. Mas esse medo dos pormenores individuais teriam de ser “eliminadas” pela eficácia na placagem. Sem ela toda a estratégia de Jamie Joseph ruiria.

O pior cenário acabou por acontecer, já que os japoneses mostraram-se pouco eficazes na hora de caçar o adversário e metê-lo no chão.

McKenzie abusou deste aspecto, ao perceber que a placagem dos japoneses não era infalível, arriscando num belo side-step de classe mundial, para além daquela visão de jogo sensacional que faz parte de um longo reportório de truques e tácticas do defesa/abertura.

Os Chiefs foram apostando no ataque directo, com boas movimentações e combinações, abrindo espaço para conseguirem chegar quase à dezena de ensaios num resultado que terminou em 61-10 a favor dos neozelandeses e, mais uma vez, com 13 jogadores lesionados. Será que os Chiefs vão longe nesta edição do Super Rugby?

SHARKS… QUANDO OS BÁSICOS NÃO ENTRAM, NÃO HÁ EXIBIÇÃO QUE SALVE

Os básicos no rugby não são uma “conversa” ou “lenga lenga” para que os jogadores e adeptos achem importante de se saber fazer as coisas mais básicas antes de avançarem para o nível seguinte. Os Sharks são o caso de uma equipa que não está a seguir os básicos do rugby ou o fazer o mais simples para depois tentar o mais complicado.

12 penalidades, a maioria por infracções “infantis” como as típicas “mãos no ruck” ou foras-de-jogo de quase meio metro, abriram espaço para os Rebels construírem uma boa plataforma para a vitória, já que metade dessa dúzia de faltas garantiram 20 pontos para a equipa da casa (duas penalidades convertidas e um alinhamento e uma jogada rápida que resultaram em ensaios convertidos).

Só o 5 da frente dos “tubarões” cometeram 7 penalidades nos primeiros 40 minutos, e nenhuma delas foi em fases estáticas… algo não está bem na forma física da formação de Durban nesse aspecto.

Para além disso, os Sharks consentiram 24 erros próprios, com maus passes (seja para o chão ou para a frente), perdas de bola no contacto, rucks mal defendidos que facilmente foram “varridos” pelos australianos.

Não existiu vontade de fazer as coisas mais simples, com o jogo da equipa de Durban a não conseguir assentar, levando aos “tubarões” sofrer um autêntico vendaval às mãos dos Rebels, que não fizeram um jogo excelente, mas foi suficientemente bom para ganharem com ponto de bónus.

É o terceiro jogo que os Sharks cismam em cair nos detalhes mais básicos, com uma falta de primor nos Bê-à-Bá do rugby, apesar de terem uma equipa cheia de potencial (Curwin Bosch, Jean Luc du Preez, Makazole Mapimpi, entre outros) e de já terem conseguido fazer uma grande exibição ante os Lions logo na 1ª ronda.

DE BRUIN… AO TAPETE?

Primeira pergunta que fazemos aos adeptos dos Lions: dores de crescimento? Ou início de uma (breve ou profunda) crise? Na verdade, ainda é cedo para responder a estas questões mas os últimos três resultados são preocupantes.

Veja-se a percentagem da placagem nos últimos três jogos: frente aos Blues (derrota) 72%; contra os Sunwolves (vitória por dois pontos), uns pobres 64%; e na derrota em Buenos Aires, 81%. Ao todo foram 95 placagens que falharam o alvo, algo que não era nada comum para estes Lions.

Na Argentina, frente à equipa da casa os Lions tremeram a partir dos 35 minutos expondo o “flanco” por várias vezes, com os pontas a trabalhar mal (Dyantyi e Mahuza têm apresentado erros na área de leitura defensiva e uma má postura na placagem) e a terceiralinha a consentir espaços que não são nada normais para estes vice-campeões (Warren Whiteley faz uma falta monumental na coordenação e liderança no pack).

A equipa dos Jaguares foi sempre mais aguerrida, trabalharam com outra eficácia e foram sobretudo eficazes nos últimos 30 metros do terreno. O mais inacreditável é que os argentinos cometeram o dobro das penalidades do que os Lions, mas mesmo assim terminaram com um 49-35 a seu favor.

Boffelli esteve (mais uma vez) irrepreensível com a bola nas mãos com dois ensaios em 85 metros conquistados, Javier Desio está a fazer o papel de Facundo Isa de forma formidável (é um daqueles 8 que não pára na primeira placagem, tendo uma percentagem de tackle busts, isto é de “placagens quebradas”) e Nicolas Sánchez está de regresso ao seu melhor com a bola nas mãos e pés (19 pontos neste jogo).

Os Lions foram menos equipa e mais individualidades, os Jaguares foram menos individualidades e mais equipa e o resultado final explica, em parte, o impacto de ambas as posturas. Há futuro para estes Lions de De Bruin? E os Jaguares ainda podem sonhar com algo mais?

DESTAQUES

MVP da Ronda: Damian McKenzie (Chiefs)
Jogo da Ronda: Jaguares-Lions
Placador da Ronda: Nicolas Chaparro (Jaguares) e Marvin Orie (Lions)
Agitador da Ronda: Emiliano Boffelli (Jaguares)
Vilão da Ronda: Avançada Sharks


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