Entrada à All Blacks! – Ronda 2 Super Rugby 2018

Francisco IsaacFevereiro 24, 201811min0

Entrada à All Blacks! – Ronda 2 Super Rugby 2018

Francisco IsaacFevereiro 24, 201811min0
Na Ronda 2 Super Rugby 2018 houve uma entrada de campeão, uns japonenses que iam fazendo o impensável e um jogo "louco" de velocidade. Lê tudo sobre o Super Rugby

CRUSADERS, UMA ENTRADA (QUASE) À CAMPEÃO

O jogo mais aguardado da primeira ronda (a par do Highlanders-Blues), Crusaders-Chiefs, terminou com um resultado final (excessivamente) gordo, com um 45-23 a favor da equipa da casa. O placard final não demonstra o que realmente se passou em campo, uma vez que foram os Chiefs a estar por cima do encontro entre os 25-65 minutos de jogo, com os campeões em título, Crusaders, a defender bastante bem no jogo ao largo.

Damian McKenzie surgiu na sua “nova” posição de 10 (já tinha-o feito pela sua equipa de província) e foi sempre um “acelarador” de jogo de alto calibre, abrindo espaço para várias incisões ofensivas dos seus companheiros, com destaque a assistência genial para Sam Cane, com o asa a furar e a seguir em sprint até à linha de meta.

Foi um jogo duro, cheio de placagens (185, com as duas equipas a só completarem entre 77-79%), de contacto físico agressivo na luta quer fosse pelo breakdown, ruck, maul ou alinhamento.

Os Chiefs começaram mal o encontro, sofrendo de “rajada” três ensaios fruto de vários erros individuais e penalidades próprios, naquilo que pareceu ser uma readaptação ao trabalho físico dos Crusaders. Sem Kieran Read, mas com Jordan Taufua em boa forma (um ensaio e dois turnovers), a equipa da casa entrou bem a jogar simples, não apostando nos passes ao largo ou nas combinações com o trio-de-trás (Bridge, Tamanivalu e Havili passaram muito ao lado do jogo, por culpa da estratégia e da pouca clarividência dos seus colegas).

Depois foi a recuperação de McKenzie e companhia que começaram a procurar os passes de rotura, as combinações variadas e os passes rápidos para abrir fendas na defesa dos Crusaders, o que lhes permitiu chegar ao intervalo a perder por dois pontos.

Na segunda-parte os Chiefs chegaram a estar a ganhar por 20-19 mas a vantagem acabou por cair com os pontapés de Mo’unga, com o resultado a dilatar nos últimos 10 minutos de jogo, onde um ensaio de penalidade chegou assim como um amarelo para Boshier por placagem alta. Bridge, com um ensaio de intercepção após um passe muito arriscado de McKenzie, e Mataele deram as estocadas finais.

Vitória merecida? Sim, mas não por estes números, já que os Chiefs deram uma boa réplica e apareceram bastante bem durante largos períodos do jogo, faltando-lhes uma concentração maior e melhor, principalmente do seu 5 da frente (Laulala teve um jogo muito abaixo do esperado, com uma série de erros na formação-ordenada). Os Crusaders ainda estão longe do seu melhor, mas para já bastou para começarem a época com 5 pontos na tabela.

SUPER RITMO, BONS ENSAIOS E UM EXCELENTE REGRESSO DE BEN SMITH

Para quem assistiu ao Highlanders-Blues esperamos que tenha tomado um calmante e uma água fresca a seguir ao encontro. Para os que não viram, esta frase inicial poderá questionar-vos “porquê?”. A explicação é fácil: o jogo foi de um ritmo tão elevado que nenhuma das equipas se sentiu por cima do jogo durante todo o encontro.

Ora eram os Blues a atacar de forma veloz e dinâmica (destaque para o Bryn Gatland, filho do seleccionador galês, Warren Gatland, que jogou na posição de médio-de-abertura) com os temíveis offloads de SBW a dar boas oportunidades de fuga, ora eram os Highlanders motivados pelo espectacular jogo de Rob Thompson, o centro que marcou dois ensaios, fez 80 metros com a bola nas mãos e atirou dois defesas para o lado a certa altura, como se fosse um para-choques.

Por falar em para-choques, nos Blues o “tanque” de serviço, Akira Ioane, também conseguiu um duplo-ensaio, para além de ter sido uma voz de comando importante para a formação de Auckland. Mas bem, o jogo foi exasperante, sempre a correr, sem grandes paragens para formações ordenadas, com as duas equipas a procurar o momento certo para conseguir mais pontos.

Os Highlanders acabaram por ser mais eficazes e ritmados durante os 50-60 minutos, altura em que apareceu Ben Smith a conquistar bolas no ar, a fugir no espaço e a dar margem de manobra para que o par de médios encontrasse boas soluções de ataque. Se Thompson fez dois, o seu colega do lado, Teihorangi Walden, não quis ficar atrás e também os fez, sendo que o 2º é um erro enorme de Augustine Pulu que deixou a bola bater no chão e não a atacou, convidando ao nº12 para fazer um scoop e entrar por entre os postes.

Até ao final os Blues tentaram o empate, mas as investidas de Duffie ou Collins (ambos tiveram um jogo satisfatório, com apontamentos de qualidade mas alguns erros básicos questionáveis) acabaram por sair defraudadas e os Highlanders começam o ano com uma vitória bonificada. Um hino ao Super Rugby logo no primeiro jogo de equipas neozelandesas.

JAMIE JOSEPH ESTÁ A CONSEGUIR CONVERTER CARVÃO EM DIAMANTES?

A última vez que os Sunwolves do Japão tinham jogado contra os Brumbies fora em 2016, no ano da estreia dos nipónicos na competição. O resultado na altura foi demolidor, com um 66-05 a favor da equipa australiana. Em 2018, passados dois anos da entrada dos Sunwolves no Super Rugby, houve uma boa evolução, já que perderam só por 7 pontos no encontro realizado em Tóquio.

O 25-32 prova que a formação comandada agora pelo seleccionador japonês, Jamie Joseph (o treinador que guiou os Highlanders a campeões do Super XV em 2015), está diferente.

Vamos ver o que os dados estatísticos nos dizem: nas formações ordenadas garantiram 100% de sucesso, baixando para 90% nos seus alinhamentos mas sem deixar de um deles dar o ensaio de abertura; em 165 placagens, concluíram com eficácia 147 (corresponde a 89%), um dos apontamentos mais frágeis do ano passado; erros próprios só se deram 13, divididos em avants (4), bolas no chão (4), alinhamentos perdidos (1), passes mal executados (2, um deles dá ensaio para os Brumbies), ficando bem abaixo dos 19 cometidos pela formação de Canberra.

No geral os Sunwolves rubricaram uma bela exibição, cheia de pujança, fisicalidade e outros dinamismos que deram uma robustez defensiva e ofensiva mais clara. Essencialmente, a forma como a equipa comunica permite uma coesão maior, existindo qualidade nas saídas com bola em que tanto Lemeki, Saumaki (exibição em grande do ponta, com dois ensaios na sua estreia) aproveitaram para fugir por entre a defesa dos Brumbies.

Onde é que os Sunwolves falharam? No manter a calma, no trabalhar com mais paciência e concentração, mantendo a bola viva mas sem apressar a sua saída. Os Brumbies conseguiram a reviravolta graças aos erros próprios e cruciais dos japoneses que, entre eles, atiraram um passe contra um dos postes que Kuridrani aproveitou para apanhar e marcar o ensaio da reviravolta logo na abertura do 2º tempo.

Quem sabe se Jamie Joseph não converte esta suposta “miserável” formação nipónica numa equipa orgulhosa, irritante e com vontade de provar que merece estar no Super Rugby.

QUANDO O CAOS TOMA O LUGAR DO SUPER…

O título se refere ao jogo entre os Vodacom Bulls e os Hurricanes, talvez o pior jogo desta 2ª ronda de Super Rugby e que deve deixar os adeptos desta formação neozelandesa preocupados. Porquê? Os Hurricanes, campeões da competição em 2016, foram vulgares, sem capacidade para causar os estragos normais que estas formações neozelandesas costumam criar.

Julian Savea parece cada vez mais uma “sombra” do jogador que foi, TJ Perenara esteve fisicamente bem mas sem a capacidade técnica do costume, a dupla de centros Laumape-Aso foi “sugada” pela defesa contrária, com destaque para Hanro Liebenberg (o nº8 foi uma das boas surpresas neste início de época dos Bulls) que até parou uma corrida de Laumape quando este ia bem lançado e Ihaia West foi uma desilusão por completo (terá pouco tempo para provar se vale algo ou não).

Os Bulls foram uma equipa sempre mais agressiva, totalmente focada no trabalho físico e no contacto, virando, por várias vezes, os rucks a seu favor, para além de nunca terem perdido o seu rumo com a bola nas mãos.

Não jogam de todo bem, não são uma equipa com um rugby “bonito” ou dotada de grandes desequilibradores, mas são eficazes nos apontamentos básicos. Não há invenções, o objectivo neste jogo (e que será o mesmo até ao final) foi passar os 40 metros e marcar pontos, seja com o pé de Pollard ou porventura de um ensaio.

Uma das piores equipas da época passada conseguiu derrotar uma das melhores, o que prova que o trabalho de John Mitchell (ex-seleccionador dos EUA e All Blacks) começa a dar frutos. Com Lood de Jager e Snyman na 2ª linha (ambos rubricaram grandes exibições) os Bulls conquistaram cerca de 18 alinhamentos próprios e ainda estragaram dois aos neozelandeses, mostrando que é nos pequenos pormenores que se conquistam grandes vitórias.

NOVAS LEIS, NOVOS ERROS E NOVA CONFUSÃO?

As regras na placagem e contacto estão cada vez mais rigídas ao ponto que vários treinadores e jogadores queixam-se no que isso pode afectar o jogo, alterando por completo a forma como se placa ou se apresenta no contacto perante o portador da bola. No jogo entre os Crusaders-Chiefs, o ensaio que muda por completo o jogo, é, no minímo, questionável (por bom e mau, até para percebermos o que é uma placagem legítima com as novas regras).

Aos 71′, os Crusaders têm um alinhamento nos 5 metros que é bem defendido dividindo-se para uma série de fases… a certa altura, Drummond tenta sair num pick curto mas é apanhado, metendo a bola disponível para outro colega tentar outra saída de bola… Ryan Crotty, centro internacional neozelandês, vê o espaço no lado de fora e arrisca.

Quando sai com a bola, imediatamente baixa a sua posição corporal para um ponto “extremo” que não deixa grande espaço a Boshier que inicialmente “marca” os ombros do seu adversário, mas acaba por deixar um dos seus braços colidir com a cabeça de Crotty que estava em queda.

O árbitro seguiu a regra nova, correcto, bem arbitrado aqui. Mas, o problema reside nesta pergunta: o que é que Boshier podia então fazer? Deixar Crotty marcar ensaio? Fazer outra penalidade que passava por se atirar ao chão e fazer tipo de “tapete” rasteirando o seu adversário? Sair mais cedo da linha de vantagem e fazer falta por fora-de-jogo? Não há resposta óbvia e a simples resposta que já se ouviu por parte de alguns juízes de jogo é que “o treinador que lhe ensine a placar ou outra forma de defender.”.

Este tipo de expressões e abordagens ao jogo é o que pode levar a um cisma dentro da modalidade, abrindo-se o caso sério de que a modalidade pode estar a ser completamente alterada aos poucos.

Não é o rugby um desporto de contacto? Proteger os jogadores sim, mas sem extremismos e exageros como aconteceu com o caso de Crotty-Boshier. Porque não deixar a regra adaptada ao entendimento de cada árbitro para que nestes momentos possam decidir melhor e de forma mais justa mediante as situações de jogo.

DESTAQUES

MVP da Ronda: Aphiwe Dyantyi (Lions)
Jogo da Ronda: Blues-Highlanders
Placador da Ronda: Pieter Labuschagne (Sunwolves)
Agitador da Ronda: Rob Thompson (Highlanders)
Vilão da Ronda: Scott Higginbotham (Reds)

Um dos ensaios de Dyantyi


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