A (re)conquista da Taça Ibérica de Rugby contada em 1ª mão…

Fair PlayNovembro 21, 20194min0

A (re)conquista da Taça Ibérica de Rugby contada em 1ª mão…

Fair PlayNovembro 21, 20194min0
Maria Heitor é uma das jogadores mais lendárias do rugby português e contou em 1ª mão como foi a preparação, jogo e festejos da conquista pela 3ª vez da Taça Ibérica.

É segunda-feira, mal me levanto mando mensagem à Maria: Faltam 6 dias… 

Diz-me em tom de gozo:  Isso são tudo nervos? 

Um bocadinho mas não muito, quero é jogar!

Começa assim a última semana antes do grande jogo, do grande desafio da época. Esta semana vamos ter mais treinos do que é normal, precisamos de tempo para rever o plano de jogo.

Ainda há muitos aspectos para tratar e muitas arestas para limar até ao dia. O grupo de liderança chega-se à frente e menciona o que acha que deve ser mais focado nessa semana, a defesa a partir de situações estáticas e de rucks são alguns dos pormenores que queremos rever. Além disso, os avançados dentro do seu verdadeiro espírito querem também trabalhar touche e melle, o jogo vai passar muito por aqui, sabemos que se não ganharmos as nossas, dificilmente conseguimos ir buscar as delas, temos que nos focar no nosso trabalho e afinar estes detalhes. Ainda por cima não estamos habituadas a jogar rugby de XV, se vos disser que daqui só 4 jogadoras já participaram em campeonatos de XV, mais meia dúzia em campeonatos de rugby 12/13.

Das 24 que levamos mais de metade jogou XV apenas 2 ou 3 vezes. Vamos ter de ser objectivos, experiência de jogo não a vamos arranjar, temos de ter algumas estratégias para conseguir combater essas nossas lacunas, para isso temos três momentos chave ao longo destes dois meses de preparação, além do grande trabalho desenvolvido pelos nossos treinadores Pedro Leal e Frederico Caetano Nunes.

Em primeiro lugar, uma sessão de melle com o grande ex-capitão da nossa selecção masculina, João Correia; A seguir outro jogador, que dispensa apresentações, Gonçalo Uva trabalha connosco as touches; Por fim, os avançados da equipa challenge do CDUL e os seus treinadores João Lino e Gonçalo Foro, trabalham connosco a melle.

Aproveito para agradecer a todos a disponibilidade e as aprendizagens.

A semana de treinos acabou com a visita de Miguel Afonso, vogal do Sporting para nos desejar boa sorte e mostrar que independentemente do resultado, nós já éramos campeãs.

São 8h15 e estamos a sair da Cidade Universitária, ainda temos 650 km pela frente até chegarmos à Corunha, a meio do caminho paramos no núcleo Sportiguista de Santo Tirso para almoçar, seguimos viagem até ao campo onde vamos jogar, com os atrasos todos já não vamos conseguir treinar uma hora como estava previsto. Em 5 minutos trocamos de roupa e entramos todas juntas dentro de campo e surpreendentemente, depois de 10 horas a viajar, onde se esperava um treino muito, muito calmo, só para «tirar» a viagem de cima… o grupo entra, literalmente, a 200 no treino. Sabem aqueles treinos que duram 2 horas e saímos de lá a acharmos que não contribui em nada para o nosso desenvolvimento?

Pois este durou 15 minutos e foi o clique que precisávamos. A equipa está unida, estamos todos na mesma linha de pensamento e olhos de todas brilham, amanhã vai ser o nosso dia, temos a certeza! Vamos ser bicampeãs ibéricas!

O grande dia chega, acordamos às 7h30, vamos tomar todas o pequeno-almoço, saímos do hotel para um pequeno passeio e seguimos para o campo.

Faltam 2 horas. A música está no máximo, as ligaduras e as últimas tranças acabam de ser feitas.

São 11h em Espanha e estamos prontas! Falta uma hora… saímos para o aquecimento debaixo duma chuvada e dum frio que já não estamos habituadas, mas nada disso nos trava, somos as primeiras a chegar ao campo, começamos o aquecimento individual, temos 5 minutos para trabalharmos o que acharmos mais importante, passamos para as mãos do Miguel, o nosso preparador físico. Estamos 20 minutos com ele e depois seguimos para os nossos treinadores para nos focarmos na movimentação colectiva. Faltam 10 minutos e vamos para o balneário, pouco há a dizer, temos uma missão pela frente e como sempre me disseram, as finais não se jogam, ganham-se! E assim foi! Partimos para um combate de 80 minutos. Os hinos tocam, ouve-se o apito da árbitro para começar o jogo, pontapé de saída nosso.

Passamos a primeira parte no campo delas, estamos a ganhar 08-00 ao intervalo, um. A segunda parte vai ser dura, as equipas experientes de XV acabam por crescer na segunda parte, temos de manter a posse de bola, enquanto elas não a tiverem na mão não marcam, temos de gerir o jogo. Conseguimos marcar mais 8 pontos no inicio da segunda parte, mas como previsto, o CRAT acaba por crescer nos últimos 30 minutos, sofremos dois ensaios mas estes pontos acabam por não lhes dar a vitória, acabamos a lutar com tudo o que temos e conseguimos garantir o jogo.

O apito final soa e os festejos começam! Somos bicampeãs ibéricas!


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