Portugal-Roménia e os “ses” que não entram em campo

Francisco IsaacNovembro 9, 20187min0

Portugal-Roménia e os “ses” que não entram em campo

Francisco IsaacNovembro 9, 20187min0
Os comandados de Martim Aguiar disputam o encontro de subida frente à Roménia. Será que Portugal voltará ao convívio dos maiores da Europa como a Geórgia?

Chegou o momento final de fecho de época de 2017/2018 para a Rugby Europe, com o playoff de subida/descida entre romenos e portugueses. Com o já Rugby Europe Trophy a decorrer (a Polónia já assumiu o primeiro lugar), a Roménia terá todas as vantagens possíveis para manter-se na principal divisão de rugby europeia de selecções (mais uma vez, não contamos com as Seis Nações). Portugal, por outro lado, vem como o underdog sem que a maioria do público da oval atribua qualquer chance significativa de conquistar uma promoção em solo romeno.

O encontro marcado para o meio-dia de sábado de 10 de Novembro, vai colocar frente-a-frente duas selecções em pontos diferentes de forma e de opções, sendo que podemos começar pelo último parâmetro das escolhas. Martim Aguiar convocou 22 jogadores que jogam em Portugal e apenas um que actua no estrangeiro, sendo Rui D’Orey Branco essa única presença especial.

FORÇADOS EM REFORMULAR, COM VÁRIAS ESTREIAS NA ALCATEIA

O 2ª linha que pode alinhar como asa, representa o Richmond desde Janeiro de 2018 e tem vindo a surpreender no clube da Championship (segunda divisão inglesa), merecendo agora uma nova chamada à selecção Nacional. O avançado, que jogou nos últimos anos pelo Grupo Desportivo de Direito, acrescenta uma capacidade de defesa enérgica, uma placagem de elevada “agressividade” (e que lhe tem valido acérrimos elogios em Inglaterra) e um espírito de luta surpreendente sendo a grande e única novidade internacional no 23 do seleccionador Nacional.

José Sarmento (CDUP), José Roque (RC Montemor), Rodrigo Marta (CF “Os Belenenses”), David Wallis (CF “Os Belenenses”) são os “antigos” sub-20 de Portugal que recebem a chamada para dar o salto seguinte na carreira internacional. Os quatro participaram no Mundial “B” de sub-20 realizado entre Agosto e Setembro e agora passam a ser opções para a categoria máxima do rugby português.

Os regressos de Diogo Hasse Ferreira (voltou ao seu GDS Cascais, depois de uma boa experiência em Inglaterra), José Lupi (GD Direito), Jorge Abecassis (CDUL), Pedro Silvério (GD Direito) e João Bernardo Melo (CDUL) são outros nomes de salientar nesta convocatória para o encontro de máxima importância na Roménia.

É uma total revolução na convocatória em relação ao último encontro, quando Portugal visitou a Alemanha para a decisão de quem ia ao playoff de acesso ao Mundial de Rugby em 2019.

São 15 alterações de nomes, com destaque para as saídas de José Rodrigues (de acordo com as informações avançadas ao público, o médio-de-abertura de inegável qualidade foi excluído devido a um não compromisso entre-partes de responsabilização em caso de lesão), Gonçalo Uva (retirou-se do rugby quando completou a 100ª internacionalização ante a Alemanha), Jean de Sousa, Jacques Le Roux, Duarte Diniz, Sebastião Villax, Manuel Queirós ou Francisco Fernandes.

Entre lesões, atletas que emigraram (como Manuel Cardoso Pinto, José Conde, Manuel Vilela Pereira) e indisponibilidade profissional, Martim Aguiar e a equipa técnica lusa fez as alterações possíveis, sem comprometer o grupo. Não se vislumbram os internacionais portugueses como Pedro Bettencourt, José Lima, Manuel Cardoso Pinto, Luís Cerquinho, Francisco Domingues, Mike Tadjer, Samuel Marques, Julian Bardy, Aurelien Béco, Thibault Freitas, Jean de Sousa, Francisco Fernandes, Cyrille Andreu, tudo atletas de inegável valor e que deviam estar nas contas finais.

É, contudo, um grupo curto comparado com o potencial individual e colectivo romeno que conseguiu chamar algumas das suas melhores opções internacionais compondo com os melhores atletas do seu campeonato nacional romeno um elenco de extremo valor.

A NOVA ROMÉNIA DE LIÈVREMONT

Note-se que o exímio pontapeador Florin Vlaicu (111 internacionalizações e quase 900 pontos) vai estar como suplente, o que prova a qualidade total desta selecção romena treinada desde Setembro de 2018 pelo francês Thomas Lièvremont, antigo internacional dos Les Bleus e que tem como marcos na carreira de treinador passagens pelos sub-20 franceses e o Bayonne (treinador de avançados).

Em poucos meses, a Federação Romena de rugby fez uma reforma total nas suas equipas técnicas, entregando o controlo da mesma a alguém que fez parte da estrutura da Federação Francesa de Rugby durante três anos. Alexandru Tarus (Sale Sharks da Premiership), Marius Antonescu (Colomiers da PROD2), Adrian Motoc (Agen do TOP14), Valentin Ursache (Oyonnax da PROD2), Johan van Heerden (Perpignan do TOP14) são esta argamassa internacional da avançada dos carvalhos, conferindo outra dimensão à selecção local.

Curiosamente, na linha de 3/4’s não há qualquer presença de jogadores a actuar fora do território romeno, um detalhe curioso e de interesse, mas que em nada belisca a qualidade destes em fazer diferença no contacto e na conquista de metros. Existe o centro de elevada capacidade de choque Tangimana Fonovai (nascido no Tonga, vive e joga desde 2011 em solo romeno), Catalin Fercu e o estreante Daniel Plai (o abertura é um perigo com um metro de espaço, bem caracterizado pelo seu side step e pontapé).

Apesar da queda crescente dos sub-18 e sub-20 da Roménia, a selecção principal está a tentar refazer o projecto com vista a voltar ao topo, sendo que a pressão de apurar tudo até ao Mundial 2019 não existe mais, depois da penalização sofrida pelo uso indevido de alguns atletas. Agora, há tempo e desta forma uma melhor capacidade de concentrar atenções nos detalhes, com o objectivo de reerguer todos os patamares da selecção do leste europeu.

Olhando para os dois lados, a Roménia tem a vantagem de jogar em casa (na Arena Zimbrilor, na região de Baia Mare, a 9 horas de carro da capital de Bucareste), apresenta-se com um 23 mais sólido e com uma diferença clara em termos de experiência internacional (ambas as selecções estreiam atletas, mas a Roménia apresenta atletas que jogam fora do país e que têm qualidade para serem um factor de diferença durante os 80 minutos) e apresenta uma estabilidade a nível de forma e rodagem de atletas superior a Portugal.

Contudo, durante 80 minutos é possível que os Lobos consigam fazer a surpresa (muito diferente da palavra milagre) de ganhar em solo romeno, desde que consigam impedir os seus adversários de executar bem certos pontos de jogo: formação-ordenada não pode sucumbir em nenhum momento, sob risco de abrirem espaço para penalidades importantes; os alinhamentos têm de ser importunados, em especial nos últimos 20 metros, com vista a impedir a formação de um maul dinâmico problemático; de falhar placagens em momentos mais dinâmicos, pois caso se verifique essa situação a Roménia vai aproveitar o seu três-de-trás para criar situações contínuas de ensaio; colocar pressão na subida da linha de defesa, em especial ao lado fechado do abertura, uma vez que a Roménia gosta de executar movimentos curtos do lado interior do ataque; e de criar ao pé situações de ataque que force à Roménia em decidir mal em momentos capitais do jogo.

Com jogo marcado para o meio-dia de sábado, Martim Aguiar e os seus Lobos voltam a ter um jogo decisivo perante uma selecção que derrotou facilmente o Quénia há poucos dias por 36-05, não tendo sequer utilizado 50% dos atletas que vão actuar contra Portugal.

Podem assistir o jogo em: Portugal-Roménia Rugby Europe TV


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