Portugal e o Tour a África 2024: ensaios e estratégias

Francisco IsaacJulho 29, 20245min0

Portugal e o Tour a África 2024: ensaios e estratégias

Francisco IsaacJulho 29, 20245min0
Como foram marcados e sofridos os ensaios de Portugal no Tour a África? Francisco Isaac desmonta tudo para chegar a conclusões

Depois de termos visto alguns números e MVPs, agora é hora de tentar desmontar como os ensaios foram marcados, sofridos, que mudanças surgiram no esquema de jogo e o que podemos esperar no futuro dos Lobos de Simon Mannix.

ENSAIOS E PONTOS MARCADOS

Comecemos pelas boas notícias: Portugal sabe atacar e sente-se confortável em ter a oval na mão! Isto é um ponto importante, já que os Lobos precisam de saber aproveitar as oportunidades disponibilizadas para chegar às vitórias e frente à Namíbia isso ficou mais do que explicito. Mas há diferenças entre o esquema de jogo de Simon Mannix e o de Patrice Lagisquet? Neste momento, é um esquema de jogo muito similar, sendo que a diferença mais visível, passa pelo número de passes que foram realizados nos sete ensaios marcados durante o Tour a África 2024, com uma média de 55. Só um dos ensaios foi marcado sem que um passe tivesse sido realizado com aquela sequência de piques que terminou em ensaio de Nicolás Martins a ser a única excepção. O alinhamento foi a plataforma mais usada para chegar à linha-de-ensaio, notando-se uma melhoria clara em comparação com o que se passou no Men’s Rugby Europe Championship, subindo a taxa de eficácia dos 70% para 84%, algo que acabou por oferecer um pouco mais de “fé” e paz à equipa no momento de manter a posse de bola.

Luka Begic esteve impecável nesse ponto, assim como o pod de salto, com destaque para José Madeira, António Andrade e Nicolás Martins. Para fechar, o facto dos Lobos terem mostrado uma boa capacidade de manter a bola em seu poder mesmo quando estavam a recuar no terreno ou a serem pressionados pela defesa opositora, é uma clara melhoria que Mannix parece ter conseguido introduzir no esquema de jogo nacional. Foi especial ver como a selecção nacional manteve uma postura sempre positiva na jogada que terminou no segundo ensaio frente à África do Sul, não entrando em pânico ou repensando na estratégia.

Um detalhe extra curioso é o impacto de Domingos Cabral como médio-de-abertura. Joris Moura traz mais experiência e outra capacidade táctica, mas o abertura da AEIS Agronomia é um atleta que traz uma dose larga de imprevisibilidade para a mesa, com o ensaio de José Madeira a ser um dos melhores exemplos desse ponto. O 10 realizou dois cross-kicks de extrema qualidade, suscitando problemas na defesa contrária, abrindo falhas defensivas nos Springboks. Ter um game-changer no banco de suplentes pode ser importante, e isto não significa que Cabral tenha de estar como suplente, com esse papel a poder recair noutro abertura luso.

ENSAIOS E PONTOS SOFRIDOS

E aqui entram as más notícias… excessivos erros no contacto, notando-se um principal: passividade. Contra os Springboks era esperado que surgissem problemas no aguentar a defender e a placar em fases sucessivas, contudo, a forma como os Lobos deram demasiado espaço junto ao breakdown e ruck, dando uma primazia que a equipa da casa não necessitava, acabou por condenar Portugal a um resultado ainda mais pesado, com esses problemas se acentuarem na segunda-parte. Se até ao 4º ensaio a maioria dos pontos sofridos advieram de erros de 1ª fase ou de falha de placagem, com a entrada de uma primeira-linha mais inexperiente/menos rodada acabou por ser letal, com quatro erros na formação-ordenada a resultarem num poker de ensaios dos Springboks, para além de 7 penalidades cometidas nesse sector, isto sem falar de alguns problemas de palmatória que não podem acontecer no futuro. A falta de frescura da maior parte dos suplentes acabou por acentuar o domínio da África do Sul.

Dados dos ensaiosIsto significa que se Portugal conseguir desenvolver 30 jogadores ao mesmo nível, podemos ter um leque de escolhas prontos para surpreender ainda mais o universo da oval. Olhando agora para o encontro frente à Namíbia, os Lobos cometeram dez penalidades, um número “aceitável” mas que acabou por permitir à equipa africana somar 15 pontos ao pé, uma situação que já tinha ocorrido frente à Espanha e Geórgia em 2024, precisando de limar a forma como lidam com o breakdown ou na saída da linha de fora-de-jogo.

Aquela tal passividade que foi bastante visível frente aos Springboks, surgiu em certos momentos ante a Namíbia, com o único ensaio consentido a advir de uma série de falhas de placagem ou não disputas junto à linha-de-contacto. É perceptível a intenção, evitando envolver demasiados jogadores no ruck, mas se a defesa não está desperta para “sufocar” o ataque contrário logo no primeiro instante, então de pouco vale ter demasiados jogadores na linha defensiva. Ao todo, Portugal somou um total de 23 placagens falhadas críticas, o que acabaram por equivaler a oito ensaios sofridos, o que também é quase um replay daquela final do Men’s Rugby Europe Championship 2024.

Tivemos mais pontos positivos que negativos, disso não há dúvidas, mas os erros que surgiram frente aos Springboks foram quase uma repetição do que se viu com a Geórgia, com a formação-ordenada a colapsar (Abel Cunha precisa de voltar a um bom ponto de forma, e o facto de não ter feito um jogo pelo seu clube desde Novembro de 2023 é preocupante) e a falta de agressividade no contacto acabaram por abrir a área-de-ensaio.

Se tiverem questões sobre a forma de jogar de Portugal, convidamos a deixar um comentário neste artigo, facebook ou twitter, e tentarei responder o melhor possível!

Foto de Destaque da Federação Portuguesa de Rugby


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