Os sub-20 de Luís Pissarra que não querem ficar na sombra da ‘geração de ouro’

Francisco IsaacAgosto 6, 20188min0

Os sub-20 de Luís Pissarra que não querem ficar na sombra da ‘geração de ouro’

Francisco IsaacAgosto 6, 20188min0
O campeões europeus de sub-20 estão em preparação para o Mundial. Esta nova geração quer ultrapassar a geração de ouro do ano passado. Entrevista com Luís Pissarra

A selecção nacional de sub-20 de Rugby prepara a sua participação em novo Mundial de Rugby “B”, onde constam as fortes adversárias das Fiji, Roménia, Uruguai, Canadá, entre outras! Luís Pissarra, seleccionador nacional, explica os processos, desenvolvimentos e objectivos

As selecções jovens nacionais têm conquistado metas importantes em 2018, com especial destaque para o Campeonato da Europa de sub-19 em futebol, o Europeu de sub-20 em Rugby, o 4º lugar no Campeonato da Europa de sub-20 em Andebol.

Tem sido portanto um ano (podemos a largar a anos) de grande sucesso, glória e ambição confirmada por parte das várias modalidades nacionais, principalmente, a nível juvenil.

Mas entre o final de Agosto e o início de Setembro, vai  ter lugar na Roménia o Campeonato do Mundo “B” de rugby sub-20. Portugal é o vice-campeão em título, depois de ter chegado à final em 2017, perdendo para o Japão.

Uma vitória nesta competição permite ascender ao Mundial de Rugby “A” onde constam os Baby Blacks (os “filhos” da super-selecção dos All Blacks), Austrália, a extraordinária França (são os campeões em título), entre outras.

Contudo, os resultados de 2017 terão sido uma excepção ou foi uma demonstração que pelo menos nesta secção o rugby português está bem e recomenda-se?

Fomos falar com o selecionador Nacional de sub-20, Luís Pissarra, antiga lenda dos Lobos (fez parte da selecção portuguesa que chegou ao Mundial de Rugby em 2007, pela primeira vez na História lusa da modalidade) e um dos grandes obreiros dos vários sucessos alcançados, entre os quais dois campeonatos da Europa de sub-20 em 2017 e 2018.

Estas semanas de treino dos sub-20, um mês antes do Mundial, foram realizados com que propósito?

LP. O objectivo foi claramente recuperar os jogadores, pois alguns estavam sem jogar há uma série de tempo, enquanto só uns poucos tinham participado nos 7’s. Contudo, a maioria estava fora de época e fora de forma.

Nós arrancámos com estas três semanas de treinos, que acabou na sexta-feira passada, e trabalhámos dentro de um esquema planeado entre recuperação e de pôr o grupo psicologicamente à prova.

O trabalho começou na 2ª semana de Julho, mas já em Junho tínhamos delineado um plano individual físico para cada um dos atletas, com obectico de chegarem aos treinos colectivos minimamente preparados.

Recuando só até Junho, encontramo-nos por duas ocasiões para trabalhar skills individuais de ataque e defesa, enquanto que nestas três semanas de Julho foi implementar o trabalho geral quer no ataque ou defesa e de um aumentar total de intensidade.

Cada semana foi temática, que culminava à quinta-feira um jogo entre nós, onde procurávamos evoluir. A semana era montada desta forma: segunda-feira destinava-se a um trabalho mais físico e no fim do dia entrávamos com alguns skills; terça era o dia mais duro, tínhamos uma parte de sectores de avançados (formação ordenada principalmente) e três-quartos, sendo que à tarde íamos às componentes físicas e psicológicas.

Aliás, o facto de estarmos três semanas fora de casa a competir, é uma das questões mais importantes e é nessa base que temos de trabalhar o jogo mental, pois vai ser muito importante para não vacilar.

Estas três semanas foram assim uma mistura entre o técnico, táctico e físico, em que tinham de saber ir ao fundo, trabalhar com cansaço e aguentar a pressão. Só para terminar, Quarta-feira treino específico, quinta-feira novamente físico e defesa.

E como os teus jogadores responderam? A equipa técnica ficou satisfeita com o desenvolvimento? É complicado esta “ponte” do fim de uma época para o início de outra?

LP. Realmente, é complicado nesta fase impor intensidade pois estamos numa época geral do ano em que os jogadores estão habituados a estar de férias, num off-season e sem terem treinos, só indo ao ginásio, onde estão com os amigos, com uma alimentação menos correcta, era, portanto, a parte difícil: meter todos os jogadores neste objectivo.

Mas não tenho dúvidas que os grandes embaixadores deste trabalho, os antigos jogadores que por aqui passaram, defenderam bem esse sacrifício e deram o exemplo. Este podia ser o aspecto negativo, mas o positivo é que como não havia trabalho dos clubes, pudemos trabalhar com eles completamente focados na selecção e nestes treinos.

Atenção, que neste pequeno período de férias que os jogadores vão ter, continuarão a trabalhar individualmente, com todos os cuidados possíveis. Há alguns que não vão conseguir ser selecionados e isso é um dos pontos mais importantes, a riqueza mental deste grupo, de quererem estar envolvidos, de sacrificar-se pelo objectivo comum.

Conseguimos fazer uma gestão muito nossa dos atletas, praticamente “vivemos” quase em ritmo profissional, que nos divertimos e sofremos, mas o resultado final será muito positivo.

Portugal a jogar treinos (Foto: Luís Cabelo Fotografia)
É uma equipa completamente diferente comparada com a de 2017? Quais as maiores diferenças?

LP. Realmente é caso mesmo para dizer que não há equipas iguais, nem processos que se repetem, e esta geração comparada com a de 2017 é diferente.

Desde logo pelo Campeonato de Europa que fez, mostrou que é diferente da do ano passado (etiquetada como Geração de Ouro do rugby Nacional), e para quem dizia que a geração anterior era fenomenal – que ainda me traz excelentes memórias – esta de 2018 não é menos relevante e importante, pode ter menos nomes e individualidades mas a nível do colectivo foram letais no contra-ataque e gigantes na defesa.

A única comparação possível são os resultados finais. Têm uma capacidade de se adaptar ao jogo mais rapidamente que a de 2017, mas é algo mais juvenil e/ou imatura, portanto esta é a riqueza do nosso trabalho, de juntar as “tropas” todas, de passarmos a mensagem e de fazer um grande trabalho. É um grupo especial, não tenho dúvidas.

O que procuras agora durante estas duas semanas de repouso? Apesar da equipa ser 100% amadora, concordas com o facto dos teus jogadores estarem a demonstrar um profissionalismo enorme?

LP. Estas duas próximas semanas é de um repouso aparente, todos têm um trabalho intenso e individual a fazer. Contudo, é importante também limpar a cabeça e relaxar durante este período de descanso, uma vez que treinámos com muita intensidade. Não esquecer que se trata de um grupo amador e jovem que precisa também do seu tempo de pausa.

Eles têm plena noção que não podem descurar a parte física, de não se desleixar, mas é importante poderem aliviar a carga psicológica e fazerem um reset. Esta paragem pode fazer-nos regredir ligeiramente a nível da estrutura de jogo que tínhamos estabelecido. Todavia o encurtar do grupo vai nos possibilitar trabalhar de outra forma, com uma maior dedicação a outros detalhes que com um grupo maior não conseguimos desenvolver com tanto afinco.

É importante referir este ponto: o profissionalismo com que estes jogadores têm se entregado nos treinos e na preparação para o Mundial de Rugby “B”. Todos querem estar lá e têm feito um trabalho descomunal para atingir esse sonho.

O que se segue na preparação para o Mundial?

LP. Em seguida, a partir de 13 de Agosto, iniciamos uma nova fase, com quinze dias antes da saída para o Mundial. São dois novos ciclos de treino e nestes quinze dias vamos estar em Mafra, com apoio da Câmara Municipal local, que vai culminar com um jogo entre nós, para podermos testar a nossa capacidade física e de jogo.

Daí resultará a lista final de 26 convocados, e só esses vão treinar na última semana de treinos pré-Roménia. Vão ser duas boas semanas de treinos, que vai dar para alinhar todos os pormenores, afinar o nosso jogo e preparar-nos definitivamente para o Campeonato do Mundo. 

O primeiro jogo de Portugal está agendado para dia 28 de Agosto, frente ao Canadá, seguindo-se as Fiji (1 de Setembro) e Uruguai (5 de Setembro). O grupo dos 35 atletas seleccionados para trabalhar na segunda-fase de treinos é a seguinte:

A equipa técnica liderada por Luís Pissarra, é composta ainda por António Aguilar (treinador adjunto), Pedro Cardoso (preparador-físico) e Paulo Vital (fisioterapeuta).


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS