Os exemplos de 3 Lendas vivas do rugby nacional: Nobre, Tadjer e Fernandes

Francisco IsaacJaneiro 30, 20245min0

Os exemplos de 3 Lendas vivas do rugby nacional: Nobre, Tadjer e Fernandes

Francisco IsaacJaneiro 30, 20245min0
Sofia Nobre, Mike Tadjer e Francisco Fernandes são 3 Lendas vivas do rugby português que Francisco Isaac honra neste artigo

O rugby português tem, infelizmente, um problema de autopromoção dos seus atletas sejam do passado, presente ou futuro, um problema também ele extremamente comum à larga maioria das selecções que compõem o ramalhete do universo da bola oval. Sim, já há alguns ventos de mudança, com atletas como Siya Kolisi ou Antoine Dupont a conquistar uma atenção massiva de adeptos que vão para lá dos do rugby. Antes que o leitor pense que estou a tentar transformar este desporto colectivo num show-off de individualidades, faço a questão de explicar detalhadamente o que pretendo antes de passar à parte interessante. Qualquer desporto necessita das suas estrelas para conseguir promover além-fronteiras desportivas, pois normalmente são as figuras que movem montanhas de adeptos construindo uma onda de fãs que acabam também por se apaixonar (na maior parte das ocasiões) pelas equipas desses jogadores. Isso não significa que a equipa/desporto desse dado atleta deixe de ser um colectivo, com os exemplos de Lionel Messi, Roger Federer, Michael Jordan, Michael Phelps, Serena Williams, ou Simone Biles, a serem demonstrativos disso mesmo. O rugby necessita de tratar bem das suas lendas, estando elas já retiradas ou não, e o rugby português não escapa a isso.

Neste momento, e sem querer ir falar dos casos comerciais de Raffaele Storti, Tomás Appleton, Rodrigo Marta ou Samuel Marques (qualquer um destes tem milhares doses de engajamento nas redes sociais e motores de busca), há três jogadores que, para mim, têm de ser usados até à exaustão pela excelência que presentam. São eles Sofia Nobre (SL Benfica), Francisco Fernandes (AS Béziers-Hérault) e Mike Tadjer (retirado recentemente), todos eles veteranos não só da vida, mas também da modalidade.

Começo pela Sofia Nobre, que aos 53 anos (vai a caminho dos 54) voltou a ajudar o SL Benfica a se sagrar campeão nacional, pondo fim a uma série de anos sem conquistas na principal divisão de rugby feminina em Portugal, participando activamente neste sucesso, naquele que foi o 1º título no rugby XV (durante alguns anos foi rugby de 13/10 e até o 7s chegou a ocupar o espaço competitivo do XV). O longo carinho, dedicação e paixão imposta a cada nova temporada é um facto que deve ser celebrado e apresentado como exemplo, sendo Sofia Nobre uma das principais lendas vivas do rugby nacional, que infelizmente não teve a oportunidade para brilhar no XV internacional por conta de Portugal ter estado omisso de todas as competições durante mais de duas décadas. A longevidade em qualquer modalidade é um caso de estudo, e o facto de continuar a se apresentar nos torneios de 7s, XV, beach rugby demonstra como temos em Sofia Nobre alguém para ser apresentado a rapazes e raparigas que queiram vir para a modalidade. Ah, e não esquecer que nunca deixou de jogar, nem por causa da vida profissional, familiar (é mãe de Matilde Goes, internacional portuguesa) ou pessoal.

Francisco Fernandes cumpriu o seu 300º jogo na ProD2, sendo dos atletas com mais jogos realizados na segunda divisão francesa. O pilar tem marcado a vida não só do AS Béziers-Hérault, mas também de outros atletas, com vários companheiros de agora ou antigos, a dizerem o quão foi importante nas suas carreiras, influenciando-os positivamente e de uma forma que é impossível esquecer. Aos 38 anos continua numa forma invejável, tendo até, veja-se, jogado como talonador na última vitória do seu clube, numa clara prova que a idade não é obstáculo, muito pelo contrário. Foi uma das principais caras do rugby português durante o último mundial, impondo toda uma classe na primeira-linha que fará muitas saudades quando se retirar… isto lembrando que ainda está disponível para ajudar os “Lobos”. Aquela placagem salvadora frente às Fiji já na segunda-parte, que até o forçaram a sair de campo lesionado, é o maior exemplo de como alguém com um carinho massivo pelo seu país se entregou de corpo e alma à causa, mesmo quando foi vítima de desrespeitos por anteriores membros federativos. Francisco Fernandes é o rosto de alguém que nunca desistiu de Portugal.

Esse sentimento é também partilhado por Mike Tadjer Barbosa, o talonador com o pontapé mais requintado do Planeta da Oval. Mike Tadjer foi um dos atletas portugueses com mais jogos no Top14, ficando só atrás de Julien Bardy nesse dado estatístico. Tadjer é, como Francisco Fernandes, um profundo apaixonado por Portugal, e daqueles exemplos que vale a pena usar como bandeira em futuras acções de promoção da modalidade em solo nacional, com as várias imagens do Mundial a poderem fornecer uma plataforma de franca alta qualidade. Mas, como nos outros dois exemplos falados, Mike Tadjer é muito mais que um potencial produto de marketing, pois a entrega humana e técnica ajudou a sedimentar uns últimos quatro anos de sucesso, influenciando positivamente os atletas mais jovens. Saiu pela porta grande, prestando uns últimos três meses de grande serviço ao Massy – o clube que o formou -, numa clara prova de como a sua dimensão enquanto pessoa ultrapassa a de atleta.

São estas três lendas vivas que o rugby português deve olhar e tentar não só replicar, mas construir um caminho na direcção que estes atletas inspiraram. Da minha parte faço uma sentida homenagem a quem nunca parou de lutar pelo rugby nacional, mesmo quando diziam que não importavam. Obrigado.


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