Modelos competitivos séniores em rugby: é possível mudar ou reformular?
Nos últimos 7 anos os vários escalões de competição do rugby português sofreram contínuas alterações nos modelos competitivos, que foram desde as mudanças do número de equipas à forma como o calendário foi montado, passando pelas folgas em tempos de actividade da Selecção Nacional. O único detalhe que nunca foi vítima de alteração foi o como se apurava o campeão de cada escalão, já que se realizou/realiza uma final que consagrará o vencedor final.
Em 2019, e com a entrada da nova direcção da Federação Portuguesa de Rugby, esperam-se mudanças (sejam elas simples ou profundas) nos modelos competitivos estando em discussão o número de equipas que vão alinhar na Divisão de Honra, CN1 e CN2 nos séniores, para além de que poderão acontecer mudanças nas competições dos escalões de formação.
Sem que tenha sido anunciado qual o futuro modelo a fixar tanto na Divisão de Honra, CN1 ou CN2, e apesar de rumores apontarem para o alargamento a 12 na principal divisão sénior de rugby, propomos três modelos competitivos nacionais, com um protótipo de calendário anual montado, que não só observa o funcionamento dos campeonatos como da Taça de Portugal, Supertaça, 7s e Beach Rugby.
Neste artigo a única divisão não abordada é a do Campeonato Nacional 2, uma vez que os moldes actuais (apresentados pelo Braga Rugby em 2017 e que felizmente foi aceite pelos clubes) estão bem esboçados, capacitados de um bom equilíbrio entre as equipas que querem jogar um rugby social e aquelas que desejam escalar até ao topo dos campeonatos séniores em Portugal.
MODELO A – 10 EQUIPAS NA DH E CN1
A proposta A vai para um aumento de cerca de duas equipas da Divisão de Honra, libertando-se do modelo de 8 equipas (pouco interessante a nível da comunicação e destaque, para além de repetitivo e que termina em 14 semanas de jogos para 6 das 8 equipas participantes) e passa assim a albergar o actual campeão do CN1, RC Montemor, e o vice-campeão, SL Benfica. Um campeonato jogado a duas voltas com seis pausas para todas as equipas durante a temporada que vai ter 8 meses de competição de XV no total.
Pausas: as pausas estão destinadas a duas semanas em Novembro, duas na fase do Natal e Ano Novo e duas entre Março e Abril de 2020. Estas pausas podem ser alteradas para se adaptarem ao calendário internacional da Selecção Nacional, apesar da maioria dos campeonatos europeus continuarem a ter a sua actividade em funcionamento em 4 das 5 jornadas das Seis Nações (e várias delas aproveitam esse momento para lançar alguns jogadores mais desconhecidos, que entretanto agarram a estaca da responsabilidade). As pausas montadas entre Março e Abril de 2020 são a favor da Selecção Nacional de sub-20 que neste momento é o activo mais interessante da Federação Portuguesa de Rugby.
Campeonato Nacional: 10 equipas, 18 jornadas, todos contra-todos com os seis primeiros a apurarem-se para a fase final ao jeito do que no Top14 ou Super Rugby (o campeonato mais importante do Hemisfério Sul apura as 8 melhores equipas das 15 participantes na competição).
O 1º e 2º lugar recebem a benesse de não jogarem na 1ª fase a eliminar que fica entregue entre o 3º ao 6º lugar. A partir daí seguem-se as meias-finais e final da Divisão de Honra. Do outro lado da “moeda”, o último classificado desce directamente para o CN1 com o penúltimo lugar a ter que medir forças com o finalista vencido do CN1, oferecendo assim a oportunidade de termos mais um jogo de alta emoção na competição. O campeonato começaria no último fim-de-semana de Setembro e ia até Maio de 2019. 18 seria o número mínimo de jogos que uma equipa sénior da Divisão de Honra ou CN1 faria, mais três com a Taça de Portugal, ou seja, 21 jogos no total – menos 1 jogo do que acontece na Premiership inglesa ou iguais ao PRO14.
Taça de Portugal: em busca de conseguir de ligar equipas entre a Divisão de Honra, CN1 e CN2, edifica-se uma Prova Rainha que deixa cair as três primeiras eliminatórias e passa a uma fase-de-grupos de 8 grupos de 3 em que só se apura o 1º classificado, desembocando depois nos quartos-de-final. Caso haja fundos e capacidade de manobra por parte da FPR, as equipas eliminadas nos quartos podem seguir para uma Taça Plate, de forma a manter a intensidade e, porque não, venda do naming desta 2ª competição.
Sevens: como observável pelo calendário montado, os 7’s ganham uma nova voz no Calendário Nacional, passando de um simples fim-de-semana de apuramento do Campeão Nacional de cada divisão para quatro fins-de-semana com etapas do Portugal 7’s Super Series… o Lisboa 7’s pode assentar como o palco de todas as decisões das provas nacionais (3ª etapa no calendário) e o Algarve 7’s fechava a época do seven-a-side. A Sports Ventures tem se afirmado neste aspecto e a continuação da parceria que foi montada para o Lisboa 7’s poderia subir de nível, de forma a libertar a Federação Portuguesa de Rugby dos custos de logística e organização, desde que abra a porta para divulgação da transmissão dos encontros.
Beach Rugby: a edificação de um Campeonato Nacional que respeite definitivamente esta variante será um caminho importante para a promoção da modalidade noutros âmbitos. O Ericeira Beach Rugby tem de conseguir alinhar com o Porto e Figueira e é fundamental voltar a apostar no torneio de Carcavelos e em outras etapas.
MODELO B – MANUTENÇÃO DO DE 10 MAS COM PAUSAS EUROPEIAS
O modelo B altera por completo as pausas aplicadas durante a época do XV, o que por exemplo permite que a fase-de-grupos da Taça de Portugal seja realizada durante os três primeiros fins-de-semana de Dezembro. Outro pormenor neste modelo é a remoção da luta pela subida/manutenção entre o 9º classificado da Divisão de Honra e o finalista do CN1, fechando assim a janela de promoção a apenas um lugar.
Três das cinco pausas obrigatórias favorecem a Selecção Nacional e os clubes que têm jogadores envolvidos nos trabalhos da mesma. A pausa de Fevereiro e Março ficam destinadas à participação da Selecção sénior no Rugby Europe Championship, enquanto que o primeiro fim-de-semana de Abril está moldado em favor da Selecção Nacional sub-20 que tem normalmente disputado o Campeonato da Europa nessa altura.
MODELO C – UMA APROXIMAÇÃO DO SUPER RUGBY EM PORTUGAL É POSSÍVEL?
É um modelo mais arriscado, mas que procura criar outro tipo de intensidade e um contraste diferente nas duas principais divisões séniores de rugby: dois campeonatos jogados a 12 equipas cada. Mas como funciona?
Pausas: a fase regular tem menos duas jornadas em comparação com o Modelo A ou B, mas oferece a oportunidade de todos os clubes jogarem uns contra os outros como veremos a seguir. As pausas foram elaboradas a favor das Selecções Nacionais séniores, sendo que a dupla pausa de Novembro pode ser ligeiramente modificada (ou mesmo a de Janeiro) para tentar beneficiar a selecção nacional sub-20 em Abril. Estas paragens não vão paralisar os campeonatos mais que duas semanas consecutivas e estão devidamente encaixadas no calendário geral.
Campeonatos Nacionais: tanto a Divisão de Honra como o CN1 funcionarão da mesma forma e vão decorrer ao mesmo tempo, com os campeonatos a começarem no último fim-de-semana de Setembro até ao segundo fim-de-semana de Maio. 12 clubes divididos em dois grupos de 6, que jogam entre si a duas voltas e ainda disputam uma 3ª volta contra equipas do grupo oposto.
Ou seja, é algo similar ao que se passa no Super Rugby com as equipas de cada conferência a jogar entre si a duas voltas (para aproveitar o revenue que vem dos dérbis locais) e a uma volta contra equipas de outra conferência. É um sistema que tem os seus pontos positivos e, também, negativos… de certa forma é para impedir que os gastos de viagens sejam de uma dimensão complicada de “placar”. Todavia, na aplicação deste sistema ao rugby português a lógica da montagem dos grupos tem a ver com a classificação de cada clube no final da temporada de 2018/2019, sendo impossível constituir grupos por zona geográfica… para já.
No final da fase-regular (cada equipa com mínimo de 16 jogos) 8 clubes são apurados para as eliminatórias, com o 1º a receber o 8º, o 2º com 7º, 3º contra o 6º e 4º frente-a-frente com o 5º, isto nos quartos-de-final, seguindo-se as meias e final. A final é jogada na casa do 1º classificado (benesse de ter terminado a fase-regular nessa posição), e caso este seja eliminado nos quartos-de-final ou meias, o local do jogo de apuramento de campeão é alterado para a “casa” da seguinte equipa melhor classificada.
Existem outras variáveis interessantes a colocar como quem joga no tal jogo de playoff de manutenção/subida entre o 11º classificado da DH/CN1 e CN1/CN2… quando terminada a fase-regular, o 9º, 10º e 11º podem jogar entre si uma liguilha para apurar quem joga frente ao finalista vencido de cada uma das duas principais divisões (em termos de calendário fica tudo bem ajustado, sendo que a 3ª jornada deste “campeonato dos últimos” fica reservado para o dia da final dos campeonatos).
Taça de Portugal: exactamente igual ao Modelo A e B, mas relembramos… fase-de-grupos, quartos-de-final, meias e final (competição A e B a partir das meias-finais);
7s: Exactamente igual ao Modelo A…quatro fins-de-semana com o término dos Campeonatos Nacionais a ficar reservado para o Algarve 7’s. Ou, se quisermos outra variante, o Lisboa 7’s marca a etapa de consagração de campeão das três divisões (criando um modelo de pontos igual), com os três campeões do Campeonato Nacional de 7’s, CN1 e CN2 a receberem o wildcard para participar no Algarve 7’s.
Beach Rugby: também o mesmo modelo;
MAS SERÁ QUE O PROBLEMA ESTARÁ PARA LÁ DO MODELO COMPETITIVO SÉNIOR?
Contudo, e apesar dos três modelos aqui apresentados e aqueles que serão escolhidos pelos clubes para 2019/2020 há alguns temas que têm de ser não só debatidos mas também acordados entre todas as partes.. Começamos pela cedência de jogadores à Selecção Nacional sub-20. Em 2018/2019 deu-se uma intensa discussão entre a Federação Portuguesa de Rugby e alguns clubes detentores de atletas do grupo de trabalho de Luís Pissarra devido às paragens a colocar no Campeonato Nacional 1… a Selecção podia ter saído prejudicada, assim como esses emblemas, e com o pensamento em evitar futuros problemas é necessário criar um acordo tácito e respeitado que beneficie Portugal na conjuntura internacional.
Por outro lado, é importante que os campeonatos nacionais seja de séniores ou de formação não sofram de pausas demasiado longas, a exemplo do que se passou com a Divisão de Honra na temporada que agora findou… os clubes da principal divisão de rugby em Portugal estiveram quase 8 semanas sem qualquer jogo oficial e este “pormenor” acabou por prejudicar a qualidade e intensidade de jogo na recta final da época, que englobou meias-finais da Taça de Portugal e últimas três jornadas do Campeonato Nacional.
Os clubes que têm jogadores na Selecção Nacional são na sua larga maioria os que têm mais condições para continuar a jogar, uma vez que apresentam números satisfatórios de atletas (na conjuntura actual do rugby português) para preencher as lacunas que resultem de convocatórias da Selecção Nacional.
Não há dúvidas que o modelo de 8 da Divisão de Honra se revelou dos mais desinteressantes em termos competitivos e marketing (apesar de mal explorado pela Federação Portuguesa de Rugby) e que um de 12 pode acarretar riscos complicados de ultrapassar, todavia qualquer uma das competições está destinada a ter pouca importância enquanto não se trabalharem certas áreas da comunicação, marketing e divulgação, para além de se criarem consensos definitivos na cedência de atletas para os trabalhos da Selecção Nacional de XV, 7’s seja séniores, sub-20 ou sub-18.
E, finalmente, começar a dar a devida importância aos 7’s que têm de passar de uma etapa oficial da Federação Portuguesa de Rugby para quatro, abrindo um amplo campo de escolhas e rodagem na variante para os seleccionadores nacionais. O Lisboa e Algarve 7’s já estão garantidos para 2020 e seria interessante que a etapa realizada em Vila Real de Santo António fechasse a época de clubes dos 7’s… para que esse pormenor acontecesse seria fundamental que os clubes portugueses fizessem questão de estar presentes na competição, algo que não aconteceu na 2ª edição do torneio em 2019.
5 comments
Pedro Neiva Correia
Junho 27, 2019 at 5:50 pm
Mas o Modelo da próxima Época já está aprovado! Assim sendo será mais interessante analisar o mesmo.
Abraço e bom trabalho,
PNC
Antonio Ferreira Marques
Junho 27, 2019 at 1:07 pm
Qualquer dos 3 modelos propostos “elimina” qualquer 3º nível competitivo liminarmente ….
Quantas equipas minimamente organizadas ou com potencial de virem a competir em condições mínimas ao nível Sénior existem?
Francisco Isaac
Junho 27, 2019 at 2:25 pm
O Modelo A e B não eliminam qualquer divisão, até porque perante o que vai acontecer em 2019/2019 só pede 20 clubes na 1ª e 2ª, mantendo uma boa competição no CN2 (que tem um dos melhores modelos de todas as competições dos últimos 10 anos). Em relação à 2ª questão, é algo que extravasa realmente os modelos competitivos e que devia levar a um debate sobre qual o caminho que se quer para a modalidade no fundo e o que os clubes querem deles próprios a longo-prazo.
Antonio Ferreira Marques
Junho 27, 2019 at 1:04 pm
O Calendário para o Modelo C do CN1 não estará correto, considera 18 jornadas quando com 2 grupos de 6 equipas a jogarem “todos contra todos” a 2 voltas + 1 terceira volta contra as 6 equipas do outro grupo corresponde a um total de 16 jornadas (tal como considerado para a DH tb com 6 + 6 equipas).
Francisco Isaac
Junho 27, 2019 at 1:46 pm
António, foi um mau carregamento de imagem da minha parte. Já está corrigido!