Men’s Rugby Europe Championship 2025: dados e análise pt.1
Portugal terminou em 4º lugar no Men’s Rugby Europe Championship, caindo para fora do pódio pela primeira vez desde 2022, o que pode valer um sorteio de grupos do Mundial de Rugby masculino de 2027 mais negativo. Nesta análise dividida em três partes, vamos olhar para a prestação de Portugal como um todo, perceber quem foram os atletas em melhor nível e se foram notadas quaisquer melhorias nestes Lobos de Simon Mannix.
O QUE DIZEM OS NÚMEROS COMPARATIVOS?
Não há dúvidas que esta foi a pior temporada de Portugal dos últimos três anos, longe do que foi alcançado em 2023 e até 2024, com os próprios dados a comprovarem tal afirmação. Olhando só para 2023, Portugal terminou o Men’s Rugby Europe Championship 2025 com o mesmo número de derrotas (2), mas sofreu mais pontos e marcou menos. Se em 2024 os Lobos tinham derrapado na 1ª jornada frente à Bélgica em Mons (06-10), em 2025 conseguiram aguentar o ímpeto dos belgas, iniciando a campanha com uma vitória positiva mas em que foram notadas várias falhas a nível do controlo da oval ou da estratégia ao nível da defesa. Seguiram-se boas vitórias frente à Polónia e Roménia (maior vitória de sempre frente aos Stejarii) fechando a fase-de-grupos com 130 pontos marcados e 50 sofridos. Curiosamente, Portugal sofreu menos 9 pontos em 2024, apesar de ter consentido a tal derrota em Mons. Porém, o descalabro aconteceu logo a partir das meias-finais, com os Lobos a registarem a sua primeira derrota frente à Espanha em casa desde 2015 (08-19), tendo sido a maior derrota ante os Leones desde 1995, o que demonstra logo um registo preocupante.
A Espanha apresentou-se no Jamor com uma selecção sem Joel Merkler, Martín Alonso, Jon Zabala, Asier Usarraga, entre outros, ou seja, não podemos usar a desculpa dos Lobos não terem podido contar com A, B ou C neste caso. Efectivamente foi um jogo desastroso dos Lobos, principalmente no que toca à estratégia colectiva (praticamente inexistente os padrões de ataque ou de defesa) e atitude, sendo que a indisciplina foi também outro dado altamente preocupante.
O pior veio no último fim-de-semana da competição, com os Lobos a consentirem novo desaire desta vez frente à Roménia que simplesmente engoliu a selecção nacional num 07-21 que poderia até ter sido pior não tivesse Ali Conache errado o alvo por 3 vezes. Novamente uma onda de indisciplina, um ataque sem uma pitada de lucidez e aquela energia vista entre 2021 e 2023 (e até 2024) e uma defesa permeável nos momentos críticos. No cômputo final, a selecção comandada por Simon Mannix fechou a competição com 168 pontos marcados e 113 sofridos, uma clara queda em comparação com 2024 (178 e 81).
🇵🇹v🇷🇴 @RugbyRomania capitalise to get the first try in Lisbon by Jacob Immelman! #REC25 pic.twitter.com/kuDde3kmKI
— Rugby Europe (@rugby_europe) March 16, 2025
Ou seja, Portugal terminou este Men’s Rugby Europe Championship com menos dez pontos marcados e mais 23 sofridos, registando mais 26 penalidades e uma defesa largamente pior, como demonstram os dados. Mesmo com toda a capacidade individual de jogadores como Nicolás Martins (o melhor placador da competição), Samuel Marques, Joris Moura (chocante o facto de ter começado como suplente no jogo frente à Roménia), Tomás Appleton, José Madeira, Diogo Hasse Ferreira, Luka Begic, Rodrigo Marta, é impossível ganhar a conjuntos bem treinados e trabalhados. Se em 2024 era admissível o discurso de selecção em reconstrução, em 2025 não o é, especialmente quando a Espanha e Roménia estão a ter supostas reconstruções mais pesadas.
Animicamente, Portugal não foi o Portugal dos anos de 2019-2023, com pouca energia e dinâmica nos 3/4s, pouca fome defensiva e incapacidade para manter uma consistência exibicional superior a um jogo. Os problemas demonstrados já tinham sido evidenciados frente à Namíbia, África do Sul, Estados Unidos da América e Escócia, repetindo-se frente à Bélgica, Espanha e Roménia. Portugal perdeu 5 dos últimos 9 encontros, tendo um saldo extremamente negativo em todos os parâmetros.
Não há muito mais a dizer nesta primeira parte de análise, com os dados a serem claros. Pior ataque, pior defesa, pior % de placagens efectivas (Portugal passou de 86% para 80%), menos ensaios, menos quebras-de-linha e as fases-estáticas a concederem mais erros. Não houve evolução e o objectivo da qualificação directa para o Mundial de Rugby masculino é um dos poucos pontos positivos desta campanha.
Uma nota final: é sabido que certos atletas a actuarem em França não foram convocados por opção, o que deveria suscitar algumas dúvidas e perguntas, especialmente quando os atletas deixados de fora estão em forma e/ou são líderes de estatísticas na Pro D2 ou Nationale. É importante ter noção que ninguém está a pedir a substituição massiva de uns atletas por outros, mas que se convoquem aqueles que realmente estão em forma e que realmente possam trazer uma vitamina-extra. Continuar a forçar a ideia de que existem ‘portugueses e portugueses’ só servirá para ajudar os adversários da selecção nacional, especialmente numa era em que Espanha e Roménia estão em crescimento e prontos a relegar os Lobos para um lugar fora do pódio. De lições morais está o rugby nacional carregado e é necessário mais profissionalismo, seriedade e honestidade, invés de dizer que os atletas ‘têm de ser profissionais dentro do amadorismo’, uma ideia sem espaço na modalidade.
🇪🇸 Ohhhh what a score for @ferugby who extend their lead!
Minguillon runs in for his second try of the day. #REC25 pic.twitter.com/zk4G6kEGhk
— Rugby Europe (@rugby_europe) March 1, 2025