Repensar a competição de sub-16 e 18 em Portugal – Coluna Luís Supico

Fair PlayFevereiro 26, 20185min1
Será que os campeonatos de formação de rugby em Portugal são os adequados? Luís Supico propõe algumas perguntas e reformulações na sua coluna

Há um problema inerente aos campeonatos juvenis – sendo, por natureza, escalões de passagem, facilmente os clubes se vêem em dificuldades num ano e no outro com óptimos resultados.

Esta volatilidade está, apesar de tudo, disfarçada nas qualificações para a Fase Final que, à primeira vista, têm números muito interessantes: nos últimos cinco anos, nove equipas diferentes qualificaram-se para a Fase Final nos sub18 e sub16 com a particularidade de, nos sub18, todos os anos existir um campeão diferente (e que se perspectiva irá acontecer, de novo, esta época).

Esta competitividade não esconde problemas como o facto de, num passado bastante recente, duas excelentes equipas terem ficado na segunda divisão uma temporada inteira, perdendo competitividade e, até, alguns jogadores para outros clubes.

Para quem não conhece o campeonato a explicação é simples: Dez equipas jogam entre si (a uma volta) para decidir quem vai para o grupo de cinco de cima, que decide o campeão, ou para o grupo de cinco de baixo, que decide quais duas equipas ficam em último lugar, sendo que esta segunda fase é a duas voltas. No total, 17 jogos. 17 jogos pensados em dar o máximo de competitividade às melhores equipas, já que acabam por se defrontar três vezes numa época.

O problema é que, apesar toda esta competitividade, o nível de rugby tem descido de ano para ano. E muito se explica pelo campeonato ser, apesar de tudo, fechado.

HÁ NOVAS PROPOSTAS DE MODELOS COMPETITIVOS?

Acredito piamente que o nível de uma equipa é tão bom quanto os seus substitutos: quanto melhores os suplentes, melhores os titulares. Tal se aplica a equipas – quanto melhor as “piores” equipas, melhor as “melhores” e isso só irá acontecer quando o campeonato for aberto a todos. Como, se há cerca de sensivelmente 30 equipas a competir em cada escalão, impossibilitando jogarem todas entre si? Criando Fases Regionais que culminam numa Fase Final.

A divisão é relativamente simples e tem uma base lógica: usando o exemplo e as equipas dos sub16 deste ano, há 8 no Norte/Centro. Juntando-as num único grupo a uma volta, temos 7 jogos e duas que se qualificariam. No Sul temos 21 equipas. Divididas em três grupos e jogando também a uma volta, com duas a qualificar-se por cada grupo, temos 6 jogos por grupo.

Como equilibrar os grupos do Sul? Juntando os resultados finais dos últimos três anos em ambos os escalões (sub16 e sub18) e depois distribuídos em serpentina: isso faz com que haja, depois, um emparelhamento dos escalões (ou seja, a grande maioria dos jogos de sub16 são os mesmos dos sub18 porque, por norma, os clubes têm ambos os escalões). Em baixo um exemplo do que seriam os grupos com um pormenor: a azul estão as equipas mais afastadas de cada grupo, sendo distribuídas duas por grupo para se tentar equilibrar viagens e kilómetros:

Imagem intercalada 1

Passando dois por grupo, teríamos uma fase final de oito equipas e aí, a duas voltas (equivalente a 14 jogos) teríamos o campeão nacional. Já as equipas não qualificadas iriam ter a entrada de equipas B (que jogariam entre si numa primeira fase), sorteadas num esquema de serpentina em dois grupos, por forma a evitar ao máximo passar uma época inteira sempre contra as mesmas. Resultado final: máximo de 21 jogos para os que iriam jogar na Fase Final e, no caso das não qualificadas, um máximo de 18 jogos (meias-finais e final para os dois melhores da Série B):

Retirando os actuais cinco jogos da taça e revertendo para jogos a eliminar, teríamos um acréscimo de, no máximo, três jogos em relação ao que temos hoje em dia no calendário anual. Mais jogos, sem dúvida, mas com duas vantagens: os ditos clubes mais fracos terem maior competitividade todos os anos, com a hipótese de se qualificarem para a Fase Final em igualdade de circunstâncias com todos os outros (impossível hoje em dia). Subindo o nível das equipas ditas mais fracas, irá subir, sem dúvida o nível das mais fortes.

Faz três anos que fui convidado para treinar os sub16 de Agronomia: depois de oito anos no Cascais, onde tive a sorte de passar por todos os escalões de Formação e de trabalhar com excelentes pessoas este foi, foi sem dúvida, um desafio que não podia recusar – não só pelas razões óbvias mas por me tirar da zona de conforto, puxar por mim, obrigar-me a aprender mais e mais rapidamente. Em suma, crescer como pessoa e treinador.

Penso que está na altura de fazermos o mesmo ao nosso rugby.


One comment

  • Luis Alves Martins

    Fevereiro 24, 2018 at 8:22 pm

    Boa Noite,

    Considero que este campeonato devia ser normal ou seja com 10 na 1 divisão a nivel nacional, 10 na segunda e 10 na terceira divisão.
    Portugal é muito pequeno para termos zona norte e sul

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