“Lobos” XV: o que esperar dos adversários da repescagem?
Estão definidos os adversários, o calendário e a localização para a fase de repescagem de acesso ao Campeonato do Mundo de rugby de 2023, com Portugal a ter de derrotar Quénia, Estados Unidos da América e Hong Kong na corrida por um bilhete dourado não só para o elenco de Patrice Lagisquet, como de toda a comunidade da bola oval lusa. Entre 6 e 18 de Novembro no Dubai, os “Lobos” vão medir forças frente a estes adversários, num mini-torneio em que a equipa que somar mais pontos marcará presença em França na maior competição de selecções da modalidade, impondo um esforço físico de alta dimensão, um factor que poderá ser decisivo no apuramento.
Ou seja, a cada quatro dias, o elenco português jogará um encontro desta repescagem, com os Estados Unidos da América a merecerem a etiqueta de “maior perigo” para o completar dos objectivos dos “Lobos”, não descurando a capacidade do Quénia ou Hong Kong, sendo a terceira aparição na repescagem para a selecção asiática – nunca conseguiram atingir a fase-final da competição, ficando sempre pelo caminho – e a segunda para a africana.
Sem olhar para os pormenores e detalhes que constroem dão corpo a uma análise mais profunda, é Portugal o favorito ao apuramento? Sim e não, pois divide o favoritismo com os Estados Unidos da América, nação que acabou por deixar fugir o apuramento em casa frente ao Chile (uma das histórias mais emocionantes dos últimos tempos do Planeta da Oval). E se observarmos o quadro maior, quais são as vantagens (e desvantagens) da selecção nacional em comparação com qualquer um dos três adversários?
The final chance to make it to #RWC2023… ?
?? @HongKongRugby
?? @OfficialKRU
?? @PortugalRugby
?? @USARugby pic.twitter.com/MZ7tHRpwHI— Rugby World Cup (@rugbyworldcup) July 25, 2022
QUÉNIA: ANARCISMO EM DOSE DUPLA
O apuramento africano para o Campeonato do Mundo de 2023 acabou como quase sempre: com a Namíbia a garantir o “bilhete”, deixando para trás Zimbabué, Uganda e Quénia, estes últimos derrotados na final. Num quadro competitivo emocionante mas pouco impressionante nos termos de rigidez tática ou de garantir uma estratégia palpável, o Quénia mostrou alguns pormenores de brilhantismo no ataque, procurando surpreender os seus adversários através de um rugby mais anárquico, de constante surpresa e de querer alterar o sentindo de jogo sempre que possível, encaixando bem com uma fisicalidade esmerada, apesar de pouco trabalhada.
É uma selecção em que a maior parte dos seus atletas alinha em clubes locais, com uns poucos a actuarem a nível internacional, tendo um investimento menor em comparação com as suas três adversárias nesta repescagem, com esse a ser um detalhe determinante para o seu destino final, já que um financiamento mais débil impacta na preparação para a competição.
Em suma, os pontos positivos estão na capacidade de risco, de mudar o sentido de jogo e conseguir obter dividendos dessa decisão, com a intensidade física dos primeiros 30 minutos a ser um “problema” para quem está do outro lado, enquanto do lado dos pontos contra, os Simbas não conseguem fazer frente nas fases-estáticas a adversários mais rodados, e apresentam uma defesa permeável quando enfrentam um adversário que tenha paciência e saiba controlar/construir fases-de-jogo. Dos três adversários de Novembro, é aquele que vai oferecer o maior desafio no patamar físico, e o que irá “simplificar” mais no que respeita ao táctico e execução técnica.
And its over.
Namibia defeat Kenya 37-18 to win the #BarthesU20 South Final.
Its been a battling and proud performance from #Chipu
Congratulations Namibia— Kenya Rugby (@OfficialKRU) March 31, 2018
HONG KONG: ENTRE DOIS “MUNDOS”
Nunca marcou presença em nenhum Campeonato do Mundo, apesar de ter estado presente em três repescagens de qualificação, ficando sempre à porte e atrás dos seus adversários europeus ou sul-americanos. Tem Hong Kong algo de especial, ou a qualificação asiática/oceânica facilita a qualificação de Hong Kong para esta última tentativa de acesso à prova mais importante do rugby de selecções? Não querendo divergir para questões competitivas, Hong Kong possui algumas características de interesse, como o jogo ao pé, boa estrutura de ataque, defesa ágil sem ser de alta confiança, e uma virtude mental para se manter (ou pelo menos tentar) ficar dentro de um encontro mesmo quando a situação não abona nada de bom para si.
Fragilidades nas fases-estáticas, pouca “alegria” a jogar, velocidade do ataque pouco enérgica nos períodos de jogo mais críticos, e excessivos erros na disciplina, sendo vítimas de si mesmo e de uma preparação pouco expedita – estiveram praticamente dois anos “fechados” e sem actividade internacional. Podem oferecer resistência, especialmente se Portugal quiser despachar o mais rapidamente possível o encontro, mas caso os “Lobos” efectuem uma exibição similar do que vimos contra a Geórgia, Espanha ou Itália, terão uma vitória bonificada.
20-8 @officialTongaRU lead over @HongKongRugby. We'll provide key highlights on this thread in the second half. pic.twitter.com/028E61MBvx
— RugbyAsia247 (@RugbyAsia247) July 23, 2022
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA: A GALINHA DOS OVOS DE OURO À BEIRA DO ABISMO
Não é mentira que a World Rugby observará com bastante nervosismo esta repescagem, especialmente pelo perigo de perder os Estados Unidos da América, nação que irá receber os Mundiais masculinos e femininos da modalidade em 2031 e 2033, o que a acontecer poderá forçar mudanças no número de equipas a apurar para futuros eventos. Com uma queda aparatosa frente ao Chile, a selecção liderada por Gary Gold (ex-treinador dos Sharks da África do Sul) terá que realizar algumas alterações nos próximos dois meses para conseguir neutralizar os seus dois erros mais penosos/custosos: disciplina, seja na conclusão das fases-estáticas, na saída da linha-de-defesa ou no sair do placador do ruck; e uma defesa mais equilibrada e de maior fiabilidade na abordagem às linhas atrasadas contrárias.
Sim, os EUA vivem uma época de alto crescimento no que toca ao campeonato interno, conhecida por MLR, mas essa evolução não afecta directamente a selecção nacional, uma vez que liga e federação estão praticamente de costas voltadas, muito devido a erros sucessivos do passado, somando-se ainda a proveniência do investimento privado na maior parte das equipas participantes na tal liga. Frente ao Chile, os Eagles viram pelo menos quatro a cinco atletas valiosos a ficarem de fora por imposição das franquias da MLR, o que debilitou largamente a capacidade de jogo dos norte-americanos. Contudo, caso estes retornem ao serviço dos EUA, a situação poderá complicar ligeiramente para os “lobos”, mas que não retirar o favoritismo repartido.
Portugal tem de apresentar o mesmo nível competitivo demonstrado contra a Itália e Argentina, isto nos primeiros quarenta minutos, em que o ritmo de jogo seja altamente intenso de modo a rasgar o sistema de defesa dos Eagles, e somar o maior número de pontos nessa primeira-parte.
A repescagem arranca em Novembro, e Portugal terá que garantir três vitórias para se apurar sem ter de recorrer à calculadora.
Forwards on the charge ✅
Great footwork ✅
Sweet offloads ✅@chilerugby turning on the style in their epic comeback win over USA#RWC2023 pic.twitter.com/uj7BzHMrfS— Rugby World Cup (@rugbyworldcup) July 19, 2022