Lobos vs Irlanda: o que esperar?
Será neste próximo Sábado 12 de Julho que Portugal irá encontrar a Irlanda pela primeira vez na sua história, num jogo que irá estrear a nova equipa técnica nacional, sendo também o único encontro dos Lobos nesta janela internacional de Julho, algo que não acontece desde 2015.
Já tendo falado da convocatória portuguesa nas semanas anteriores, e não existindo novidades por parte da Federação Portuguesa de Rugby, iremos olhar para a Irlanda que derrotou facilmente a Geórgia no Sábado passado, num encontro que terminou em 34-05 a favorecer a selecção do Trevo. Sem Garry Ringrose, Bundee Aki, Tadhg Beirne, Tadhg Furlong, Dan Sheehan, Jamison Gibson-Park, Josh van der Flier, Mack Hansen, James Lowe, Hugo Keenan, entre outros, a Irlanda treinada por Paul O’Connell (está a substituir Andy Farrell no lugar de seleccioandor) impôs-se sem dificuldade dando um tratado de bola à Geórgia, especialmente no dar bom uso ao jogo ao pé, fases-estáticas e eficácia ofensiva. Ao contrário do que alguns adeptos portugueses pudessem esperar, esta não é uma Irlanda enfraquecida e que se está a colocar a jeito, muito pelo contrário, pois todos os atletas que ficaram de fora da convocatória dos British and Irish Lions querem provar que merecem um lugar em futuras convocatórias.
Com Sam Prendergast a ditar um bom jogo ofensivo, a Irlanda dominou todas as acções da linha de 3/4s com destaque para Jamie Osborne, aquele que é talvez o atleta mais talentoso desta convocatória, seguido por Tommy O’Brien e Gavin Coombes. Contudo, há uma forte possibilidade que Prendergast comece no banco de suplentes frente a Portugal, dando o seu lugar a Jack Crowley, o que acabará por ser um problema igual ou maior para os Lobos, especialmente se a formação nacional oferecer demasiado espaço para que a Irlanda decida o que fazer com a bola em sua posse.
No que toca aos avançados, comecemos por avaliar o 5 da frente, com os pilares Jack Boyle, Tom Clarkson e o segunda liga Darragh Murray a terem impressionado ante os Lelos, tanto pelo contra maul ou no devolver da pressão na formação-ordenada. Ladeados por uma 3ª linha de extrema qualidade, no qual se encontram Coombes, Nick Timoney, Ryan Baird e Max Deegan, é de esperar que o adversário de Portugal se atire aos rucks com força e agressividade, na tentativa de não só forçar um turnover como colocar uma pressão enorme na gestão de jogo.
Posto isto, o que não pode acontecer? O que se viu frente à Roménia no que toca ao ataque e contra a Bélgica, Escócia e Estados Unidos da América no que concerne à defesa. Com Simon Mannix a ter aterrado em Lisboa há já um ano, é fundamental que se vejam melhorias técnicas e tácticas, algo pouco verificado no último Men’s Rugby Europe Championship. Ao contrário do que se pensava, este conjunto irlandês não está em modo férias ou experiências de laboratório, muito pelo contrário, e o resultado frente à Geórgia prova exactamente essa ideia.
Portugal necessita de entrar em campo com a equipa mais experiente e garantir um jogo estável dentro dos próprios 22, especialmente na saída do jogo ao pé. Indisciplina irá custar caro, e é algo que tem de obrigatoriamente melhorar, pois os Lobos possuem actualmente uma média de 16 penalidades por jogo, um dado extremamente elevado e que contra formações como a do próximo Sábado irá significar pontos sofridos. Entrar em campo com uma equipa algo inexperiente e/ou sem processes bem agilizados irá comprometer a estrutura de jogo, algo que se verificou frente à Roménia – Portugal só efectivamente melhorou com a entrada em campo de Joris Moura.
O par de centros e o asa do lado fechado terão a missão mais penosa neste encontro, já que os primeiros terão de fechar o raio de acção de Prendergast/Crowley e Osborne, enquanto o nº6 nacional ficará com a missão de sufocar a saída da formação-ordenada, especialmente nas combinações entre o 8 e 9/10. A Irlanda irá castigar Portugal constantemente a partir do jogo ao pé, recaindo responsabilidades acrescidas sob Simão Bento, Manuel Cardoso Pinto, Vincent Pinto e Lucas Martins.
Irá ser um jogo extremamente complicado para os Lobos de Simon Mannix, disso não há dúvidas, mas será fulcral que Portugal mostre uma intensidade e fisicalidade que consiga provocar problemas constantes à Irlanda.
Como último ponto, é importante frisar que a pouca adesão do público a um jogo desta envergadura só irá prejudicar as hipóteses de Portugal receber mais jogos deste nível frente às maiores nações da modalidade. Sabendo desde logo que os preços não são supra acessíveis, é importante perceber que a Irlanda não viria a Lisboa jogar por 20€ por bilhete, um preço já por si discutível. A Geórgia, que quer forçar entrada junto das maiores do Mundo, foi incapaz de colocar mais de seis mil (6000) adeptos no encontro frente à Irlanda, o que levantou logo dúvidas se existe interesse de facto do público georgiano na modalidade. A Espanha ao ter conseguido colocar mais de 19 mil pessoas ante as Fiji levantou o interesse da Inglaterra, Austrália e Escócia em querer realizar jogos frente aos Leones. Oportunidades destas não acontecem sempre e Portugal não se pode queixar da sua sorte, já que enfrentou a África do Sul, Escócia e, agora, Irlanda no espaço de um ano. Cabe também aos adeptos portugueses perceberem a dimensão destes jogos e participar neles. Caso contrário, só estamos a dar razão a certas comunidades que não podemos ter jogos desta envergadura. Não significa isto que a Federação Portuguesa de Rugby está isenta de culpas na promoção do jogo, muito pelo contrário.