Lobos nos Internacionais de Inverno 2025: dados e reflexões pt.1
Portugal encerrou os Internacionais de Novembro de 2025 com duas vitórias e uma derrota, terminando em 20º lugar do ranking da World Rugby, sendo a posição mais baixa que teve desde 2019, algo que acabou por condenar os Lobos ao pote 4 do sorteio do próximo Mundial de Rugby masculino. Contudo, e apesar deste pormenor, a selecção nacional comandada por Simon Mannix saboreou um mês com mais vitórias que derrotas, conseguindo uma diferença de pontos positiva (+34), conseguindo concretizar 12 ensaios, uma meta importante, especialmente quando só foram sofridos sete, sendo uma inversão do que se passou nas últimas três janelas de Test Match que não o Men’s Rugby Europe Championship.
Claro, que é importante relembrar que os Lobos defrontaram Hong Kong, um conjunto que não está no mesmo patamar, mas isso não belisca a prestação globalmente positiva neste Novembro de Portugal. Contra dois rivais que estão atrás no que toca ao ranking da World Rugby, não se deu um percalço, apesar da derrota frente ao Uruguai ter fechado qualquer possibilidade de aceder ao pote 3 do sorteio, o que significa que os Lobos estão destinados a um grupo da morte.
Rodrigo Marta terminou Novembro com quatro ensaios marcados, sendo não só o principal marcador de ensaios dos Lobos como foi o atleta com mais quebras-de-linha (8) e defesas batidos (14), tudo isto a partir da posição de centro. Marta foi incansável e um factor decisivo para o ataque português que por várias vezes tropeçou, necessitando que jogadores como o ex-jogador do Belenenses Rugby conseguisse encontrar uma solução a partir da sua qualidade individual.
Nicolás Martins somou dois ensaios, mostrando o quão importante é para Portugal tanto no dar outra dimensão física à equipa nacional, como nos alinhamentos, onde interceptou seis introduções adversárias – fundamental para garantir uma vitória frente ao Canadá.
No que concerne a outros dados individuais: Nicolás Martins foi o jogador português com mais placagens efectivas (37), tendo tido a sua melhor prestação ante o Canadá, no qual garantiu 15 (não falhou nenhuma). David Wallis foi quem garantiu mais turnovers (3) isto a nível do breakdown, com o atleta do Belenenses Rugby a ter se mostrado em bom nível. Raffaele Storti foi dos jogadores que mais vezes carregou a bola ao contacto, somando um total de 23, adicionando ainda sete quebras-de-linha e um ensaio ao seu pecúlio.
Curiosamente, os 3/4s foram forçados ir ao contacto mais que os avançados em dois jogos, frente a Hong Kong e Uruguai o que demonstra a disponibilidade física destes para se entregarem ao jogo e, por outro lado, a incapacidade de Portugal em garantir boa bola para as linhas atrasadas conseguirem fugir à equipa adversária.
No que toca nas conversões de ensaio, Portugal concluiu com uma média positiva já que Manuel Vareiro conseguiu cinco em sete, Nuno Sousa Guedes duas em quatro e Hugo Aubry converteu o seu único pontapé. Vareiro também esteve em bom plano no que toca às penalidades, encaixando quatro em cinco tentativas, ensacando um total de 27 pontos (um ensaio, cinco conversões e quatro penalidades), naquele que foi o seu ano de afirmação pela selecção nacional.
Importante destacar dois jogadores que impactaram os jogos a partir do banco de suplentes: Nuno Mascarenhas e Hugo Camacho. O talonador do GDS Cascais entrou com toda uma agressividade no contacto de grande quilate, para além de ter arremessado uma onda de placagens efectivas, sendo o suplente perfeito para Luka Begic. Já Camacho mostrou a razão pela qual é o melhor formação de Portugal a seguir a Samuel Marques, sendo imperceptível a sua situação de suplente nestes dois últimos jogos.
Em relação aos maiores problemas em termos destes dados que trazemos hoje foi a indisciplina, erros no pós-alinhamento, incapacidade para garantir aproveitar melhor os erros adversários (no jogo com Hong Kong e Canadá a falta de velocidade entre o ruck e as linhas atrasadas foi notória, em especial na primeira parte) e a instabilidade em situações de contra-ataque ou desvantagem numérica.
Portugal cometeu uma média de 15 penalidades por jogo, com os principais erros disciplinares a originarem no jogo ilegal no chão e fora-de-jogo da linha-de-defesa. Esta indisciplina foi decisiva para a derrota frente ao Uruguai, já que os Teros não só saíram ilesos de algumas situações críticas, como encontraram uma forma de garantir o caminho para conquistarem uma memorável vitória em Lisboa.
A vitória ante o Canadá veio de uma defesa dura e que nos últimos 10 minutos não cedeu mesmo debaixo de grande pressão, com a equipa a encontrar aquela ‘alma’ que identificou o rugby nacional entre 2018 e 2023.
No fim de tudo, Portugal saiu com saldo positivo deste Novembro, mas as prestações colectivas não foram largamente melhores em comparação com o que se passou no Men’s Rugby Europe Championship deste ano, já que se repetiram os mesmos erros e a se vislumbraram iguais fragilidades. Portugal cometeu 15 penalidades frente ao Uruguai e somou só 81% de eficácia na placagem, com aquele ensaio de Francisco Suárez a ser um dos vários exemplo da falta de qualidade da segunda cortina defensiva.
Na segunda parte desta análise iremos olhar para a forma como os ensaios de Portugal foram conseguidos e também para os sofridos, de modo a perceber as fragilidades lusas ao pormenor.



