Lobos em 2024: números, dados e ideias pt.4

Depois de termos visto os ensaios marcados e sofridos, os jogadores mais utilizados e outros dados relacionados com este último parâmetro, vamos destacar alguns dos melhores jogadores que estiveram em boa forma em 2024 e que deram uma resposta à altura das dúvidas.

TOMÁS APPLETON – CAPITÃO PARA TODA OBRA

2024 foi um ano em que as mudanças no staff técnico surtiram um efeito negativo na selecção nacional, com as mudanças de estratégia e na forma de jogar acabaram por incidir uma certa pressão nos jogadores principais, a começar em Tomás Appleton. Porém, e apesar daquilo que se pode pensar, o atleta do CDUL esteve a um alto nível e o facto de ter totalizado sete placagens que impediram um ensaio da equipa adversária demonstram a sua importância não só aspecto defensivo, como no dar uma importante força mental aos seus colegas de equipa. Foi dos melhores nos jogos frente à Roménia, Espanha e Estados Unidos da América, tendo jogado em todos os nove jogos que Portugal realizou neste ano que está perto de findar.

Todavia, há uma questão importante a ter em conta: Appleton não pode ser sempre a força nuclear nas linhas-atrasadas, especialmente quando já encerra em si o papel de capitão, líder e elo de ligação entre o 10-15. Se for possível retirar um pouco da pressão e descobrir uma forma de dividir melhor as tarefas de defender/pressionar o bloco opositor, poderemos ter um Tomás Appleton similar ao que tivemos no Mundial de Rugby 2023. De qualquer forma, época que termina com quatro assistências para ensaio, um ensaio de altíssimo nível frente à Roménia e mais de quarenta placagens efectivas.

NICOLÁS MARTINS – MVP DOS AVANÇADOS

Apesar do Montpellier ter demorado a perceber a utilidade e qualidade individual de Nicolás Martins, a verdade é que a selecção nacional portuguesa percebeu do seu valor desde 2022, com o atleta de 25 anos a ter sido novamente um dos melhores Lobos em 2024. Dois ensaios marcados, duas assistências, noventa placagens efectivas, uma entrega imensa e um crescimento visível em todos os capítulos, impondo-se como um dos jogadores decisivos para as vitórias frente à Namíbia, Roménia e Espanha. A prestação frente à Escócia foi sensacional com diversos roubos no alinhamento e uma dimensão física que foi dando outra força a Portugal, tendo sido reconhecido como um dos melhores nesse encontro jogado em Murrayfield. Se o alinhamento português funcionou na maior parte dos jogos desta temporada, muito se deve ao seu trabalho (e ao de José Madeira), sendo importante que continue a proporcionar-lhe um lugar central na estratégia defensiva… e ofensiva dos Lobos.

As requested, let's check out how/if Nicolás Martins was any good for 🇵🇹 vs 🏴󠁧󠁢󠁳󠁣󠁴󠁿

Stats, clips and an educated guess… pic.twitter.com/81KQdljtwe

— Francisco Isaac (@francisaac87) November 20, 2024

HUGO AUBRY – MVP DOS 3/4s

No ano de estreia pelos Lobos, Hugo Aubry demonstrou que pode ser a melhor solução para a posição de abertura, sendo importante que a própria Federação Portuguesa de Rugby ajude o atleta de 21 anos a encontrar um clube em França que lhe permita jogar mais, uma vez que o Béziers-Hérault não parece estar interessado em lhe proporcionar minutos no escalão principal. Nos sete jogos em que foi chamado a actuar pelos Lobos, o abertura converteu 62 pontos ao pé, assistindo para três ensaios e a garantir uma estabilidade ofensiva que nenhum outro abertura conseguiu ofertar à selecção nacional. Seria importante não continuar com experiências e começar realmente a desenhar o ataque de Portugal em redor das competências de Hugo Aubry, que tem tudo para brilhar ao mais alto nível.

LUKA BEGIC – O ESTREANTE DE OURO

Nove jogos a titular para Luke Begic naquele que também foi o seu ano de estreia por Portugal. Se o início pode ter sido algo tremido, Begic rapidamente encontrou a sua melhor forma e começou a injectar confiança nas introduções do alinhamento, só ficando abaixo dos 70% de eficácia em dois jogos (Estados Unidos da América e Bélgica), isto para além de ter sido um dos melhores placadores durante a temporada. Marcou dois ensaios, ambos a partir de maul dinâmico, liderando bem esta plataforma de jogo. Num ano em que os Lobos ficaram sem Mike Tadjer, era importante encontrar um talonador que garantisse algum tipo de estabilidade no pack de avançados, com Luka Begic a ter conseguido exactamente isso.

Nota também para Lucas Martins e Hugo Camacho, com ambos a se terem destacado em grande neste primeiro ano enquanto jogadores da selecção nacional sénior.

PEDRO BETTENCOURT – UMA HONRA FINAL

Forçado a abandonar os relvados por lesão, Pedro Bettencourt vai deixar uma imensa saudade no XV português. Merecia outra sorte, e seria importante que o rugby nacional lembrasse da importância de Pedro Bettencourt para o crescimento de Portugal nos últimos dois anos, com as prestações frente às Fiji, Austrália e Geórgia no Campeonato do Mundo 2023 a serem exemplos perfeitos da dimensão técnica, física e táctica do centro na forma de jogar dos Lobos. Um bem haja.