Lobos em 2024: números, dados e ideias pt.3
Com os ensaios marcados a terem sido já analisados, é altura de ver os sofridos, com os Lobos a terem consentido 35 toques de meta em 2024, 19 dos quais frente aos Springboks e Escócia, encontros realizados em Julho e Novembro, respectivamente. Vejamos alguns detalhes e observações sobre como a defesa de Portugal se deu neste ano que está quase a findar.
ERROS EM EXCESSO NA CORTINA DEFENSIVA
Comecemos pelo ponto principal: Portugal sofreu cerca de 24 ensaios a partir de fases-estáticas do adversário, sendo que 16 começaram no alinhamento e outras 8 na formação-ordenada, o que demonstra uma debilidade dos Lobos em fechar espaços a partir de plataformas estáticas. Na larga maioria destes ensaios ficou exposta uma confusão crítica no entendimento defensivo entre as linhas atrasadas, com Tomás Appleton a ficar várias vezes em desvantagem, denotando-se um excessivo espaço entre o 2º centro e ponta, algo bem aproveitado por várias dos conjuntos adversários de Portugal neste ano.
15 dos ensaios sofridos foram de 1ª fase, que se retirarmos os quatro que foram a partir de maul dinâmico, são 11, um dado estatístico preocupante e que assume ainda outras dimensões se adicionarmos o facto que nesses 15 registaram-se 22 placagens falhadas, algumas delas numa situação de 4 para 3 ou de 3 para 2.
O ensaio que levou mais tempo a ser sofrido deu-se frente à Bélgica e Géorgia, com estas duas selecções a precisarem 14 fases até chegarem à área-de-validação portuguesa. A média de fases até que as equipas adversárias entrassem no reduto nacional foi de 3,5, o que demonstra a permeabilidade de uma defesa que em 2021, 2022 e 2023 demonstrou um crescimento exponencial, tendo sido a base de grandes vitórias ou excelentes resultados frente a conjuntos de topo mundial.
E como podemos comaparar com o ciclo mundialista 2020-2023? É sem dúvida alguma a pior temporada dos Lobos dos últimos cinco anos, com os 35 ensaios sofridos a ocuparem o 1º lugar, seguido de 2021, ano em que a selecção nacional consentiu 32. Sim, Portugal jogou frente aos Springboks e Escócia, duas selecções de topo mundial, mas também tinha actuado frente à Itália e Geórgia em 2022, Austrália, Gales e Fiji em 2023, demonstrando que efectivamente há uma quebra no rendimento defensivo dos Lobos.
Se até à Escócia os Lobos não tinham sofrido qualquer ensaio de intercepção, em Murrayfield foram dois, com erros de passe a se traduzirem em ensaios contrários. As devoluções de bola ao pé representaram cerca de seis ensaios consentidos, com o da Bélgica a ficar bem na memória de todos os adeptos portugueses.
E qual é a conclusão final? Um queda na qualidade da estratégia defensiva portuguesa, com o rigor na placagem a decair, especialmente quando se fala na segunda vaga de defesas, notando-se especialmente bem isso ante os Estados Unidos da América, Escócia e África do Sul. Mesmo contra a Namíbia foi notória a dificuldade do aparelho defensivo dos Lobos, derrapando em diversos momentos, não tendo sofrido resultados piores devido à falta de qualidade do ataque contrário e de algumas placagens salvadoras de Rodrigo Marta, Nicolás Martins, Manuel Cardoso Pinto e Tomás Appleton (de longe o jogador com maior número de placagens que evitaram ensaios da equipa adversária).
A passividade defensiva foi outro problema que assolou o conjunto português, com várias das primeiras placagens a serem esboçadas a recuar e a oferecer a linha-de-vantagem ao conjunto contrário, que foi ganhando momentum e capacidade para dominar todo o processo ofensivo, forçando um recuo constante de Portugal. O ensaio que acabou por ser decisivo para a vitória frente da Bélgica é um claro exemplo desse ponto, com os Lobos a darem todo o tempo do Mundo para que a oposição tomasse as melhores decisões e aproveitasse a total passividade portuguesa.
Antes de fechar o artigo, importa frisar que este também foi a pior temporada em termos de penalidades consentidas, com os Lobos a fecharem o ano com uma média de 18, o que abriu um mundo de oportunidades aos adversários das cores nacionais para marcarem ensaios. É fundamental que a estratégia defensiva seja profundamente revista e, se necessário, até arranjar forma de investir em staff que garanta uma melhoria, ou procurar forma de não perder controlo da oval.
Sem sistema defensivo ou capacidade de domínio da posse de bola, Portugal não voltará ao nível apresentado no final de 2022 e durante todo 2023, e importa frisar que este é o momento X para que se façam as devidas alterações ou melhorias antes do início da qualificação para o Mundial de Rugby 2027. Não houve um jogo em 2024 que Portugal não tivesse sofrido um ensaio, outro detalhe que deveria causar alguma apreensão e reflexão por parte do staff nacional. Desvalorizar o que se passou em Murrayfield, na Namíbia ou ante a Geórgia na final do Men’s Rugby Europe Championship 2024 seria um péssimo princípio e que simplesmente abrirá a porta a futuros dissabores que os jogadores e adeptos portugueses não merecem.
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— World Rugby (@WorldRugby) March 17, 2024