Lobos em 2024: números, dados e ideias pt.2

Francisco IsaacDezembro 1, 20245min0

Lobos em 2024: números, dados e ideias pt.2

Francisco IsaacDezembro 1, 20245min0
Como é que os Lobos marcaram ensaios em 2024? Francisco Isaac olha para os dados e explica como Portugal chegou à área de ensaio contrária

Como prometido, nesta 2ª parte vamos olhar para os ensaios marcados pelos Lobos em 2024, deixando os sofridos para uma 3ª parte já que os dados são extensos e merecem uma atenção cuidada.

ALINHAMENTO GANHA PODER

Portugal fechou 2024 com 30 ensaios marcados, com a larga maioria concretizada por 3/4s. Porém, 55% advieram de alinhamentos de introdução portuguesa, o que demonstra o bom funcionamento desta plataforma na larga maioria dos jogos – só frente aos Estados Unidos da América, Geórgia e Espanha o alinhamento padeceu de problemas críticos. Curiosamente, destes dezasseis ensaios apenas dois ficaram sempre dentro dos avançados, com Luka Begic a marcar em dois drives. Por outro lado, o alinhamento defensivo de Portugal só valeu um ensaio aos Lobos, conseguindo-o frente à Namíbia, mas isto não significa que não teve impacto na capacidade defensiva dos Lobos, já que contra a Escócia, Espanha, Geórgia e Roménia impediu males maiores.

E a formação-ordenada foi plataforma de início de ensaios? Sim, em três situações, com a primeira a ter sido frente à Roménia. Naquele que foi um dos ensaios do ano, Portugal ganhou a bola na sua formação-ordenada bem dentro dos 22 metros, carregando a Roménia e a conquistar uma penalidade que Vasco Batista rapidamente deu seguimento. Depois de uma série de fases, a bola finalmente chegou às mãos de Lucas Martins, para o ponta marcar de forma triunfante.

Frente à Espanha, numa bela jogada de combinação entre Hugo Camacho, Tomás Appleton e José Lima, com o centro do SL Benfica a marcar mesmo junto aos postes, tendo sido este o segundo ensaio provindo dos 8 vs 8. E, finalmente, na Escócia, Samuel Marques aproveitou o avanço da formação-ordenada portuguesa para sair disparado e colocar a bola também junto aos postes, dando um 3º ensaio aos Lobos na visita ao Gas Murrayfield.

O jogo ao pé esteve envolvido em apenas quatro ensaios de Portugal, com destaques para o encontro frente aos Springboks, Roménia (o tal ensaio de antologia) e Namíbia. Sem o “mago” Jerónimo Portela, Hugo Aubry e Domingos Cabral conseguiram, a espaços, trazer este pormenor técnico para o ataque de Portugal, algo que adicionou um extra de imprevisibilidade ao jogo da equipa nacional.

Em termos da média de fases, Portugal, em média, marcar ensaios sem ter que ir ao chão e reorganizar a defesa, optando por passar a bola constantemente, mesmo que a conquista de metros fosse menor. A exemplo disso, foram dois ensaios frente à Namíbia, com os Lobos a irem de um lado ao outro sempre a passar mas a ganhar só 5-10 metros, até que a defesa contrária cometeu um erro de leitura ofensiva, perdendo a capacidade de fechar fileiras quando necessário. Curiosamente, esta estratégia já não correu tão bem frente a selecções fisicamente mais fortes como os Springboks, Escócia ou Geórgia, apesar que contra os campeões do Mundo dois dos ensaios foram conseguidos depois de muito trabalhar no contacto. Este pormenor diz-nos algo importante… Portugal não tem ganho o choque físico contra a maioria dos seus adversários directos, com a primeira-parte frente à Espanha e Bélgica a ser um claro exemplo disso mesmo, e que até deveria causar alguma preocupação perante os desafios de Fevereiro e Março.

CONCLUSÕES E PREOCUPAÇÕES

O ensaio mais longo dos Lobos em 2024 foi frente à Namíbia, demorando mais de 80 segundos até que se chegasse à linha-de-meta contrária. O mais rápido esteve no primeiro ensaio de Luka Begic por Portugal, com o maul drive a ser rápido e a dar uma força logo no arranque do jogo frente à Polónia. E por falar em processos longos, o ensaio com mais fases foi frente à Polónia, com 12 até que chegassem à área de validação adversária. Dos 30 ensaios, só quatro é que tiveram mais de 10 passes feitos, com esse da Polónia a ter tido 14 trocas de mãos, enquanto dois frente à Namíbia tiveram 13 e 12.

Dos 30 ensaios marcados, 23 tiveram uma ou mais quebras-de-linha, o que entra em perfeita sintonia com o ataque leve e ameaçador que a selecção nacional tem apresentado nos últimos cinco anos, mantendo parte do seu ADN. Para finalizar, importante ter em atenção outro ponto… seis ensaios advieram de recuperações de bola a partir do jogo ao pé, com a equipa portuguesa a ter genica suficiente para transformar essa recuperação em ensaios, com o três-de-trás de Portugal a ter sido uma das principais forças dos Lobos em 2024.

Em comparação com o ciclo mundialista de 2020-2023, como esteve o ataque? Em média de ensaios/jogos, está abaixo de todas as épocas, excepto 2020, com os Lobos a terem marcaram uma média de 3,3 ensaios por jogo. Isto é um ponto preocupante, claro, mas lembrar que em 2024, Portugal jogou frente a três selecções do Top-12 da World Rugby, algo que só aconteceu em 2023… e 2022. Verdadeiramente, e tendo presente o artigo anterior, Portugal realizou algumas reestruturações, mas manteve boa parte da equipa que conseguiu um Mundial de boa qualidade.

O maior problema está na defesa, e iremos ver isso na terceira parte da análise dos Lobos em 2024.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS