Lobos e os outros: comparação dos internacionais de Verão e Inverno
Portugal está num maré negativa de resultados desde Janeiro de 2024, com a chegada do actual staff dos Lobos a ter acentuado mais a situação, com a última derrota frente à Irlanda a ter acionado os alarmes internacionais. Mas será que a selecção nacional de rugby masculina está sozinha neste ‘barco’? O que se passou com Espanha, Roménia e Geórgia neste ano e meio?
Para o exercício em questão vamos só observar os jogos realizados nas Janelas de Verão (Julho) e Outono (Novembro) de 2024 e 2025, percebendo as tendências e o que isto nos diz da actual realidade dos Lobos dentro do seu universo de Tier 2.
Em 2024 Portugal jogou quatro encontros, dois em cada janela. No jogo de estreia de Simon Mannix, Portugal conseguiu derrotar uma Namíbia que já apresentava sinais de ‘doença’, tendo caído na Rugby Africa Cup 2024 aos pés do Zimbabué. Desde então os Lobos não conseguiram reverter a situação, com três derrotas consecutivas em 2024, uma delas frente aos EUA no Estádio de Coimbra.
Em 2025 Portugal, ao contrário da Espanha, Roménia e Bélgica só jogou um jogo, naquele desaire sem precedentes frente à Irlanda, no qual os Lobos mesmo com vários atletas a actuar em França (Nicolás Martins, Luka Begic, Simão Bento, Martim Souto, Gabriel Aviragnet, Vincent Pinto, Hugo Aubry, Hugo Camacho e Diogo Hasse Ferreira) foi incapaz de mostrar algo de palpável frente a uma Irlanda de terceiras escolhas.
Ora, no total, Portugal só actuou por cinco vezes em três janelas internacionais, menos dois jogos que a Espanha e menos três que a Roménia e Geórgia, o que já só por si demonstra que algo não está bem. Os Leones são a selecção Tier 2 europeia em melhor forma, com 4 vitórias e 3 derrotas nestas três janelas internacionais, tendo mesmo conseguido derrotar o Uruguai, Canadá e Estados Unidos da América. A Roménia também somou uma vitória frente aos EUA, Tonga e Canadá, mas no tour pela América do Sul concedeu três derrotas pesadas consecutivas, que se explicam pela ausência de 16 titulares, entre eles Jason Tomane, Taylor Gontineac, etc. A Geórgia vive uma situação complicada, em que apesar de ter ganho os Men’s REC, tem sido incapaz de mostrar crescimento e melhorias relativas tanto na disciplina e consistência exibicional. De qualquer forma, os Lelos somaram vitórias ante o Japão e Tonga, tendo oferecido excelente réplica frente à Austrália e Itália.
Se a reação do leitor for ‘Ah, mas Espanha, Roménia e Geórgia jogaram com selecções mais acessíveis, e obviamente iriam sempre ter melhores resultados’, então o problema começa aí, já que os jogos de preparação servem para diversos fins, desde do ganhar de rotinas dentro de equipa, testar atletas, refinar estratégias e tentar, de alguma forma, imputar algum profissionalismo. E se surgir também o comentário ‘Ah, mas Portugal rodou muito mais a equipa que qualquer uma das suas principais rivais’, lamento também dizer que não é verdade.
A Roménia ocupa o 1º lugar tendo feito uso de 70 atletas desde Janeiro de 2024, seguindo-se a Espanha de Pablo Bouza com 61, vindo finalmente os Lobos com 60 e, por fim, a Geórgia com 58. Portanto, Portugal não se pode escudar atrás de certas desculpas, e não pode querer justificar que as derrotas e ausência de mais jogos internacionais como dores de crescimento quando são um retrato de uma equipa em graves dificuldades e que só tem conseguido bons momentos em jogos devido à qualidade individual dos seus atletas. Lembrar que entre 2019 e 2023, Portugal nunca registou um ciclo tão negativo como tem neste de 2024 e 2025, ficando claro que não houve qualquer aproveitamento do destaque ganho no Mundial de Rugby 2023.
A exemplo disso, a Roménia saiu do Mundial altamente fragilizada somando desaires recordes frente à África do Sul, Irlanda, Escócia e Tonga, tendo recuperado forma e capacidade anímica ao ponto que atirou Portugal para um 4º lugar no Men’s Rugby Europe Championship de 2025, o que poderá acarretar consequências nefastas para o sorteio do Mundial e dos futuros RECs.
Posto isto, é claro que Portugal voltou atrás em diversos capítulos tendo perdido parte das competências adquiridas durante os quatro anos de Patrice Lagisquet, estando agora atrás não só da Geórgia como da Espanha e Roménia, uma situação crítica e que poderá levantar sérios problemas não só no sorteio dos grupos para o Mundial masculino de 2027, como para o futuro. Contudo, é também altamente preocupante observar comentários da direção da Federação Portuguesa de Rugby em Assembleia Geral em relação à derrota consentida frente à Espanha, ficando subentendido que o resultado negativo na meia-final era o cenário mais apetecível de forma a não gastar 100m€ numa viagem a Tblissi para disputar o título do Men’s Rugby Europe Championship 2025. Não só isto pode acarretar uma abertura de investigação da parte do IPDJ, como demonstra um amadorismo extremo na compreensão dos valores do respeito e potencialização da marca, já que a Espanha cresceu na sua imagem desde a ida à final, estando neste momento a colher frutos económicos e sociais que os Lobos decidiram prescindir. A acta da AG da FPR pode ser lida publicamente, lembrando que comentários similares já tinham sido realizados numa entrevista para a rádio.
Faltam dois anos para o Mundial de Rugby 2027, e espera-se que os Lobos voltem a apanhar o barco, ou pelo menos, que os egos sejam colocados de lado e que se permita efectivamente entrar numa rota de crescimento e desenvolvimento, como o anterior staff de Portugal tinha idealizado até à altura que foi forçado a se demitir em bloco.
Foto de Destaque de Luís Cabelo Fotografia