Internacionais de Verão: uma salva de palmas, Srs. Erasmus e Eddie Jones!

Francisco IsaacJunho 10, 201814min0

Internacionais de Verão: uma salva de palmas, Srs. Erasmus e Eddie Jones!

Francisco IsaacJunho 10, 201814min0
Um jogo espectacular entre Springboks e os cavaleiros de Sua Majestade abriu bem o fim-de-semana de Internacionais de Verão! Erasmus e Eddie Jones, quem saiu por cima?

Um incrível início das Series de Verão entre as várias nações do Tier1 e 2 do Mundo do Rugby! O Fair Play destaca as principais Series, com os diversos apontamentos, detalhes e outros temas que marcaram este fim-de-semana de muito rugby, jogos espectaculares, placagens sensacionais e alguns lances controversos!

Destacamos um jogo e meio por semana, com algumas anotações em relação aos restantes!

O ESPECTÁCULO DE 80 MINUTOS ENTRE BOKS E HOMENS DA ROSA

Bem-vindos à Series entre África do Sul e Inglaterra, que está cotada como a mais improvável em termos de resultado final e o 1º jogo serve como argumento para essa afirmação: 42-39, 10 ensaios, uma vantagem de 21 pontos iniciais da Inglaterra que começou a ruir a partir dos 20 minutos de jogo e uma África do Sul completamente “louca” com a bola nas mãos.

Foi um jogo que teve de tudo em excesso, mas que é aquilo que o rugby precisa: imprevisibilidade. Imprevisível no sentido que ninguém sabia como ia acabar, pois os ‘boks tiveram a vitória nas mãos mas de repente viram uma flecha inglesa a cruzar pelo meio da defesa, de seu nome Jonny May. Imprevisível também pela forma como a Inglaterra entrou a “matar”, com três ensaios sem resposta, aparente, por parte dos seus adversários. E, especialmente imprevisível, a partir do momento em que a África do Sul muda por completo a corrente de jogo e começa a desbravar terreno até marcar os ensaios necessários para se colocar no controlo do jogo.

Mas realmente o que se passou em Ellis Park, Joanesburgo? Como é que uma equipa perde uma vantagem de 21 pontos em 60 minutos? Que mérito e demérito existiu de um lado e do outro? Propomos as perguntas e respondemos com a nossa perspectiva.

Onde é que a Inglaterra esteve mal? Ao longo dos 80 minutos os jogadores de Sua Majestade fracassaram precisamente num ponto que já tinham falhado nas Seis Nações, a disputa, controlo e conquista do breakdown. Ao longo de todo o encontro, a Inglaterra cometeu 12 faltas, 6 das quais na disputa ilegal ou mal concebida no ruck, chegando demasiado tarde para tentar conquistar a bola no chão ou a entrar de lado repetidamente.

Os erros consecutivos no breakdown significaram também que esta selecção inglesa está lenta na defesa ou, melhor, na recuperação após a 1ª ou 2ª fase, abrindo por completo espaços nas alas. Mike Brown e Jonny May não foram o problema, mas sim a postura e reacção dos seus colegas em fazer uma segunda cortina defensiva que colocasse um ponto final na acção ofensiva da equipa da casa(sempre muito bem executada, munida de uma expressiva velocidade).

Por outro lado, foi notório que a Inglaterra tem um problema de liderança complicado de resolver, já que Owen Farrell não está ainda pronto para assumir a braçadeira, como ficou algo demonstrado durante o jogo. As ausências dos experientes “chefes” como Dylan Hartley ou James Haskell, tiraram alguma capacidade de “respirar” na hora de pensar e comandar e foi notório a falta que ambos fizeram dentro de campo nessa questão.

O amarelo de Vunipola, a falta de coesão nos 15 minutos finais e os erros na construção de fases (o último ensaio de May é mais por um rasgo individual do que um bom trabalho de equipa) são alguns efeitos dessa ausência de um par de vozes que ajudem a ditar as regras.

E, na realidade, o que é que a África do Sul fez mal e bem? Os primeiros vinte minutos demonstraram as fragilidades conhecidas do rugby sul-africano de momento… quando pressionados por um ataque agressivo e que agrupa a maioria dos seus jogadores mais móveis (Kolisi, Jean-Luc du Preez, Franco Mostert e Damian de Allende), rapidamente expõem autênticos “buracos” entre o 2º centro e o lugar do ponta, algo que Mike Brown e Elliot Daly aproveitaram para chegar à linha de ensaio.

Contudo, a forma como pegaram no jogo, foi espectacular em todos os sentidos. Um rugby sempre de alta rotação, com Faf de Klerk a forçar a sua avançada a manter a intensidade a todo o vapor, carburando uma e outra vez, colocando uma pressão agressiva e dura dos rucks até ao lançamento de uma fase de ataque mais móvel.

Com um três de trás bem trabalhado (Nkosi e Dyantyi estrearam-se nas pontas e seguiram excelentemente bem as ordens de Willie Le Roux) e uma avançada que soube anular as melhores peças adversárias (Ford jogou bem melhor, mas quantas vezes não foi caçado por Kolisi ou Mostert), a África do Sul rapidamente recuperou da desvantagem para não mais largar até ao final do jogo.

E, para fechar, que dizer da qualidade de Handré Pollard que deu outra rotatividade às melhores combinações das linhas atrasadas dos Springboks? O abertura esteve em alta e criou uma parceria sensacional com de Klerk, abrindo por completo o ataque sul-africano para um rugby mais de posse, controlo e de criação, do que no ano passado que se ficava pelo jogo ao pé, pressão alta e contra-ataque.

Segue-se o 2º jogo de um set de três encontros nestas Series… conseguirá Eddie Jones dar a volta por cima? Ou os Springboks vão voltar a fazer uma excelente exibição a atacar (mas nem por isso a defender)?

COM FOLAU NOS CÉUS, POCOCK NA TERRA E A IRLANDA SEM CABEÇA

O jogo mais antecipado destes internacionais de Verão teve uma série de vaivéns, colocando o público em nervos até ao minuto 77′, altura em que a Irlanda estragou uma boa possibilidade de passar para a frente do resultado. Porquê é que começamos com este detalhe? É que vale a pena perderem um momento e reverem a reacção de Conor Murray a uma decisão do árbitro que colocou a equipa a recuar, quando estavam a escassos metros da linha de ensaio.

Foi nos detalhes que a Irlanda sucumbiu perante uma Austrália muito dura, física e enérgica, impondo uma pressão soberba ao pontapé que tanto Murray, como Carbery, Earls ou Henshaw sofreram pesadas consequências em formas de placagem. É só verem na 1ª parte uma placagem fenomenal de Koroibete ao formação irlandês, que ficou meio KO nesse momento.

Os Wallabies acertaram 90% das suas placagens, enquanto que a Irlanda só falhou 11%, dados esses que apontam para um jogo mais “fechado”, de franca dureza mas surpreendentemente interessante. A Austrália fez menos 100 metros com a bola na mão, mas não significou isso que não foram mais claros na hora de ataque do que a Irlanda.

Porquê? Exactamente porque no final do encontro os da casa tinham feito dois ensaios (Foley e Pocock), enquanto que a Irlanda só optou por pontapés de penalidade.

Aliás, a Selecção do Trevo ganhou em quase todos os dados estatísticos: mais metros (420), quebras-de-linha (10), defesas batidos (19), offloads (6), alinhamentos (12 em 12), território (60% do terreno de jogo foi ocupado pela Irlanda, que estiveram mais 2 minutos do que a Austrália dentro dos 22 metros) e posse de bola (60% também). Contudo, também lideraram nos erros de posse de bola (21, uns incríveis 13 avants) e faltas (12), o que ajuda a explicar o porquê do fracasso nos últimos 10 metros.

A velocidade imparável de Stockdale ou Ears foram maniatadas pela combinação defensiva de Kerevi, Folau e Koroibete, com Haylett-Petty a tapar bem o canal exterior. E por falar em Folau, o defesa voltou a realizar uma exibição vertiginosa com 5 captações de bola no ar (duas delas espectaculares) que puseram a nu alguns problemas dos irlandeses na recepção de bola em jogo corrido.

A pressão ao pé foi um ponto essencial para o domínio físico por parte da Austrália, que tirou não só intensidade à equipa visitante, mas também reduziu a confiança e o à vontade que os irlandeses costumam ter. Folau nisso foi imprescindível, mas essencialmente foi Pocock, Timu e Hooper a dominarem na 3ª linha.

Timu estreou-se pela selecção (esteve exemplar na defesa, precisando de aparecer mais no ataque), Pocock “fartou-se” de roubar bolas no chão (foi penalizado com 2 faltas, conseguindo roubar, legalmente, 4 no ruck) e Hooper foi uma máquina de choque e de sacrificio que dá outra dimensão ao jogo australiano.

Essencialmente, todos conhecem Timu e Hooper por participarem afincadamente no ataque, todavia Cheika optou por reservar mais estes dois no papel de apoio no ataque… era necessário garantir uma segunda bola “limpa” e fácil de se jogar.

Michael Cheika sabia como garantir uma vitória no primeiro jogo, contudo a reacção irlandesa vai acontecer no 2º encontro das Series.

Sexton deve recuperar o seu lugar a 10 (fez muita falta ter um jogador dotado como o abertura do Leinster, que não só joga bem como lidera e organiza o jogo de outra forma mais completa), Furlong igual (o pilar fez muita falta, não só pela qualidade na formação ordenada mas igualmente pela sua participação no ataque, algo que podemos ver na 2ª parte), Dan Leavy vai regressar à equipa (que falta que fez o asa, com aquela frescura e impacto físico que detém) e, talvez, Larmour surja no XV de forma inesperada.

40 MINUTOS DE AVANÇO NÃO CHEGARAM PARA TRAVAR OS MELHORES DE SEMPRE)

De forma sucinta, a Nova Zelândia entrou mal no encontro, permitindo à França jogar com calma e a escolher os timings e velocidade de jogo, apostando também na falta de paciência que por vezes marca este conjunto de jogadores de Steve Hansen. Porém, aqueles 25 minutos divididos de jogo não foram suficientes para a França conseguir marcar mais pontos dos 8 que conseguiu (viria a elevar para 11 a 3 minutos do intervalo), batendo na defesa neozelandesa, perdendo o controlo da oval.

Os All Blacks só tiveram uns “pobres” 77% de eficácia na placagem, errando a direcção por 16 ocasiões… 15 das quais entre os 5 metros da França e os 40 da Nova Zelândia. Foram, novamente, impenetráveis no seu meio-campo, com o ensaio sofrido a resultar de um passe mal feito por Ben Smith (fez o turnover e depois quis atirar a bola o mais rápido possível para Jordie Barrett… Grosso estava “escondido”, apanhou a bola e foi até aos postes).

A partir dos 30 minutos, o controlo do jogo voltou para os bicampeões do Mundo que passaram largas dezenas de minutos no meio-campo francês. Aos 51 minutos, quando o encontro estava num 11-11 (com claro ascendente neozelandês) saiu amarelo para Paul Gabrillagues. Amarelo no mínimo discutível, uma vez que aos 65′ há uma falta muito semelhante, talvez um pouco mais grave pois Sam Cane acabou por placar ao pescoço, mas fez intenção de se baixa, e que com o critério escolhido daria também um amarelo.

Foi um momento que virou o jogo ao contrário com os neozelandeses a conseguirem irem à linha de ensaio de forma constante… rapidamente o resultado passou de 11-11 para 52-11. Beauden Barrett voltou a ser o chamariz que liderou o ataque neozelandês (e tem duas placagens que salvaram a sua equipa de lances de ensaio iminentes), aproveitando bem a boa construcção de linhas de ataque, esboçadas pelo par de centros, Ryan Crotty e Anton Lienert-Brown.

Jogo “medíocre” de toda a equipa francesa, com principal destaque negativo para a falta de “rins” de Mathieu Bastareaud ou as diversas falhas defensivas de Teddy Thomas (o 1º ensaio de Rieko Ioane vem através de uma assistência ao pé por Barrett que viu o avanço excessivo do ponta, para apostar nesse grubber pelas costas do francês).

Conseguirão os jogadores de Brunel dignificar a França ao jeito que fizeram nas Seis Nações? Ou vão ser “limpos” de novo pela Nova Zelândia?

MR. GATLAND ANULOU COM A MAGIA DAS PAMPAS

Quando todos (mais uma vez) pensavam que o País de Gales ia ter sérias dificuldades em controlar o ataque “louco”, frenético e mortífero dos pumas, acabámos por ver o contrário… a formação comandada por Warren Gatland não só prendeu os fantásticos Boffelli, Moyano ou Fuente, como conseguiram fazer um jogo quase irrepreensível.

O 23-10 final (podia ter sido pior, não fosse o ensaio de Lezana nos minutos finais) a favor dos Dragões Vermelhos, voltou a dar mais uma dose de confiança a uma selecção que está bem sólida e capacitada no que pode fazer com as “armas” que detém. Ross Moriarty completou 22 placagens (98% de eficácia), tendo um papel fulcral na consistência defensiva do País de Gales que aguentou bem com as investidas (pouco “agressivas” ou expeditas) da Argentina.

Aos poucos foram subindo no terreno, aceitando a posse de bola e contra-atacando com excelência… ao bom gosto de Warren Gatland. As 200 placagens galesas realizadas no fim dos 80 minutos contra as 95 da Argentina, comprova que uma equipa defendeu bem e teve paciência, enquanto que a outra muito atacou mas pouco fez por acontecer.

Ambas as selecções foram rainhas e senhoras das suas fases estáticas (33 alinhamentos e 12 formações-ordenadas ao todo, muito tempo de jogo desperdiçado nestes dois pormenores), cometeram uma bela dose de faltas (25 ao todo, com destaque para as 14 dos visitantes) e preocuparam-se a fazer um jogo mais de apalpação do que risco (umas pobre 10 quebras-de-linha na soma final, muito pouco em comparação com os outros jogos).

Os galeses já têm uma mão nas Series e agora vão fazer o jogo da espera, aguardando o melhor rugby da Argentina, que, para já, esteve longe de aparecer em Buenos Aires.

O JOGO DA SEMANA: África do Sul vs Inglaterra
O PLACADOR DA SEMANA: Ross Moriarty com 22 placagens (País de Gales)
A MELHOR DEFESA: Austrália
O DESBLOQUEADOR DA SEMANA: Beauden Barrett (Nova Zelândia)
O MVP: Rieko Ioane (Nova Zelândia)
O MELHOR SUPLENTE DA SEMANA: Damian McKenzie (Nova Zelândia)
O VILÃO: Conor Murray (Irlanda)
A DESILUSÃO: Irlanda

Para visualizar os jogos na sua totalidade convidamos a efectuar o download do seguinte website: 
África do Sul-Inglaterra
Austrália-Irlanda
Nova Zelândia-França
Argentina-País de Gales


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS