Cinismo fijiano rouba o sonho a Portugal – A Bola Rápida do World Trophy

Francisco IsaacAgosto 28, 20188min0

Cinismo fijiano rouba o sonho a Portugal – A Bola Rápida do World Trophy

Francisco IsaacAgosto 28, 20188min0
Portugal esteve na frente do resultado durante largos momentos do jogo, mas o cinismo dos seus adversários tirou o sonho de voltarem à final. A análise ao 2º jogo da fase-de-grupos

Uma derrota por 32-22 tiram a hipótese de Portugal rumar à final do World Rugby Trophy por uma segunda vez consecutiva. Os comandados de Luís Pissarra tiveram tudo para passar à fase seguinte, mas 20 minutos finais de um caos autêntico deram liberdade ao adversário de recuperar de uma vantagem de 17-10, que vinha do intervalo.

A 2ª bola rápida do World Rugby Trophy 2018, com a nossa análise a três detalhes do jogo.

MONTAR O MAUL, PARA MARCHAR, MARCAR! – 5 PONTOS

Portugal tinha estado mal frente ao Canadá no aspecto dos mauls, com quatro faltas consentidas na primeira acção de disputa a este aspecto do jogo. Se a defender não foi nada positivo, a atacar raramente fizeram uso desta ferramenta que a este nível pode ser decisiva. Frente às Ilhas Fiji tudo mudou nesse sector com os jovens lobos a conquistar mais de 40 metros a partir desta combinação dos 8 da frente.

Foi notável o trabalho realizado depois de caírem no chão, ao encarreirarem na direcção certa para ganhar metros e penalidades importantes durante todo o jogo. Contudo, Portugal conseguiu realizar dois erros atacantes ao montar o maul cedo demais, numa clara falta por obstrução (uma atenção para o facto dos jogadores fijianos atacarem o pod antes deste chegar ao chão, uma clara ilegalidade) que tirou boas oportunidades de ensaio.

Mas no aspecto geral foi notório o domínio dos avançados portugueses sobre os seus adversários, conquistando várias faltas na Formação Ordenada (só nos últimos 5 minutos, foram seis consecutivas no qual devia ter sido dado o ensaio de penalidade à segunda sem que o juiz de jogo se apercebesse desse facto… ou da lei), pondo os mauls a “marchar” ou a terem destruído seis alinhamentos das Fiji.

Foi, por assim dizer, o que se pede de um bloco de 8 em termos de fases estáticas. Por outro lado, foi um jogo que se viu muito pouco a velocidade da 3ª linha, que esteve algo omissa em momentos importantes ofensivos de Portugal. Manuel Nunes quando apareceu lançado no apoio esteve sempre bem, Duarte Costa Campos esteve algo mais “estático” e Manuel Pinto desgastou-se mais rapidamente devido ao seu envolvimento na defesa e disputa do contra-ruck.

Pedia-se mais envolvimento dos 8 nas manobras dos 3/4’s, especialmente da participação da pesada mas móvel primeira-linha lusa (David Costa continua algo afastado das fases mais dinâmicas do jogo, com apenas Nuno Mascarenhas a trabalhar bem no sector atacante) de forma a desgastar as linhas fijianas que tiveram um certo descanso neste ponto.

DOMÍNIO NEM SEMPRE TEM DE SER COM O PÉ NO ACELERADOR – 3 PONTOS

É fundamental que uma equipa/selecção tenha noção de não ter necessidade de estar sempre a imprimir a mesma velocidade ou intensidade durante todo o encontro… é importante saber equilibrar, fazer o tempo e timings de jogo funcionarem a seu favor, pressionando ainda mais quem está a perder. No caso português, o controlo luso foi notável durante boa parte do encontro, em específico entre os 20-60′, altura em que os comandados de Luís Pissarra passaram para a frente do marcador.

Foi excelente a postura dos lobos sub-20 na procura de soluções para a saída com bola, afastando-a bem dos seus 22 metros ao pé (percebe-se a introdução de Gabriel Pop na posição de 15, uma vez que tem um pontapé mais dotado e bombado que Manuel Cardoso Pinto) para depois estorvar os alinhamentos fijianos, o que permitiu esse tipo de turnover por mais de cinco ocasiões.

A estratégia e gameplay foram bem executados, levando a Fiji a recuar e a começar a arriscar na disputa do breakdown… penalidade, postes e Jerónimo Portela não tremeu perante os pedidos de conversão de João Fezas Vital. O ensaio de Rodrigo Marta chegou no momento certo, impondo uma pressão extra a uma desorganizada defesa fijiana que ia vivendo das suas agressivas placagens para afastar Portugal dos seus 22 metros (novamente no capítulo da arbitragem, estranhamente pareceu não foi aplicada a nova lei das placagens altas num jogo em que as Fiji abusaram dessa liberdade), sobrevivendo em certos momentos capitais.

Duarte Azevedo esteve sempre a um bom nível, sendo o 9 um dos grandes responsáveis pela boa primeira parte de Portugal… o ensaio de Marta saiu das mãos do 9 que criou uma destabilização geral na defensiva fijiana quando inverte o sentido do ataque, arriscando e bem neste aspecto.

Porém, Portugal a certa altura quis continuar a imprimir os mesmos dinamismos, arriscando cada vez mais em certas jogadas quando devia ter “guardado” a oval, fechando o jogo, o que poderia ter forçado mais penalidades a seu favor. Os seus adversários aproveitaram este convite para responder com a mesma força e em três momentos oportunos fizeram os ensaios necessários para não só dar a volta como garantir uma “almofada” confortável.

Faltou pedir mais sacrificio dos avançados (que tinham-no dado sem dúvida), faltou o par de médios e capitães de Portugal terem noção que podiam ter baixado o ritmo e faltou ter menos fome de arriscar tanto para apostar num jogo mais contido e mastigado que as Fiji não sabiam jogar contra.

IMPREVISIBILIDADE… DETALHE QUE PODIA TER SIDO DECISIVO – 3 PONTOS

Não há espaço para dúvidas para a ideia de que as Ilhas Fiji são o elenco que detém melhor placagem tanto no acto de encaixar no portador da bola, como de fazer este mesmo recuar para trás e cair no chão desamparado. Uma dureza extrema, mas na maioria das vezes legal e leal. Portugal em algumas ocasiões foi ao encontro do placador quando tinha oportunidade de inventar algo de diferente, em momentos que a defesa contrária deu espaço atrás do ruck.

O que isto significa? Que a partir do ruck, tanto Duarte Azevedo, como Manuel Nunes, João Fezas Vital podiam ter pegado na bola e saído pelo meio deste, não existindo ninguém das Fiji atrás para amparar este golpe de manha. Portugal jogou muitas vezes by the book, operando com excelência o modelo de jogo idealizado… mas tantas outras vezes podia ter feito algo que está no seu ADN: inventar.

Faltou mais imprevisibilidade, outra vontade de arriscar, de criar tudo do nada, um pormenor que muitas vezes deu alegrias a estes sub-20 nos últimos dois anos. Era necessário procurar castigar as placagens fijianas com um desgaste bem superior destes a partir de lances improvisados, que iam requerer mais atenção, abrindo mais espaço nos flancos.

Foram várias as tentativas de Manuel Cardoso Pinto, Gonçalo Santos ou Gabriel Pop de fugir a partir do canal exterior, só que os seus adversários estavam sempre lá à espera e não tinham que se esforçar muito para defende-los.

Do outro lado, as Fiji usaram e abusaram desse factor da imprevisibilidade, pois os ensaios nasceram sempre daquelas saídas arriscadas que resultavam em boas quebras-de-linha, expondo as costas da defesa lusa para depois desatarem a fugir sem que ninguém os conseguisse parar… offloads é um pormenor-chave desta selecção do Pacífico e a este nível paga-se muito caro a abertura de espaços concedidos por algumas más abordagens de placagem.

Não é que as placagens tivessem sido no geral más, uma vez que foram bastante acima da média… contudo, quando mais contava as Fiji exploraram, aproveitaram e marcaram os pontos necessários para fazer a desfeita aos jovens lobos.

NOTA FINAL – 11 PONTOS

ASPECTOS POSITIVOS: Maul dinâmico sempre bastante assertivo, andou vários metros e foi um factor importante na conquista de território; boa execução do plano de jogo durante a maior parte do encontro; boas placagens e bom apoio na cobertura; contra-rucks bem trabalhados e boa defesa junto a este; pontapés de pressão bem esboçados e que garantiram outra estabilidade; formações-ordenadas dominadoras na maior parte das ocasiões;

ASPECTOS NEGATIVOS: Falta de imprevisibilidade junto ao ruck ou no uso do jogo ao pé; inconsistência nas intensidades de jogo, abrindo espaço para a reviravolta fijiana; má finalização dos mauls, que andaram bastante bem mas precisavam de ter outra forma em termos de pontos; leitura errática da defesa contrária; placagem em momentos de desvantagem numérica deficitária;

PORTUGAL: 1. David Costa; 2. Nuno Mascarenhas; 3. José Sarmento; 4. João Fezas Vital ©; 5. Manuel Peleteiro; 6. Manuel Pinto; 7. Manuel Nunes; 8. Duarte Costa Campos; 9. Duarte Azevedo; 10. Jerónimo Portela (3,3); 11. Gonçalo Santos; 12. João Maria Lima (3); 13. Rodrigo Marta (5); 14. Manuel Cardoso Pinto; 15. Gabriel Pop.

Suplentes:

16. José Pimentel; 17. João Francisco Lima; 18. Filipe Granja; 19. Pedro Ferreira; 20. Sebastião Silva; 21. Francisco Costa Campos; 22. Martim Cardoso; 23. Duarte Pinto Gonçalves; 24. Diogo Cardoso (5); 25. Manuel Marta.

Equipa Técnica: Luís Pissarra (Seleccionador), António Aguilar (Treinador), Verónica Rodrigues (Team Manager), António Ferreira (Médico), Paulo Vital (Fisioterapeuta) e José Paixão (Analista)

Foto: Rugby Romanian

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