Breakdown dos 33 “Lobos” que vão estar no Mundial de Rugby 2023

Francisco IsaacAgosto 29, 202312min0

Breakdown dos 33 “Lobos” que vão estar no Mundial de Rugby 2023

Francisco IsaacAgosto 29, 202312min0
Francisco analisa as internacionalizações, de que clube vieram e o impacto dos 33 "Lobos" que vão estar no Mundial de Rugby 2023

24 horas depois do anúncio dos 33 “Lobos” que vão estar no Mundial de Rugby 2023, é altura de analisarmos a lista final e perceber bem quem são os atletas que vão representar as cores nacionais na 10ª edição da prova.

Começamos então pelos atletas, para depois irmos aos dados gerais, de forma a perceber a evolução de Portugal nos últimos 4 anos.

ATLETAS: ONDE ANDAM OS 33?

Aos atletas será atribuído o clube que representaram até Junho de 2023, uma vez que o Mundial de Rugby 2023 ainda está consagrado na temporada 22/23, ou seja, nos casos de Rodrigo Marta ou Vincent Pinto iremos considerá-los como jogadores do Dax Rugby e Séction Paloise, respectivamente, tendo ambos já assinado pelo Colomiers (ProD2). Consideraremos também a divisão que actualmente estão os clubes… caso tenham subido, como é o caso do Valence Romans ou Dax Rugby, os atletas que jogam por estes clubes estão aí catalogados.

Dos 33 convocados 17 jogam em França e 16 em Portugal, como já dissemos anteriormente, sendo que vamos olhar agora para quem está a actuar fora do espaço nacional. Desses 17, sabemos que:

Sete começaram ou foram formados em Portugal, saindo entre os 16 e 18 anos para fora, como é o caso de Rodrigo Marta, Raffaele Storti (já tinha jogado pelo Peñarol em 2020), Simão Bento, José Madeira, Diogo Hasse Ferreira (antes de França esteve em Espanha), Pedro Bettencourt e José Lima. Cinco destes sete jogam na ProD2 francesa, enquanto um outro está no Top14, com José Lima a estar na Nationale 1;

Dez foram formados única e exclusivamente no espaço gaulês, como é o caso de Mike Tadjer, Francisco Fernandes, Samuel Marques, Nicolás Martins, Steevy Cerqueira, Thibault Freitas, Vincent Pinto (foi mesmo internacional sub-20 pelos Les Bleus), Anthony Alves, Joris Moura (internacional sub-20 francês) e Lionel Campergue. 5 actuam na ProD2, enquanto Mike Tadjer e Vincent Pinto estiveram no Top14 até ao fim da temporada transacta e Pedro Bettencourt subiu com o Oyonnax, existindo ainda um atleta que jogou na Nationale 1 e outro na 2 – em 2023/2024 só Pedro Bettencourt estará no Top14.

São visíveis dois blocos neste sector, com uma parte a pertencer às gerações sub-18 e sub-20 que foram formadas por Rui Carvoeira, Francisco Branco, Luís Pissarra e António Aguilar, como é o caso de Madeira, Bento, Marta e Storti, um dado importante a reter e que ajuda a explicar o actual sucesso dos “Lobos”. Do bloco de sete que foram formados em Portugal e saltaram para a Europa, dois foram formados no CF “Os Belenenses” (Rodrigo Marta e José Madeira), dois no Técnico Rugby (Simão Bento e Raffaele Storti), um no CDUP (Pedro Bettencourt), Agronomia/Évora (José Lima) e GDS Cascais (Diogo Hasse Ferreira).

Contudo, e apesar desta nova vaga jovem a “invadir” as principais ligas de rugby, a média de idades do contingente a actuar em França está nos 28 anos, com Francisco Fernandes (37, fará 38), Lionel Campergue (36), Samuel Marques (34) e Anthony Alves (33) a serem os mais veteranos deste grupo. Nove são avançados (3 pilares, 2 talonadores, 2 segundas-linhas e 2 terceiras-linhas) e nos 3/4’s são oito (1 formação, 1 abertura, 2 centros, e 3 três-de-trás).

ATLETAS: E EM “CASA”?

Em relação aos 16 atletas que jogam em Portugal, podemos observar que:

7 pertencem aos campeões nacionais em título, o GD Direito, que já em 2007 tinha colocado dez dos seus atletas nos “Lobos”;

– 3 do CF “Os Belenenses” – Pedro Lucas, que conta como atleta do clube de Belém, voltará, ao que tudo indica, para o Técnico já na próxima época;

– 2 do CDUL e CDUP;

– 1 de Agronomia e GDS Cascais;

Em termos de aquisições internas, Manuel Picão, actual 2ª/3ª linha do GD Direito, foi formado até ao escalão sénior na Académica de Coimbra, tendo depois saído para Lisboa já há alguns anos. Pedro Lucas fez a carreira toda pelo Técnico Rugby, enquanto o 3ª linha Rafael Simões já esteve em diversos clubes portugueses, mas fez toda a sua formação no CF “Os Belenenses”. Francisco Bruno é dos poucos atletas a ter vindo de um círculo “menos conhecido”, já que foi atleta do da secção de rugby do Vitória FC (agradecimento ao João Paulo Pedrosa pela informação) antes de alistar pelo GD Direito.

Se considerarmos a formação dos clubes enquanto atletas de escalões jovens, e adicionando os jogadores que saíram para jogar fora, podemos dizer que:

– CF “Os Belenenses” e GD Direito dividem o 1º lugar com 5 atletas formados cada;

– Técnico e CDUP com 3;

– GDS Cascais e Agronomia Rugby com 2;

– Vitória FC (secção de rugby), CDUL e Académica com 1;

Voltando aos atletas que exclusivamente jogam em Portugal, a média de idades circula nos 25,8, mostrando que ainda existe espaço de manobra tanto num lado como do outro para este grupo chegar ao Campeonato do Mundo de Rugby 2027 em bom estado, caso o investimento e apoio suba de tom e ajude os atletas a progredir.

ATLETAS: INTERNACIONALIZAÇÕES

E em termos de internacionalizações, o que há para dizer? Tomás Appleton, o capitão, é o atleta que ostenta o maior número de representações pelos “Lobos” tendo já atingido a fasquia acima das 60 e com os olhos postos em chegar, no futuro, às 100.

Joris Moura está no extremo oposto, tendo representado apenas uma vez Portugal, sendo que só se estreou em Julho de 2023. José Madeira aos 22 anos já ostenta o número “gordo” de 32 representações pelas Quinas, e a manter este nível facilmente atingirá um recorde dentro do rugby português. Francisco Fernandes é o atleta mais “antigo” da casa, tendo somado a sua primeira internacionalização em 2010, mais precisamente no dia 5 de Fevereiro desse ano, num jogo frente à Rússia (derrota por 14-10).

Em marcadores de ensaios, Rodrigo Marta detém o recorde nacional com 28 encaixes na área-de-validação, podendo facilmente chegar aos 50 antes de atingir os 26 anos de idade, naquilo que seria uma métrica espantosa. Diogo Hasse Ferreira é o pilar com mais ensaios marcados (7), enquanto Duarte Diniz é o talonador com melhor marca nessa métrica (7), e Rafael Simões na 3ª linha (8).

O sector do três-de-trás de Portugal guarda para si 74 ensaios marcados, o que demonstra a importância destes pontas e defesas para o crescimento dos “Lobos”. Se têm dúvidas, basta ver que 69 destes 74 foram marcados durante a era de Patrice Lagisquet, sendo uma boa prova para explicar a letalidade do jogo corrido da selecção nacional masculina sénior.

STAFF: O IMPACTO LAGISQUET

Por falar no seleccionador nacional, desde que o antigo internacional francês assumiu as rédeas, Portugal somou várias vitórias e inverteu uma tendência negativa até ao dia que desceu para a 2ª divisão das competições da Rugby Europe. Contabilizando só os jogos realizados nestes últimos quatro anos, podemos ver que:

Somou 17 vitórias de um total de 29 jogos, tendo consentido somente dois empates (frente à Geórgia e EUA em 2022 por 25 e 16 pontos respectivamente). A maior vitória foi frente ao Quénia em 2022, por 85-00, com a mais curta a ter sido ante o Canadá por 20-17, num jogo decidido nos últimos minutos.

– Espanha, Roménia, Bélgica, Países Baixos, EUA e Brasil foram as selecções que Portugal mais vezes ganhou, com duas em cada, sendo que não foi capaz de as conseguir em terreno forasteiro;

Nos 16 jogos disputados em casa, Portugal conquistou 12 vitórias, mostrando que o Jamor/Coimbra são dois baluartes importantes para os resultados dos “Lobos”;

A maior derrota deu-se ante a Geórgia em 2020, quando Portugal consentiu um desaire por mais de 15 pontos, num encontro jogado em Paris (24-39). Curiosamente, é também o jogo em que os “Lobos” mais sofreram pontos nestes últimos 4 anos;

970 pontos foram marcados durante este período, com mais de 140 ensaios conseguidos, um recorde total na história do rugby nacional, com só 592 pontos sofridos, mostrando uma total inversão do paradigma até à chegada de Patrice Lagisquet.

Dos 29 jogos, Portugal terminou três sem sofrer qualquer ensaio, e apenas um não consentiu qualquer ponto. Curiosamente, os “Lobos” nunca perderam um jogo sem marcar pontos e ensaios;

A maior sequência de vitórias foi entre Novembro de 2022 e Março de 2023, arrancando sete vitórias consecutivas, no qual garantiu a qualificação para o Mundial 2023 e o acesso à final do Rugby Europe Championship;

O pior momento dos “Lobos” deu-se, curiosamente, em 2022, mais precisamente entre Janeiro e Julho desse ano, altura em que só uma vitória foi conquistada em seis jogos possíveis;

Lembrar que não estão contabilizados os jogos frente à Austrália “A” ou Argentina “A”, uma vez que de acordo com a World Rugby, não contam como Test Match oficial.

Mais de 50 atletas foram testados e lançados pela equipa técnica dirigida por Patrice Lagisquet, com 90% dos actuais 33 a terem vindo desde 2020, demonstrando que o grupo está consolidado há bastante tempo.

Neste breakdown dos números, conseguimos ficar a perceber como Portugal passou de uma selecção debilitada e “perdida” entre os 20 e tais do ranking da World Rugby, para estar em 2023 a disputar o top-15 mundial, com um saldo positivo quer de ensaios, vitórias e pontos, um marco completamente extraordinário e sem precedentes. A evolução foi conseguida não só pela melhoria total das camadas jovens nos clubes nacionais, onde as academias regionais e os sacrifícios de treinadores e pais foram também essenciais, mas também graças ao impacto de quem está a jogar lá fora e dos atletas que deram o salto para esse destino.

À entrada para a 2ª participação de Portugal num Mundial de Rugby, é importante ter isso em conta, e de como o impacto altamente positivo da ida dos “Lobos” a França 2023 poderá estimular novas gerações a surgirem e a serem os novos Marta’s, Madeira’s, Storti’s, ou Granate’s do futuro.


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