Alguns dados e notas do sucesso alcançado nos Lobos em 2019

Francisco IsaacNovembro 30, 20199min0

Alguns dados e notas do sucesso alcançado nos Lobos em 2019

Francisco IsaacNovembro 30, 20199min0
O Rugby Português teve um ano de 2019 de excelência, com vários resultados positivos obtidos, entre os quais a promoção para o Rugby Europe Championship. A análise aos Lobos, do que foi feito e o que fica

Com o encerramento do ano de 2019, regressamos brevemente ao passado-recente das selecções nacionais de rugby de Portugal para perceber o que e como foi alcançado os resultados e o legado que fica, deixando pistas para o caminho a percorrer pelos Lobos no futuro. Esta é a nossa leitura ao que aconteceu em 2019 no rugby de XV (os 7’s ficarão para outra análise) na Selecção Nacional.

SENIORES… ANO PERFEITO SEM DERROTAS E COM A PERMANÊNCIA GARANTIDA

Martim Aguiar, auxiliado por Nuno Damasceno e João Mirra, guiou os Lobos não só à conquista do 3º Grand Slam no Rugby Europe Trophy (2ª divisão da instituição que “rege” em parte o rugby europeu) como à tão desejada promoção ao Rugby Europe Championship depois dos Lobos terem descido de divisão em 2016, na altura sob o comando de Ian Smith.

Depois de não ter sido conseguida a promoção em 2017 e 2018 (derrotas frente à Bélgica e Roménia, selecções com um elenco praticamente 100% profissional ou onde o semi-profissionalismo é regra), os jogadores portugueses foram até à Alemanha – Frankfurt – para garantir uma vitória por 37-32, com um 23 recheado de juventude: Nuno Mascarenhas, José D’Alte, José Rebello de Andrade, David Wallis Carvalho, Jorge Abecassis, António Monteiro, Rodrigo e Manuel Mata, Gonçalo Prazeres, Manuel Pinto e António Vidinha.

Em três anos de liderança de Martim Aguiar, os Lobos conquistaram 15 vitórias no Rugby Europe Trophy, com 619 pontos marcados e 144 sofridos, sendo que a temporada 2018/2019 foi definitivamente a melhor nesses dados com um recorde de 272 PM e 31 PS (Jorge Abecassis com 49 pontos foi o melhor pontuador do Trophy e Rodrigo Marta e João Belo como os melhores try scorers), não esquecendo que o resultado de 93-00 registado frente à República Checa bateu o recorde de maior vitória de sempre.

Nestes três últimos anos, foram mais de duas (ou mesmo três) dezenas de atletas a estrearem-se na Selecção Nacional, provindos essencialmente das últimas quatro/cinco gerações de jovens jogadores portugueses que se destacaram nos sub-20 como José Roque, Manuel e Rodrigo Marta, Manuel Cardoso Pinto, Martim Cardoso, João Maria Lima, David Wallis Carvalho, José Rebello de Andrade, Nuno Mascarenhas, Jorge Abecassis, António Vidinha, Caetano Castello Branco, Vasco Ribeiro, entre outros tantos, alimentando os Lobos de uma forma sensacional.

Pode-se arguir que a ascensão meteórica desta nova gama de jogadores só foi possível porque as gerações mais “velhas”/experientes não estavam disponíveis (ou que já tinham dito adeus aos relvados) ou pela quase inexistência de atletas semi ou completamente profissionais nos grupos de trabalho… contudo, é impossível não aceitar que as gerações de 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001 são definitivamente especiais e que têm uma qualidade francamente acima das suas anteriores no cômputo geral (não foram só 3 ou 4 a singrarem no patamar cimeiro do rugby português, mas sim números curiosamente largos), tendo sido bem trabalhadas e guiadas nas selecções nacionais.

Regressando aos resultados, Portugal nos Internacionais de Verão (Junho) e Inverno (Novembro) com Martim Aguiar ao leme registou duas vitórias (Brasil e Bélgica em 2016) e duas derrotas (Namíbia e Brasil em 2018), sendo que em 2019 a vitória obtida no Chile e derrota ante o Brasil não são consideradas por já pertencerem ao período de liderança de Patrice Lagisquet.

Mesmo perante as dificuldades orçamentais da Federação Portuguesa de Rugby entre 2015-2019, o staff técnico Nacional garantiu uma percentagem de vitórias de relevo, que mesmo recebendo a (des)consideração de terem sido alcançadas frente a selecções de nível inferior (a Holanda “destruiu” a Alemanha por completo no Rugby Europe Trophy neste Novembro de 2019), merece ser lembrado como um momento de franco sucesso para o rugby português. Não foi possível alcançar o playoff para o Rugby World Cup 2019, mas perante todos os problemas existentes, a falta de atletas profissionais na equação e a ausência de uma estrutura que garantisse e garanta uma estabilidade emocional e física aos jogadores amadores, seria sempre praticamente impossível Portugal ultrapassar a Samoa na fase seguinte.

Martim Aguiar, Nuno Damasceno e João Mirra (e restante staff) fecharam este capítulo de 2016-2019 com as maiores honras possíveis, devolvendo os Lobos ao nível que merecem e devem estar, merecendo um agradecimento público pelos resultados obtidos, sendo os fundadores deste nova “manhã” para os Lobos – João Mirra manteve-se na estrutura da Selecção Nacional “A” juntando-se à equipa técnica comandada por Patrice Lagisquet.

SUB-20 ENTRE OS TONS DE GLÓRIA E SUCESSO DE UM TRICAMPEONATO EUROPEU

Sucesso… esta é a palavra que fica obrigatoriamente colada à passagem de Luís Pissarra pelo escalão sub-20 com três campeonatos europeus (2017, 2018 e 2019), duas medalhas de prata e uma de bronze no World Rugby Trophy U20 (2017, 2018 e 2019), para além de um registo de 24 vitórias conquistadas em 28 jogos, ou seja, um feito extraordinário nunca antes alcançado.

Portugal sob a liderança de Luís Pissarra derrotou selecções como o Uruguai, Fiji, Tonga, Espanha, Roménia ou Namíbia, selecções que na categoria sénior estão bem acima das cores nacionais, numa prova clara da evolução qualitativa não só dos atletas mas também na estratégia de jogo optada. Com pouco investimento e apoio económico, os Lobos sub-20 conseguiram ser extraordinários tanto nos torneios europeus como de Mundiais “B”, ficando muito perto da subida ao principal torneio de rugby sub-20 à escala mundial.

Em 2019, o registo foi de 6 vitórias em jogos oficiais (França-Aquitânia, Holanda, Espanha, Canadá, Hong Kong e Tonga), adicionando ainda mais três em jogos amigáveis frente ao Canadá (2x nas Caldas-da-Rainha) e Espanha, com apenas 1 derrota registada em todo o ano. Luís Pissarra efectivamente conseguiu montar grupos de trabalho competitivos, intensos e dinâmicos mostrando que o sucesso não se explica só porque uma ou duas gerações eram brilhantes… depois de ter Manuel Picão, Vasco Ribeiro ou José Luís Cabral a singrar em 2017, poucos pensariam que em 2018 e 2019 surgissem novas fornadas de atletas de nível extraordinário.

Felizmente surgiram nomes como João Fezas Vital, José Roque, David Costa, Nuno Mascarenhas, Martim Cardoso, Duarte Azevedo, Manuel e Rodrigo Marta, Raffaelle Storti, Manuel Nunes, entre outros, que foram deixando o Planeta da Oval de boca aberta com o sucesso da formação do rugby luso.

Com a saída do seleccionador tricampeão europeu e vice-campeão do WR Trophy, a pressão está agora do lado de quem assume o comando dos jovens Lobos, sendo que se esperam resultados iguais ou similares aos que foram conquistados nos últimos três anos, para além da manutenção do estilo de jogo intenso, agressivo no breakdown, conquistador nas formações estáticas e de uma capacidade de invenção ofensiva de fino calibre.

Para quem faça da derrota contra o Japão como a demonstração que falta algo ao rugby português, então deveria preocupar-se a ver os resultados obtidos, o impacto a nível de imagem à escala europeia e mundial e a produção de atletas para os Lobos “A” para talvez perceber que não é uma derrota que assina o sucesso de um trabalho extraordinário.

Uma das melhores vitórias dos sub-20 este ano frente ao Tonga

OS JOVENS SUB-18 QUE SILENCIARAM KALININGRADO

Foi um adeus sentido de todos aqueles jogadores que passaram pelas mãos de Rui Carvoeira, que depois de vários anos de ligação à Federação Portuguesa de Rugby acabou por não ver o seu contrato renovado, apesar de ter conquistado um 3º lugar em Kaliningrado frente à equipa da casa, a Rússia. Para quem se recorda do encontro, foi uma das exibições mais cromáticas dos sub-18, onde o sentido de risco apurado, a capacidade de perfuração no contacto e a contra-reacção no bloco defensivo foram chaves para o sucesso.

O trabalho de Rui Carvoeira tem de ser relembrado como fulcral na linha de sustentabilidade não só dos Lobos, mas dos jogadores que representam os clubes nacionais, existindo mais de 150 atletas (senão mais) que efectivamente foram comandados nos sub-18 pelo agora treinador da RC Lousã.

Nos últimos quatro anos, este escalão conquistou duas medalhas de bronze em Europeus, conseguindo contrariar a formação-ordenada da Geórgia em 2016 ou até mostrar alguma equiparação frente à França em 2017, sem esquecer que na preparação para estes torneios e jogos existia pouca ou nenhuma experiência internacional nos atletas seleccionados.

No ano que agora finda, Rui Carvoeira garantiu 3 vitórias, duas no CEuropa 2019 (Bélgica e Rússia) e outra num amigável frente à Espanha, realizado em Évora, consentindo apenas uma derrota frente à Espanha, num jogo que até podia ter terminado com vitória portuguesa. O ex-seleccionador nacional lançou uma quantidade larga de atletas na cena internacional, formando jogadores para as etapas seguintes sendo que alguns dos que actuaram no Campeonato da Europa sub-18 em 2019 já foram convocados para a Selecção “A” como Simão Bento ou José Madeira, mostrando o sucesso atingido neste escalão.

Um treinador intenso, exigente e que não pedia a perfeição mas sim a execução capaz e eficiente dos processos dos seus comandados, Rui Carvoeira mostrou-se sempre como um dos grandes “pais-fundadores” deste sucesso conquistado em 2019 em todos os níveis das Selecções Nacionais.

Com a saída da larga maioria destes treinadores, abre-se agora um novo capítulo para Patrice Lagisquet, Frederico Sousa ou João Uva nos vários patamares da Selecção Nacional, esperando que se obtenham resultados que continuem a influenciar positivamente o rugby português.

O que se segue… (Foto: CBRU)

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