A prestação de Portugal no Men’s REC: ensaios e sectores

Francisco IsaacMarço 31, 20246min0

A prestação de Portugal no Men’s REC: ensaios e sectores

Francisco IsaacMarço 31, 20246min0
Terceira parte da análise à prestação de Portugal no Men’s REC 2024 com pontos positivos e negativos a rever

Terceira e última parte da análise à prestação de Portugal neste Men’s Rugby Europe Championship 2024, e depois de termos analisado jogo-a-jogo, visto os jogadores, é altura de percebermos quais foram as principais virtudes e problemas dos Lobos, e o que necessita de ser melhorado para garantir uma qualificação para o Mundial de Rugby 2024 pacífica!

FASES-ESTÁTICAS

Começamos pelo negativo: formação-ordenada. Portugal dominou frente à Polónia, mas revelou alguns problemas ante a Bélgica e Espanha, para depois ter uma noite complicada na Roménia e a finalmente a ser passado por cima na final contra a Geórgia. A formação-ordenada portuguesa terminou com 77% de bolas próprias ganhas, com esse número a ter terminado baixo muito por conta do jogo da final, mas já entrará para esse choque de titãs com um registo nada positivo. Da formação-ordenada brotaram dezassete penalidades, um problema crasso e que demonstra que a ausência de Francisco Fernandes, Anthony Alves, Cody Thomas fizeram mossa – todos disponíveis para o jogo da final – sendo que pode ser “aceitável” se estamos a falar de construção de uma nova identidade na 1ª linha. Porém, em 2025 os adversários de Portugal não vão ficar de braços cruzados e esperar que os portugueses cresçam, apostando pesadamente neste sector para tentar estancar o poderio ofensivo dos Lobos. Da formação-ordenada de Portugal só nasceu um ensaio, marcado frente à Espanha após uma bela jogada entre Hugo Camacho e Tomás Appleton terminada por José Lima

Alinhamento foi extremamente positivo e uma clara subida em comparação a 2023. Os Lobos terminaram com 86% de eficácia, introduzindo correctamente 74 bolas, com Luka Begic e Pedro Vicente a terem estado a um bom nível na introdução, enquanto as unidades de salto funcionaram com exactidão. Do alinhamento nasceram 10 dos 18 ensaios, o que demonstra que é um mecanismo de jogo importante para Portugal em termos de construção de plataforma de jogo e criar problemas ao adversário. Portugal marcou um ensaio de maul dinâmico, mas sofreu três, não tendo sido um problema crítico durante a competição. Nicolás Martins e Martim Bello terminaram a competição com três roubos cada no alinhamento.

Ensaios MarcadosPONTAPÉS

Os Lobos conseguiram fazer bom uso da recepção dos pontapés adversários, construindo uma série de excelentes jogadas que abriram falhas na oposição, com algumas a resultarem mesmo em ensaios. No total quatro ensaios foram marcados com início num pontapé adversário, sendo que só contámos três porque um deles acabou por ter uma penalidade que foi seguida rapidamente por Hugo Camacho. No espectro contrário, o conjunto das Quinas consentiu dois ensaios, um deles frente à Bélgica. Hugo Aubry, Manuel Cardoso Pinto, Tomás Appleton, José Paiva dos Santos terminaram o Men’s Rugby Europe Championship sem qualquer erro na captação das bolas altas, um pormenor importante e que demonstra a confiança da equipa.

DEFESA

668 placagens efectivas e 83 falhadas, terminando assim com um 89% de eficácia, que podia ter ficado nos 90% não fosse a Geórgia conseguir abrir por completo a defesa portuguesa na 2ª parte da final. Portugal mostrou-se como uma defesa agressiva e inteligente, tendo só realizado 24 penalidades neste aspecto, oito por não sair do eixo do ruck enquanto defendiam, duas por mãos no ruck, duas por entrada ilegal no ruck e doze por fora-de-jogo, uma melhoria também em comparação com 2023. Infelizmente, a maior quantidade de penalidades surgiram nos dois jogos em que Portugal acabou derrotado.

Em turnovers no breakdown, Vasco Baptista (6), José Lima (4), Nicolás Martins (4), Raffaele Storti (3), Pierre Sayerse (3), Rodrigo Marta (2) foram alguns dos principais “reis” do breakdown na competição. Contudo, e isto ainda conta para a defesa, Portugal perdeu 18 rucks, tendo sido a equipa que mais bolas perdeu neste aspecto, algo a rever para os jogos de Verão e Outono 2024. Outro dado importante, Portugal forçou os seus adversários trabalharem para chegarem à área-de-validação com a média de fases a a ser de 6. A Geórgia, contudo, demonstrou que com paciência, agressividade e fisicalidade é possível marcar pontos aos Lobos mesmo tendo que segurar a oval mais de dois minutos e para além de 15 fases, um pormenor que deverá ser observado uma e outra vez para apurar a melhor forma de meter um travão neste tipo de situações.

Ensaios SofridosATAQUE

Portugal marcou 18 ensaios neste Men’s Rugby Europe Championship 2024, com 23 quebras-de-linha e 64 defesas batidos, tendo terminado com um total de 2265 metros conquistados no total dos 5 jogos da competição, a selecção que mais metros conquistou com a oval em seu poder. Isto é um ponto extremamente positivo, porém, também fica a questão de não termos tido mais ensaios marcados durante a competição, com os Lobos a terminarem 3º nesse aspecto, atrás da Geórgia (26) e Países Baixos (22, com um caminho muito mais facilitado, pois estiveram a lutar para terminar em 5º). Outro ponto positivo, foi o facto dos Lobos não terem precisado de construir um número excessivo de fases para marcar ensaios, já que o máximo feito foi de 7, isto no 1º ensaio contra a Espanha, com 9 a terem sido de primeira-fase, o que mostra a letalidade da equipa. Este dado deve animar os adeptos portugueses, já que Hugo Camacho e Hugo Aubry nunca tinham jogado juntos ou internacionalmente, conseguindo encontrar uma sinergia comum que foi fundamental para o vice-campeonato da equipa portuguesa em 2024.

PONTO FINAL

E terminamos assim a análise de três partes à prestação dos Lobos neste Men’s Rugby Europe Championship 2024, sendo importante que se tirem as devidas lições e ilações, de modo a que 2024 tenhamos mais vitórias e conquistas. O plano de jogo de Portugal resultou na maior parte das ocasiões, a entrada de Luka Begic, Hugo Camacho, Hugo Aubry e Lucas martins foi extremamente importante, e a continuação da alta forma de jogadores como Tomás Appleton, Pedro Bettencourt, Nicolás Martins, Martim Bello, David Wallis e José Madeira teve um impacto total para chegar à final do MREC. Contudo, não se podem criar divisões, especialmente com os atletas que ajudaram a construir este novo futuro para Portugal, nem criar falsas narrativas que tentem a atribuir a culpa aos jogadores, quando estes têm oferecido o coração e alma por Portugal. Efectivamente há problemas inerentes ao rugby português, como ao romeno, espanhol, etc, mas os clubes profissionais têm grande parte da razão e será importante que os adeptos portugueses percebam que isto também é um projecto em reestruturação.

Foto de destaque de Luís Cabelo Fotografia.


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