A necessidade de continuar a apostar nos Lusitanos

Francisco IsaacSetembro 1, 20245min0

A necessidade de continuar a apostar nos Lusitanos

Francisco IsaacSetembro 1, 20245min0
Com a temporada dos Lusitanos a começar dentro de instantes, é importante perceber a importância da franquia para a modalidade em Portugal

5ª temporada de Lusitanos, a franquia oficial da Federação Portuguesa de Rugby, na Rugby Europe Super Cup, num ano em que a competição vai sofrer novas modificações muito por conta de problemas gerados pelas próprias federações, com algumas até parecerem estar com vontade de fechar com este caminho por via de acharem que a competição local de clubes “chega”, quando não chega de forma alguma.

Patrice Lagisquet, antigo seleccionador nacional, assistiu e esteve empenhadamente envolvido nos Lusitanos – a par de João Mirra e Luís Pissarra – tendo sempre aludido da importância que a franquia reunia para o futuro do rugby nacional e basta ver pelas declarações prestadas a Sérgio Lopes/LUSA em Outubro do ano passado esse foque dado,

“Portugal precisa de uma equipa mais profissional, com os Lusitanos [XV] a serem, no mínimo, semiprofissionais, e de ter mais jogadores profissionais em França se quiser atingir esse nível. E também de ter alguns jogos nos próximos quatro anos contra nações que costumam jogar no tier 1″, analisou.”

Os resultados registados entre 2020 e 2023 nos Lobos teve várias razões que foi desde um staff bem polido e com aptidões só vistas do tempo de Tomaz Morais, passando pelos jogadores a actuar a um nível alto em França como pelo crescimento dos Lusitanos que possibilitou a atletas como Tomás Appleton, João Granate, Manuel Cardoso Pinto, Pedro Lucas, David Wallis, David Costa, entre outros, chegar às concentrações da selecção nacional com a forma desejada e necessária para dar o seu melhor por Portugal. Pensar o contrário é simplesmente querer viver numa mentira e esconder o que de bom se fez nestes últimos cinco anos.

Há um ponto que tem de ficar bem presente na discussão sobre o futuro da franquia, que é o facto de que o campeonato nacional de rugby não consegue garantir um nível de qualidade alta de jogo que possa rivalizar com os seus congéneres da Roménia e Espanha. A Espanha tem uma Division de Honor carregada de fundos, jogadores de diversas nacionalidades, uma aposta séria da Federação na transmissão dos jogos em diferentes plataformas e projectos mais bem difundidos e capacitados de poderem aguentar tempos mais turbulentos. Importante também reter que a Real Federação Espanhola de Rugby está a realizar contactos com a EPCR para poder inscrever uma equipa na Challenge Cup a partir de 2027, o que dá ideia dos nossos vizinhos estarem a se precaver caso a Super Cup cesse de existir.

A Roménia optou por fazer um hard reset das suas competições séniores, estreando um campeonato principal com só quatro super equipas, tendo estas todos os jogadores afectos à selecção nacional, enquanto os restantes emblemas estão numa segunda divisão, só podendo se juntar ao topo caso apresentem um projecto semiprofissional. Portugal está, pro várias razões, longe de ambas as realidades e por isso não pode de forma alguma implodir ou tentar desgastar os Lusitanos. Caso a franquia lusa termine, a probabilidade de assistirmos a um retrocesso problemático num momento crítico para o crescimento do rugby nacional.

O facto de não estar a Geórgia mencionado não foi por esquecimento, mas porque a franquia da federação georgiana irá com toda a certeza se juntar à MLR, Currie Cup ou até URC caso a Rugby Europe Super Cup não continue. Só ainda não o fez porque a URC ainda não facilitou a oportunidade para tal, e a MLR/Currie Cup têm custos operacionais altos e que podem criar certos problemas de tesouraria que a Geórgia prefere evitar para já.

Um dos problemas críticos do rugby nacional é o facto de alguns protagonistas pertencentes a certos clubes preferirem o nível amador ao extremo, seja porque se entregaram a um niilismo asfixiante ou pelo medo de que o crescimento do rugby nacional implique reformulações na forma de pensar, actuar e dirigir a modalidade. O tribalismo constante, a vontade de querer ser um país fechado em si próprio no que toca à modalidade e a preferência de querer cantar a música do “permanente insatisfeito” são doenças que têm de ser combatidas a bem dos jogadores que estão neste momento nos séniores masculinos e femininos, nos sub-20, sub-18 ou nos futuros atletas das camadas de formação dos diversos emblemas nacionais.

Os Lusitanos é um caminho árduo, complexo e trabalhoso para chegar a outro patamar, que vai forçar aos clubes a se adaptarem constantemente, mas o futuro da modalidade é mais importante que um clube ganhar mais um par de jogos no campeonato nacional. Ninguém está a exigir que se faça um profissionalismo (outra conversa a ter, e uma com bastante importância) imediato, pede-se sim que as pessoas do rugby nacional queiram o melhor para a modalidade e atletas.

A época arranca oficialmente no próximo Sábado com a recepção aos Castilla y León Iberians no Estádio do Jamor às 18h00. É importante que os adeptos marquem presença, pois Portugal foi a franquia com pior registo de adeptos da temporada 2023 e 2022, algo que demonstra os problemas de percepção da importância da franquia para os Lobos.


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