3 pontos do SR 2020 R6: Crusaders cínicos e Chiefs mágicos!
A sexta jornada do Super Rugby teve direito a clássico neozelandês entre Hurricanes e Blues, com a franquia de Auckland a resgatar uma vitória em Wellington, colocando-se na perseguição dos Crusaders e Chiefs na conferência neozelandesa. Estes foram alguns dos destaques de mais um fim-de-semana “gordo” para a maior competição de clubes no Hemisfério Sul e estes são os pontos analisados pelo Fair Play!
DUAS FORMAS DE JOGAR… DUAS FORMAS DE GANHAR!
Crusaders… vitória por 24-20 frente a uns animados Reds – que nestes últimos anos têm apostado profundamente na juventude – com Scott Roberson a imprimir mais uma vez uma estratégia cínica e altamente eficaz; Chiefs… vitória por 51-14 ante uns Waratahs perdulários mas que não souberam a aguentar a maior excentricidade das linhas atrasadas dos homens treinados por Warren Gatland. Ou seja, duas formas de estar dentro de campo com ambas a garantirem pontos essenciais para se manterem no encalço do 1º lugar da tabela e da conferência neozelandesa.
Se os Chiefs continuam a mostrar aquela eloquência técnica extraordinária tanto no controlo da oval, na execução dos skills (como aconteceu no offload de Shaun Stevenson para o segundo ensaio de Brad Webber não tem palavras) ou no conseguir manter o sentido de jogo certo, já os Crusaders não abandonam aquela postura agressiva física e táctica e de alto domínio nas fases-estáticas e na saída das mesmas, apesar da prestação defensiva frente aos Reds não ter sido tão sólida como de costume, pois falharam 41 placagens em 262 (84% de eficácia) possibilitando 24 quebras-de-linha e 41 defesas batidos à franquia australiana, revelando assim algum facilitismo na placagem e atitude defensiva.
O ensaio de Henry Speight aos 72 minutos poderia ter colocado em questão a vitória dos tricampeões do Super Rugby, mas a falta de experiência da equipa mais jovem da competição e o surgimento de uma linha defensiva dos ‘saders que destruiu excessivamente a estabilidade nos rucks ou na apresentação da oval ao adversário – Tom Christie foi mais uma vez “monstruoso” neste aspecto – salvando-se então os 4 pontos e a manutenção do 1º lugar da conferência neozelandesa.
Em Sydney, os Chiefs chegaram a estar a perder por 14-13, só que uma segunda parte daquelas inesquecíveis permitiu não só sair com os 4 pontos mas também com o ponto de bónus ofensivo, quebrando um registo de 12 anos sem ganhar em casa dos Waratahs. Sem Damian McKenzie, Luke Jacobson e Quinn Tupaea, mas com Solomon Alaimalo, Shaun Stevenson e Brad Webber inspirados em colocar todo o sistema atacante a funcionar foi fácil dar a volta ao marcador… o espectáculo em termos de handling e detalhes técnicos, os offloads inesperados e a alteração da intensidade e ritmo de jogo num par de segundos fez diferença perante uns ‘tahs que não lidam bem com o inesperado.
Robertson e Gatland prometem continuar a derrubar a maioria dos seus adversários até chegar à grande final do Super Rugby e tudo depende se as estratégias de ambos mantêm a mesma durabilidade.
EM DURBAN A DENTADA DOS SHARKS FOI MAIS PROFUNDA QUE A DO JAGUARES
Regresso aos jogos em casa para os Sharks que não desiludiram o seu público com uma vitória por 33-19, um resultado que acabou por ser parco isto devido à diferença a nível de jogo jogado entre a franquia sul-africana e os argentinos dos Jaguares. Os sul-americanos tentaram apresentar uma fisicalidade imperiosa, com Julian Montoya e Matias Alemanno a serem os protagonistas nesse aspecto, mas acabou por ser insuficiente para fazer vergar a os “tubarões” de Durban com estes a forçar 30 falhas de placagem aos jogadores dos Jaguares que tiveram uma contínua dificuldade em conseguir parar os seus adversários em jogo corrido, revelando-se decisivas esters erros para o resultado final.
A equipa da casa foi mais consistente em todos os parâmetros, seja nas fases estáticas (garantiram todas as suas formações-ordenadas e alinhamentos, “roubando” três bolas na FO e no ar aos argentinos), na linha-de-vantagem (os Sharks revelaram-se mais agressivos nas entradas no contacto), nos pormenores técnicos (mais offloads completos e pontapés corridos de melhor qualidade) e no aproveitamento das oportunidades, onde a combinação Bosch-Fassi foi novamente essencial no caminhar para a vitória, com o defesa a mostrar-se como o maior “devorador” de metros e quebras-de-linha, 105 e 4 respectivamente.
O pé no acelerador e os olhos postos na área de validação contrária, foi este o mindset dos sul-africanos que depois de aguentarem os primeiros 10 minutos assumiram uma postura dominante no que toca à fisicalidade, musculando a sua defesa e entregando-se à atitude de recuperar a bola rapidamente no contacto/breakdown para meter a máquina a funcionar em alta rotação, onde Sikhumbuzo Notshe e Tyler Paul foram reis e senhores durante todo o encontro.
Os Jaguares mostraram alguns daqueles detalhes próprios do rugby argentino, faltando-lhes mais consistência, outra capacidade para se apresentar na defesa – especialmente quando o adversário assume a vontade de apostar num jogo de mais posse de bola e risco – e uma eficácia superior na placagem para chegar de novo à final do Super Rugby. Já os Sharks estão bem lançados para serem cabeça-de-série da sua conferência, mas há que ultrapassar os Stormers… possível?
ENGUIÇO QUEBRADO NOS BLUES… MAS SERÁ QUE É MESMO UMA ERA DIFERENTE?
Depois de 7 anos sem ganhar um dérbi neozelandês na condição de visitante e 3 em qualquer tipo de “condição”, os Blues derrubaram um rival e chegam a um registo de três vitórias consecutivas, algo que não atingiam desde o ano de 2016, pondo fim a uma série de recordes negativos… mas mereceram?
Em termos de quem jogou mais rugby em Wellington, a franquia de Auckland realizou menos erros no espectro geral em especial no que toca às penalidades, parâmetro em que os Hurricanes acabaram por sair com 15 faltas, três das quais a resultarem em cartões: vermelho para Tyrel Lomax (exagerado, mas dentro das leis actuais é “normal” esta decisão), Vaea Fifita (sucessão de faltas) e Jordie Barrett, tendo esta acção negativa do defesa sido decisiva para o resultado final. O irmão mais novo da família Barrett tentou ir à intercepção com um braço e acabou por “cortar” uma jogada de ensaio iminente dos Blues, recebendo assim a ordem de expulsão temporária e os Hurricanes a sofrerem um ensaio de penalidade.
Mas recuemos até aos 47 minutos, altura em que Lomax foi expulso por vermelho. Estavam os homens de Leon McDonald a superar a equipa da casa? Não, já que se assistia a um equilíbrio físico e técnico, com ambas as equipas a procurarem garantir plataforma ofensiva através das fases estáticas, nunca surgindo assim um domínio assinalável de qualquer um dos lados. O cartão foi decisivo, não há dúvidas disso, mas também foi o facto dos Hurricanes terem revelado mais problemas na defesa no cobrir a segunda cortina defensiva, sendo apanhados em contra-pé em diversas situações bem exploradas por Otere Black e Stephen Perofeta, com os criadores de jogo dos Blues a lançarem Telea e Rieko Ioane em grande velocidade, o que criou instabilidade na franquia de Wellington.
Os Blues somaram a sua 4ª vitória fora de casa nesta temporada (em casa perderam frente aos Chiefs e Crusaders) e estão assim a realizar um dos melhores inícios de época dos últimos 10 anos, enquanto que os Hurricanes vivem uma época de altos e baixos, apesar desta jornada ter se dado a tal situação de três cartões, ficando a jogar os últimos 5 minutos com 12!
OS JOGADORES-PORMENORES DA SEMANA
Melhor Chutador: Matt Toomua (Rebels) – 15 pontos (90% eficácia, 3 conversões e 2 penalidades);
Melhor Placador: Tom Christie (Crusaders) – 22 placagens (100% eficácia) e 3 turnovers;
Melhor Marcador de Ensaios: Rosko Speckman (Bulls) – 3 ensaios, 4 quebras-de-linha e 4 defesas batidos;
Melhor Marcador de Pontos: Vários com 15 pontos;
O Rei das Quebras-de-Linha: Rosko Speckman (Bulls) e Mark Telea (Blues) – ambos com 5 quebras-de-linha;
O MVP do Fair Play: Andrew Kellaway (Rebels): mais uma exibição de gala do ponta dos Melbourne Rebels… começa a ser mais que uma sensação neste início de época!
Um dos ensaios de Andrew Kellaway (0:22)