Rentrée do judo português: o que se luta ainda em 2021

João CamachoSetembro 15, 20217min0

Rentrée do judo português: o que se luta ainda em 2021

João CamachoSetembro 15, 20217min0
Joana Crisóstomo trouxe a primeira medalha pós-Jogos Olímpicos e João Camacho coloca em dia o que se passou/passa no judo nacional

O circuito Mundial de Judo regressa no final do mês, com o Grand Prix de Zagreb, onde é expectável ver “muitas caras novas”, o que é natural após o término de um ciclo Olímpico. Setembro arrancou com a ascensão de Jorge Fonseca ao lugar mais alto do ranking Mundial da categoria dos 100Kg.

Líder do ranking Mundial

Não é inédito ter um Judoca Português no lugar mais alto do ranking Mundial da respetiva categoria de peso. Telma Monteiro (quem haveria de ser?!) já tinha atingido esta brilhante distinção e agora foi a vez de Jorge Fonseca. É o corolário de um ano memorável para este fantástico atleta, que, depois de uma participação aquém das expetativas nos campeonatos da Europa de Lisboa, em Abril, conseguiu o feito inédito de revalidar o título de Campeão do Mundo, nos Campeonatos do Mundo de Budapeste, que decorreram no início de Junho, e, a cereja no topo do bolo, teve uma épica prestação nos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde viria a terminar com o bronze ao peito. A consistência e regularidade, acompanhada de resultados de excelência, valem esta distinção que é, nada mais, nada menos, que ser líder do ranking da respetiva categoria de peso no final do ano. Curiosamente, até há dois anos tal distinção valeria um cheque de 50.000€ da FIJ-Federação Internacional de Judo, merecido incentivo que lamentavelmente acabou. Mas o valor do título é inquestionável e o lugar é do Jorge com todo o mérito!

Também destacamos os sétimos lugares do ranking, nas respetivas categorias de peso, de Telma Monteiro, Catarina Costa e Rochele Nunes, que as colocam como cabeças de série e, como tal, numa posição de destaque nas provas que se avizinham. Como já tenho referido, muitas vezes, mas considero nunca ser de mais realçar, no Judo Portugal vive um momento único e há que aproveitar, porque referências desta qualidade são difíceis de encontrar…

Jogos Olímpicos de Tóquio

Na ressaca dos Jogos Olímpicos, fomos surpreendidos por uma pesadíssima sanção de suspensão de toda a atividade competitiva durante 10 anos, aplicada ao atleta Argelino Fethi Nourine e respetivo treinador. O Judoca Argelino abandonou a competição dos 73Kg quando constatou que estava na eminência de “encontrar” na segunda ronda o Israelita Tohar Butbul. A FIJ teve mão pesada, pois está empenhada em banir dos tapetes estes lamentáveis episódios, de cariz político, e evitar que a “novela” a que assistimos em 2019, com o Iraniano Saeid Mollaei, e que valeu uma suspensão de 4 anos à Federação Iraniana de Judo, não se repita.

No que respeita à competição Olímpica (e já tive oportunidade de esmiuçar a prestação da equipa Portuguesa), fica a nota de uma organização de excelência, em que não foi registado um único caso positivo de Covid, evidenciando uma preparação e planeamento minuciosos. No que respeita à competição, de todos os cabeças de série, e recordo que são 8 por categoria de peso, 26 mulheres e 21 homens conquistaram medalhas, o que evidencia a importância de estar no topo do ranking.

Campeonatos da Europa de Cadetes e Juniores

O Judo de formação começou, finalmente, a competir ao mais alto nível. Tivemos em Agosto os campeonatos da Europa de Cadetes, que decorreram em Riga, na Letónia, e, no início de Setembro, o Luxemburgo recebeu a competição do escalão de Juniores.

Apesar do impacto devastador da pandemia no calendário de competições nestes escalões, com muitos cancelamentos, é possível notar o esforço e empenho das Federações Nacionais, União Europeia e Federação Internacional, na retoma da atividade e as provas lá começaram a acontecer. Portugal participou levando equipas com muitas caras novas.

Alguns atletas participavam pela primeira vez em competições deste nível. Se nos cadetes (sub 17-) não tivemos nenhuma atleta a lutar pelas medalhas, nos juniores (sub 20), os resultados foram promissores, destacando-se as juniores Raquel Brito, que terminou no 5º lugar na categoria dos 48Kg e Joana Crisóstomo, que conquistou o bronze na categoria dos 70Kg, e mais uma vez evidenciou muita qualidade e um talento natural.

Joana é um nome a ter em conta para o ciclo Olímpico dos jogos de Paris, que por razões conhecidas, atraso dos jogos de Tóquio devido à pandemia, terá uma duração reduzida para 3 anos. Joana que em 2020 brilhou com a prata nos campeonatos da Europa de Juniores de Porec e com o 7.º lugar nos campeonatos da Europa de Praga, do escalão sénior, é cada vez mais uma atleta a seguir com atenção. Dentro de 20 dias, Joana irá encerrar a sua participação no escalão Júnior nos campeonatos do Mundo de Olbia, em Itália, a derradeira competição no escalão júnior, com legitima aspiração a chegar ao pódio.

Depois será concentrar-se nos Jogos Olímpicos de Paris, e do que vimos até agora, atrevemo-nos a afirmar que tem todas as condições para conquistar o apuramento, mesmo com a fortíssima concorrência interna da medalha de prata no Mundial de 2019 e bronze no europeu de 2021, Barbara Timo.

Também um destaque para a competição de equipas mistas, reservada para o derradeiro dia destes campeonatos da Europa e onde Portugal terminou num honroso 7º lugar, depois de ter estado muito, mesmo muito, de derrotar a fortíssima equipa da Georgia nos quartos-de-final (3-3 e o confronto seria decidido num combate de desempate).

Raquel Brito (Foto: IJF)

Circuito Mundial está de volta

Depois da interrupção do Circuito Mundial para a competição olímpica, no inicio de Junho, logo a seguir aos campeonatos do Mundo de Budapeste, sem dúvida chegou a hora dos melhores e quem aspira a pertencer a este restrito grupo de atletas, começar a mostrar “serviço”, e o Grand Prix de Zagreb, que irá decorrer na capital da Croácia entre os dias 24 e 26 de Setembro, marca o regresso do Circuito Mundial.

Será uma etapa marcada por muitas caras novas, por muitos jovens que querem começar a pontuar, a subir no ranking e entrar em 2022 a todo o gás, pois marca o início da janela de qualificação para os jogos de Paris. Não são esperadas grandes alterações no que respeita às regras de arbitragem, logo o formato será muito idêntico ao que temos assistido nos últimos anos, mas o nível está altíssimo, e todos sabemos da importância de uma boa posição no ranking e o impacto que tem estar no top 8 de cada categoria nos sorteios.

Para terminar, e no que respeita à Equipa Portuguesa, não poderíamos deixar de lembrar que Joana Ramos se despediu da alta-roda do Judo, onde brilhou e se tornou numa das referências deste desporto. Obrigado Campeã! Que sirvas de inspiração a todos estes jovens!

Falta apenas dizer, em jeito de conclusão, que no que respeita aos restantes Portugueses, acredito que temos potencial para, no mínimo, igualar a participação dos Jogos de Tóquio, quer em número de atletas, quer no que respeita a resultados. Relembro que os Jogos de Tóquio registaram a melhor participação de sempre de Portugal, com o Bronze de Jorge Fonseca e o 5.º lugar de Catarina Costa. Fica a dúvida se Telma irá fazer uma “perninha” até Paris e se mais alguém desta equipa, que é das mais fortes e consistentes da história do Judo Português, irá arrumar o Judogi.


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