Primeiras impressões sobre a nova seleção brasileira

Lucas PachecoMaio 11, 20256min0

Primeiras impressões sobre a nova seleção brasileira

Lucas PachecoMaio 11, 20256min0
A seleção brasileira de basquetebol feminino esteve nos EUA e Lucas Pacheco analisou a gira para perceber qual será o futuro

Estamos todos ansiosos pelos próximos passos da seleção brasileira feminina de basquete. Fora das principais competições desde 2016, participação garantida por sediar as Olimpíadas no Rio de Janeiro, vivemos um interlúdio longo; sem um passado recente, nos detemos no futuro. Se levarmos em conta os resultados dos primeiros amistosos no ciclo olímpico para Los Angeles-28, a espera será longa e o presente deverá focar mais em estabelecer as fundações da nova seleção do que em obter resultados.

Não se trata de novidade; após o fracasso da era Neto e a aposentadoria da pivô Érika, não restava outra alternativa que contratar um técnico estrangeiro e renovar drasticamente o elenco. Único caminho a se trilhar, a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) escolheu Pokey Chatman para o cargo de treinadora; com ampla experiência na Europa e nos Estados Unidos, a atual assistente técnica do Seattle Storm não pôde estrear nos amistosos da semana passada, contra Chicago Sky e Indiana Fever, devido a impedimentos contratuais. A bucha sobrou para seus assistentes.

Bruno Guidorizzi, comandante do Corinthians na LBF, esteve à frente da seleção contra o Chicago Sky. Disputado no dia 02, o jogo faz parte da pré-temporada para a WNBA, sendo a estreia do novo Sky, também com treinador novato (Tyler Marsh) e elenco reformulado. A pivô brasileira Kamilla Cardoso vestiu a camisa de seu time (o contrato impediu que ela representasse seu país) e enfrentou suas futuras companheiras; sem sua principal estrela, o Brasil foi presa fácil para o Chicago: 89 x 62.

Brasil vs Sky (Foto: CBB)
Brasil vs Sky (Foto: CBB)

Se o Sky iniciava sua temporada, o elenco brasileiro mesclava jogadoras egressas da liga nacional (LBF), a qual se encontra no meio da temporada, com outras atuantes no basquete estadunidense (tanto do universitário quanto do high school). Um time jovem em idade, sem entrosamento, com pouca experiência internacional e reunida às vésperas dos amistosos: a derrota era esperada e a seleção até manteve certa estrutura durante os 40 minutos. Guidorizzi mexeu bastante no time, evidenciando o objetivo de testar todo o elenco.

Como na LBF, vimos fragilidade defensiva, seja individualmente, seja coletivamente, com pouca comunicação, pouca variação em marcar bloqueios na bola e rotação lenta. No ataque, aposta em jogo veloz e arremessos rápidos, sem desperdiçar espaços mínimos em arremessar, ao invés de selecionar os melhores chutes e manejar a defesa adversária. Um padrão de basquete muito próximo ao da LBF.

Dois dias depois, Guidorizzi cedeu o lugar para Leo Figueiró, que seguiu com os testes e alterou a formação dos quintetos. O time começou bem, como contra o Sky, mas o equilíbrio durou 5 minutos, após o que o Fever passou por cima da seleção brasileira. Mesmo poupando suas principais jogadoras e dando espaço ao fundo de sua rotação (inclusive com algumas cortadas na sequência), o Fever atropelou o Brasil: 108 x 44.

O Brasil não conseguiu sequer se aproximar da intensidade e fisicalidade imposta por um Fever reunido a apenas sete dias. Em determinado momento, passar a meia quadra era sinal positivo à seleção, cujas posses terminaram em chutes de três desequilibrados e forçados ou em isolamentos de 1×1 – a defesa não sofria qualquer dificuldade com bloqueios na bola (e bloqueios indiretos quase inexistiram do lado brasileiro).

Novamente: era o esperado, o que não ameniza a dor em derrotas tão largas e fáceis. Convenhamos que, para uma geração que chega à seleção principal, não é o melhor cartão de visitas; o estágio atual da seleção, em anos e anos de gestão tenebrosa e ausência de formação mínima, conduziu a isso. Um buraco que teremos que galgar passo a passo, com todos os obstáculos esperados.

Que as derrotas ao menos descubram as deficiências técnicas e táticas do basquete feminino brasileiro. Seria recomendável que a treinadora contratada comandasse o time, assim como a presença das duas principais referências técnicas (Kamilla e Damiris) poderia aliviar a pressão sobre as novatas. Como nada disso foi possível, lidamos com o possível, longe do ideal mais uma vez.

A responsabilidade da experiência recaiu em jogadoras da LBF, cujas carreiras na seleção são marcadas pela descontinuidade e inconstância. Destaques para a armadora Cacá (figura fundamental no vice sulamericano do ano passado) e para a pivô Aline, que conseguiram fornecer alguma estabilidade ao time; já Licinara, Manu Oliveira e Iza Nicoletti desempenharam bem abaixo das últimas exibições pela seleção (contra adversárias bem mais fracas, importante ressaltar). Muito cedo para descartar qualquer nome, elas seguem na frente na disputa interna às egressas da LBF, figuras que devem ocupar posição marginal no futuro da seleção.

Temos poucas jogadoras disponíveis e não podemos prescindir de contribuições pontuais delas, que devem exercer função de descansar as titulares e manter a intensidade nos poucos minutos em quadra. Não há outro caminho: a seleção no futuro será formada pelas “estrangeiras”, cuja formação se fez fora da seleção brasileira. Damiris será o último nome a ser  formada em solo pátrio.

O restante do elenco das duas derrotas foi composta por estreantes, que se destacaram no circuito universitário ou são promessas do high school. Com essa perspectiva, torna-se ainda mais difícil uma avaliação muito fechada: Manu Alves (estreará no universitário na próxima temporada)  iniciou como titular em ambas as partidas e mostrou flashes de seu talento; Taíssa (outra cuja carreira universitária sequer iniciou) recebeu a incumbência de marcar Caitlin Clark e mostrou mobilidade e atleticismo; Ayla McDowell (escolheu South Carolina) mostrou estar bastante crua, sem otimizar os bons fundamentos ainda em prol de pontuação.

Catarina, Bella Nascimento e Iza Varejão possuem, ao menos, bagagem universitária e devem compor as próximas convocações. Mas precisarão acelerar seu desenvolvimento devido à idade. Esperemos que a chegada de Pokey introduza mais bagagem tática a um elenco com diversas carências técnicas.

Foto: OBB

Do ponto de vista do Chicago Sky, confirmamos a centralidade e aposta nas duas jovens pivôs Kamilla e Angel Reese. Alimentadas pela lendária armadora Courtney Vandersloot, a dupla deve florescer – além do time ter acrescido chutadoras do perímetro, essencial para desobstruir o garrafão para as duas. O Fever comprovou as expectativas e liquidou a seleção brasileira de forma avassaladora; espera-se que o time dispute no topo da WNBA, quiçá pelo título. Talento disponível há, em todas as posições; contra um adversário limitado (Brasil), sua maior deficiência – defesa – mostrou-se mais sólida. Os próximos testes darão mais respostas sobre a capacidade da técnica Stephanie White conduzir a equipe ao próximo nível.


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