Os ajustes que levaram o Las Vegas Aces ao título da WNBA

Lucas PachecoSetembro 21, 20226min0

Os ajustes que levaram o Las Vegas Aces ao título da WNBA

Lucas PachecoSetembro 21, 20226min0
As novas campeãs da WNBA, as Las Vegas Aces, demonstraram todo o seu poderio numa grande final, com Lucas Pacheco a olhar para o que se passou nesse jogo

Depois de muito tempo na liga, enfim o Las Vegas Aces conquistou o título. Depois de passar por Salt Lake City e San Antonio, foi no estado de Nevada que a franquia encontrou a estabilidade necessária e recebeu o investimento condizente, etapas necessárias para dar o último passo no patamar da liga.

Não foi uma série fácil. Na partida 1, o Connecticut Sun teve a chance de levar à prorrogação, fracassada com o erro do arremesso de DeWanna Bonner, na última posse. O resultado acabaria por ser determinante para a série, uma vez que o Sun conteve o poderoso ataque do Aces (segundo mais eficiente da história da WNBA) à pior pontuação na temporada, assim como ao menor número de assistências. A vitória de 67 x 64 foi conquistada a despeito de uma atuação bem atípica da equipe de Las Vegas.

Como seria uma constante ao longo dos quatro jogos, o garrafão do Sun dominou nos rebotes e nos pontos internos. Porém, as jogadoras do Aces mantiveram a linha e o equilíbrio, compensando a falta de pontaria e a imobilidade ofensiva com sua forte defesa. Kelsey Plum ficou devendo nos arremessos e se não fossem os lances-livres convertidos por A’ja Wilson a equipe sairia atrás nas Finais.

Chelsea Gray não teve marcadora à altura, fato repetido na partida 2, disputada novamente em Las Vegas. Nesse confronto, porém, ela recebeu a companhia de todas as companheiras e de uma atuação coletiva incontestável. O Aces conseguiu imprimir seu estilo e o Sun teve que se adaptar, correndo atrás do placar desde o início. Não foi suficiente, com Wilson exercendo uma defesa em Jonquel Jones que impedia o passe.

O resultado de 85×71 dava ampla vantagem ao Aces e deixou a impressão de que o Sun seria varrido no jogo 3. Faltou combinar com a resiliente equipe dirigida por Curt Miller; em seus domínios, a festa estava preparada para entrega do troféu e o Sun teria que arranjar meios de suas pivôs voltarem a dominar.

Jonquel apareceu muito mais preparada para a antecipação e para a estratégia defensiva de Wilson, afoita em tirar os passes. Como antídoto, Jonquel passou a rodar mais e a se posicionar ainda mais próxima ao aro. Não somente ela recebeu muito mais bolas no poste baixo, pronta a subir para pontuar, como sua companheira Alyssa Thomas alimentou a pivô. Aliás, não houve área em que Thomas tenha deixado a desejar e ela justificou seu apelido de “Engine”, o motor da equipe em quadra. Ela finalizou o duelo com o primeiro triplo-duplo da história das Finais da WNBA: 16 pontos, 15 rebotes e 11 assistências.

O placar foi fruto da fisicalidade imposta pelo Sun, ajudada pela pontuação vinda do perímetro. O jogo 3 marcou a entrada de Bonner, apagada até então, na série: ofensivamente mais ativa (18 pontos) e encarregada a grampear Chelsea Gray. Pelo primeira vez em mais de um mês, Gray não conseguiu produzir e o resultado final atesta a supremacia do Sun: 105 x 76. Curt Miller alternou sua defesa, posse a posse, entre individual e zona (refletindo a tática de Becky Hammon), intercalou dobras nos pinck-and-roll sobre a armadora com trocas e com isso tirou o ritmo do Aces.

Obrigado a jogar um perigoso jogo 4, fora de casa, e com o momento da série favorável à fisicalidade de Connecticut, o Las Vegas teria que contragolpear. Disputado no domingo, com o ginásio lotado, Hammon efetuou a troca de marcação sobre as pivôs adversárias, destacando A’ja Wilson sobre Alyssa Thomas e Kiah Stokes sobre Jonquel Jones. No ataque, atrasou os bloqueios altos sobre Chelsea Gray, colocando as outras alas (Plum e Jackie Young) como bloqueadoras principais. Caso viesse a troca, Gray permaneceria com marcadoras mais baixas; se dobrassem, ela faria um passe extra a Wilson, jogando 4 contra 3 no terço final da quadra.

A tática funcionou e o Aces manteve a dianteira durante boa parte do confronto. Mesmo em sequências ruins, quando seu ataque estancou, não permitiu que o Sun deslanchasse. Assim chegou ao último quarto com vantagem de 4 pontos (53 x 49).

Os últimos dez minutos da temporada foram de tirar o fôlego com duas formações opostas: o Sun apostou no trio de pivôs (Thomas, Jonquel e Brionna Jones), com muita força e imposição física, enquanto o Aces adotou o small ball, com Riquna Williams no lugar de Stokes/Hamby. Em decorrência, a defesa zona predominou pelo Aces no último quarto.

Em parte fruto da estratégia de Hammon, em parte dos imponderáveis do basquete, foi Riquna quem definiu o jogo, a série e o campeonato. Nos últimos dois minutos, com trocas de liderança, ela decidiu com bolas decisivas, duas longas de três e um step-back de dois.

A partir da conversão dessas bolas, e com a diferença em duas posses de bola, o Sun jogou a toalha. Nem a atuação monstruosa de Alyssa Thomas, com o segundo triplo-duplo seguido (outro fato inédito na liga – 11 pontos, 10 rebotes e 11 assistências), foi suficiente. Connecticut ainda teve tempo de errar duas jogadas ofensivas, que poderiam ameaçar o Aces e recolocar o apoio da torcida. Duas jogadas recuperadas por A’ja Wilson (tímida no ataque e imprescindível na defesa) e Chelsea Gray (apenas 2 pontos no quarto decisivo), diga-se de passagem.

Ao esgotar o cronômetro, vitória do Las Vegas Aces por 78 x 71, fechando a série por 3 partidas a 1. O inédito título coroou a aposta na técnica Becky Hammon, responsável por reformular o padrão tático do time, e as temporadas excelentes de seu super quinteto (A’ja Wilson, Chelsea Gray, Kelsey Plum, Jackie Young e Dearica Hamby). Gray foi eleita a MVP das Finais.

A temporada 2022 da WNBA chegou ao fim com um campeão inédito e merecido. Graças à conquista, fomos presenteados com a coletiva pós-jogo de Wilson, levemente embriagada. Além do talento em quadra, a MVP e Defensora do Ano de 2022, mostrou muito carisma.

Teremos muito tempo até a próxima temporada, período preenchido pelo Campeonato Mundial de seleções e pela temporada europeia.


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