Na iminência da nova edição da LBF: o que esperar

Lucas PachecoFevereiro 22, 20237min0

Na iminência da nova edição da LBF: o que esperar

Lucas PachecoFevereiro 22, 20237min0
A Liga de Basquetebol Feminino (LBF) brasileira está de volta e Lucas Pacheco explica o que podemos esperar para esta temporada

No Brasil, um ditado famoso diz que o ano começa após o Carnaval. A Liga de Basquete Feminino (LBF) exemplifica o ditado e tem o início de sua décima segunda edição agendado para o Dia Internacional da Mulher, 8 de março. Em quinze dias, a partida inaugural será disputada em Araraquara, entre as donas da casa (Sesi Araraquara) e o Bax Catanduva.

A LBF sofreu uma queda dos participantes, de 10 equipes em 2022 regredimos para a edição de 2021, com 8 equipes na busca pelo troféu. Pró-Esporte Sorocaba, lanterna no último ano sem nenhuma vitória, e Sport não participarão neste ano, reduzindo ainda mais o escasso quadro de basquete feminino profissional no Brasil.

Com a redução, todas as equipes avançam para os playoffs, no formato clássico de 1º contra 8º, 4º x 5º, 2º x 7º e 3º x 6º. A fase de classificação ranqueará os duelos de mata-mata; cada equipe enfrenta as demais em turno e returno, com previsão de conclusão em junho e começo de julho.

O Sampaio Basquete buscará o bicampeonato consecutivo e o quarto de sua história. Para atingir seu objetivo, a equipe maranhense repatriou o técnico argentino Cristina Santander, líder da vitoriosa campanha em 2019; como já virou praxe, o Sampaio mudou novamente a comissão. O elenco terá o retorno de figuras-chave no título de 2022, como a experiente pivô Érika, as alas Tainá Paixão e Patty, além da armadora reserva Alana.

A esse núcleo, formado por nomes constantes nas convocações da seleção brasileira, somemos a armadora argentina Meli Gretter e a ala-pivô Rapha Monteiro, ambas ex-MVP da liga. Meli Gretter tem passado na LBF brasileira, tendo conquistado absolutamente tudo em sua passagem por Americana e Campinas; já Rapha retorna para ser dirigida pelo técnico responsável por elevar seu jogo em 2019, ano em que se sagrou MVP da temporada regular. Como se ainda fosse pouco, às seis estrelas citadas foram acrescidas protagonistas de outras equipes, que provavelmente terão um papel menor no Maranhão, casos da pivô Mari Dias (ex-Ituano) e Manu (ex-Campinas).

Um esquadrão de peso cuja única meta é o título. Qualquer outro resultado será considerado fiasco, dado o desnivelamento de investimento. Há esperanças, ainda, de que a equipe retorne para o ginásio Castelinho, em fase final de reforma. O Sampaio estreia no dia 10 de março, quando recebe o Sodiê Mesquita.

Felizmente, a tônica das trocas de cadeiras não atingiu o Sesi Araraquara, que manteve o técnico João Camargo e boa parte do elenco campeão paulista. Receita recomendada para a equipe que liderou a temporada passada, eliminada apenas na semi-final contra um valente Campinas. À consolidada base, que mescla jogadoras experientes (Iza, Jeanne, Aline Moura, Maila, Vitória Marcelino) e inexperientes (Sossô se afirmando cada vez mais, Diully, Letícia, Bia Aneas), a equipe contratou ainda as alas Jaqueline e Stephany, ex-Santo André.

Com um padrão tático definido, pautado no uso da posse, movimentação constante e defesa forte, Araraquara pretende repetir o desempenho de 2022, porém com outro resultado. A continuidade pode ser um diferencial em uma liga que preza pelas mudanças. Araraquara almeja o inédito título e inicia sua caminhada com a pecha de favorita, ao lado do Sampaio.

Em 2022, a equipe araraquarense caiu perante um Campinas muito bem montado, que retirou a troca de passes ofensiva e forçou um jogo individual. Difícil prever o lugar da vice-campeã Campinas nesta edição; o time teve extrema dificuldade em manter o projeto, como a mudança do patrocinador máster atesta. Assim, a equipe virou a Fênix Unimed Campinas e saiu atrasada na montagem do elenco.

A dupla nas alas (Tássia e Yasmim) foi-se embora, embora tenham mantido a armadora Bia, a pivô Licinara e trazido de volta a grande estrela da equipe nos playoffs de 2022, a ala-pivô Iza Sangalli. A gestora Karla Costa saiu-se de forma brilhante da montagem, substituindo um elenco mais notável por outro menos testado, com muito a ser provado. Finalmente, por exemplo, a uruguaia Maite e a ala-pivô Nathalia Lima terão a chance de disputar a LBF – e podemos esperar muita entrega e defesa sufocante, marcas do padrão tático do técnico Alemão, remanescente do vice-campeonato.

Quem contratou jogadoras experientes, disponíveis no mercado, foi o Bax Catanduva, que tentará apagar a má impressão deixada na edição passada, quando sequer avançou aos playoffs. Gil, Tati Pacheco, Casanova, Adrielly juntar-se-ão às donas do time, a armadora Natalinha e a ala Thaissa Frediani. Sinal de que o padrão tático não deve sofrer alteração é a permanência do técnico Cesamar, apenas com mais profundidade nas rotações. A equipe do interior apostou em encorpar o elenco, mantendo a proposta de jogo – vejamos se será suficiente para Catanduva melhorar sua campanha.

Quem também manteve a estrutura mantida foi o Santo André, única equipe a participar de todas as edições da LBF. O trio Lays, Sassá e Glenda representará o time do ABC paulista, que recebeu a dupla de alas egressas de Campinas, Tássia e Yasmim. Em muito tempo, não veremos a ala Jaqueline na equipe e a substituição pode acarretar um tempo de adaptação.

Se Catanduva aumentou o investimento, por outro lado o Ituano sofreu novo baque com as perdas da armadora Cacá, das pivôs Mari Dias e Gil e da ala Tati Pacheco. O quarteto, com ampla minutagem na temporada passada, precisará ser reposto de imediato, papel para o qual a equipe trouxe a ala Palmira, reeditando a dupla com Joice e com o técnico Antonio Carlos Barbosa.

Sim, o time de Itu optou por voltar à fórmula mais fácil e retirar o técnico da aposentadoria. Bruno Guidorizzi foi rebaixado para as categorias de base e o longevo técnico, agora Hall da Fama da Fiba, retornará para comandar o Ituano. O projeto deu três passos para trás, ao voltar para o mesmo modelo anterior ao título de 2021 – resta saber o quanto o técnico Barbosa ainda tem de lenha e sua disposição em formar um conjunto coeso, cujas peças não parecem se harmonizar.

O Blumenau segue a receita da continuidade e manteve grande parte do elenco. A promissora técnica Bruna Rodrigues vai para sua segunda liga, com mais bagagem após deixar ótima impressão em 2022. As contusões feriram a campanha anterior, quando caiu nas quartas de final perante Campinas, e certamente uma dose de sorte não fará mal ao time. Leila deve ter ainda mais liberdade no ataque, com a ajuda de Kaw Firmino e da armadora Maria Paula Albiero, ambientada na cidade, no nível profissional e na LBF brasileira.

Por fim, a Sodiê Mesquita incorporou diversas peças novas ao seu núcleo duro, composto pela atual bi-MVP Thayná, Mayara Leôncio e Rayane. A equipe terá novamente o técnico Raphael Zaremba, cujo estilo privilegia a velocidade e a transição ofensiva. As fluminenses sofreram com a ausência de uma pivô defensora de aro e capaz de pontuar no poste baixo, questão que deve perdurar nesta edição dadas as contratações até o momento, focadas na ala e na armação.

Após a retomada da pandemia, esperava-se o crescimento, ainda que gradativo, da liga, impulsionado pela direção eleita da CBB. Não foi o que aconteceu e a LFB volta a patinar e a encontrar dificuldade em se manter. O sufoco que algumas equipes passaram nesta inter-temporada evidencia os gargalos estruturais do basquete feminino, os quais aparecem com ainda mais força no âmbito profissional. Tampouco isso é novidade; por outro lado, as duas últimas edições caracterizaram-se por melhoras no padrão tático, com mais variedade e ênfase na defesa. A torcida é pelo sucesso da edição 2023 da LBF, que, se não começou animadora, tem tudo para atrair o interesse do público assim que a bola subir.


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