A ascensão meteórica, ainda que tardia, de Let Lopes

Lucas PachecoSetembro 14, 20225min0

A ascensão meteórica, ainda que tardia, de Let Lopes

Lucas PachecoSetembro 14, 20225min0
Letícia Lopes, mais conhecida por Let, tem evoluído ano após ano e Lucas Pacheco conta-te tudo sobre esta atleta que se transferiu agora em Setembro

Há um ano atrás, nunca tinha ouvido falar de Letícia Lopes. Talvez quem trabalhe rotineiramente com basquete feminino conhecesse a jogadora; ao pesquisar seu nome na internet, pouquíssima informação, com exceção de sua participação em torneios de 3×3, datados de 2015 a 2021. Hoje, Letícia acaba de ser contratada pelo Sesi Araraquara, sólido projeto de basquete, para disputa do Campeonato Paulista. No meio, Letícia ainda colecionou um título da LBF, principal competição de clubes no Brasil, jogando pelo Sampaio.

Toda história tem um começo e a ascensão de Letícia no cenário do basquete feminino profissional possui um capítulo fundamental: o Campeonato Brasileiro sub-23. Organizado pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB) na segunda metade de 2021, a competição buscava dar rodagem às jogadoras saídas das categorias de base e que não encontravam espaço para se desenvolver.

A CBB conseguiu juntar 16 equipes para o torneio, atraindo jogadoras entre 16 e 23 anos, com a permissão de 3 atletas acima dessa idade por equipe. Foi um sopro de esperança em um cenário de terra arrasada: as seleções brasileiras com dificuldade de se classificar aos Mundiais das categorias, poucos estaduais de base, poucos clubes formadores, dimensões continentais do país que atravancam o intercâmbio, reduzidas chances para jovens valores se consolidarem nos clubes profissionais. O Brasileirão, assim, supriu uma lacuna; se não resolveu os problemas crônicos do basquete feminino, auxiliou na divulgação da modalidade e ofereceu uma vitrine para jogadoras desconhecidas.

A equipe do Cerrado Basquete, de Brasília, chamou atenção desde sua estreia, quando perdeu para Pindamonhangaba na segunda prorrogação. Houve rumores sobre a participação do Cerrado na LBF de 2021, os quais não se confirmaram. O time participou do Brasileirão, sediou um dos grupos e causou alvoroço pela qualidade do conjunto. Com uma formação baixa, a equipe tinha como protagonista a ala-pivô Giovanna Carey (passagens por Vera Cruz Campinas e experiência de LBF pelo Vizinhança), e apostou em um estilo com quadra aberta, operando a partir do perímetro.

Mesmo com rotação curta, o quinteto inicial causou ótima impressão, confirmada nas etapas seguintes com a classificação às semi-finais. Além de Giovanna, a armadora Renatinha se destacou; porém, quem realmente brilhou foi a ala Letícia Isabella Lopes de Paula. Ao fim do torneio, com a honrosa quarta posição, Letícia foi a segunda cestinha do time, com média de 13 pontos por jogo, e segunda reboteira, com 9,5 rebotes por jogo. Ficou apenas 1 ponto atrás em eficiência (Giovanna liderou em todas essas categorias) e ainda foi a passadora do time, com 3,9 assistências de média.

Foto: LBF

A boa campanha rendeu a contratação pelo poderoso Sampaio, junto de Giovanna Carey, para a disputa da LBF 2022. Ao formar o elenco, prevendo o atraso na apresentação das selecionáveis, o Sampaio apostou em jovens talentos para o começo da temporada. Nesse bloco de contratações, Giovanna e Letícia aproveitaram a chance, após o bom desempenho no Brasileirão, e chegaram a São Luís.

No Cerrado, Letícia auxiliava na armação e atacava as linhas de infiltração. No Sampaio, em um elenco mais encorpado e experiente, ela cumpriria funções diferentes. O técnico Rodrigo Galego não tardou em retirar a responsabilidade por armar o time (média de 4 turnovers por jogo no Brasileirão), deslocando-a para a ala, que abria e espaçava a quadra, ajudando nos bloqueios. Letícia floresceu e se transformou numa excelente “3-and-D”, especialista na defesa e nos chutes de três, principalmente da zona morta.

Ao longo do torneio, ela tomou à frente de jogadoras mais rodadas na rotação e, mesmo com a incorporação das jogadoras oriundas da Europa, manteve seu lugar. Em muitas situações, era a primeira opção para defender as armadoras ou alas adversárias. Em função coadjuvante, viu seu aproveitamento de três subir de 20% no Cerrado para 28% na LBF, num nível muito mais competitivo.

O título coroou a trajetória de Let Lopes, que agarrou com unhas e dentes a oportunidade de aparecer para o grande público no Brasileirão. Ao fim da LBF, por inexistir competições regionais ao Sampaio, o time se desmontou; Letícia atraiu a atenção do Sesi e agora terá mais oportunidade para seguir sua evolução, desta vez num dos principais projetos do país, comandado pelo técnico João Camargo (e assistente técnico da seleção). Logo ela deve estrear no Paulista e teremos a chance de ver para qual caminho seu crescimento seguirá.

Em meio a tantos equívocos, a CBB acertou em cheio na organização do Brasileirão, projeto prioritário para a vice-presidente e ex-jogadora Magic Paula. O campeonato cumpriu sua função, como demonstrado pela ascensão de Let Lopes, ala de 1,74m que disputou sua primeira LBF aos 26 anos! Uma vez exitoso, a expectativa agora é pela continuidade do torneio, cuja segunda edição permanece em aberto. Estamos em setembro de 2022, mês em que o torneio já tivera início em 2021. Torcemos para que novas Letícias tenham chance de aparecer e provar seu valor; mas para isso é necessário que a competição aconteça.

Foto: Sesi Araquara

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