Mundial de basquetebol feminino sub-19 rumo à fase decisiva

Lucas PachecoJulho 18, 20238min0

Mundial de basquetebol feminino sub-19 rumo à fase decisiva

Lucas PachecoJulho 18, 20238min0
Como tem corrido o Mundial de basquetebol feminino de sub-19? Contamos tudo neste artigo dedicado à competição

O Campeonato Mundial de basquetebol feminino sub 19 mal começou e já se encaminha para a fase eliminatória. Com início no sábado passado, 15 de julho, a fase de grupos encerrou-se no dia 18 e no dia seguinte serão disputadas as oitavas-de-final. As dezesseis seleções avançam; os grupos A e B duelam entre si, assim como o C com o D, no formato do primeiro de um grupo contra o quarto do outro. A segunda colocada confronta contra o terceiro do outro grupo.

Torneio de tiro curto que coloca em perspectiva as diferentes escolas de basquete e a formação de cada país. Nessa idade, além dos torneios classificatórios continentais, é a única competição no âmbito mundial, muito apreciada por scouts e pelos selecionadores das seleções adultas.

A partir das oitavas (cujos confrontos permanecem abertos até o fechamento desta coluna), a vitória faz avançar, e a derrota cria um ‘torneio de consolação’, a fim de ranquear todas as participantes. O formato propicia a mesma quantidade de jogos para todas as seleções.

Vamos a alguns destaques da primeira fase do Mundial.

Hegemonia dos Estados Unidos

A dinastia norte-americana no basquete feminino não encontra paralelo em nenhuma outra modalidade coletiva. A seleção adulta teve a última derrota no longínquo 2006, quando foi derrotada pela Rússia na semi-final do Mundial; a sub-19 mantem a mesma hegemonia, sagrando-se campeã em 8 das últimas 9 edições. Pelo desempenho demonstrado na fase de grupos, os EUA têm todas as ferramentas para estender a dinastia.

Aos 19 anos, as jogadoras norte-americanas apresentam níveis técnicos, táticos e físicos raramente encontrados em outras seleções. Acostumadas ao mais alto grau de competição desde cedo, chegam no sub-19 gabaritadas e cascudas. É praxe a rodagem do elenco e distribuição igualitária da minutagem, o que dificulta uma  atuação individual muito acima da média. Os desempenhos notáveis aparecem nas fases decisivas, quando a competição afunila.

A seleção atual possui como grande destaque a ala Cotie McMahon, ala extremamente atlética e que brilhou no torneio da NCAA, conduzindo a universidade de Ohio State a posição histórica. Sua defesa e explosão fazem brilhar os olheiros da WNBA. Porém, temos a chance de descobrir outros talentos, recém chegados às universidades e ainda desconhecidos do grande público.

Na fase de grupos, quem aproveitou a chance foi a ala-pivô Chloe Kitts, comandada pela técnica Dwan Staley em South Carolina. Kitts antecipou a chegada na universidade e compôs o elenco de apenas 1 derrota na temporada 22-23; sem tempo de quadra, a companhia e os treinos com Aliyah Boston mostram seus frutos no Mundial, onde a jogadora lidera a equipe em eficiência (18 de média), além de ser a terceira cestinha e maior reboteira. Com seus 1,90 de altura, Kitts utiliza sua envergadura com facilidade e pode atacar a partir do drible, potencializando sua gigantesca passada e velocidade acima da média.

Até à final, muita coisa pode mudar. Kitts vem, até aqui, demonstrando seu potencial e se estabelecendo como um porto seguro para sua seleção, em busca do tri-campeonato consecutivo.

Performances notáveis

A elite mundial hoje é composta pelas mesmas seleções em quase todas as categorias. França, Austrália, Espanha (curiosamente caíram no mesmo grupo na fase inicial e digladiam-se para obter melhor posição), Canadá e Japão possuem formação sólida e padronizada, o que as coloca automaticamente na lista de favoritas. Fora desse bloco, as demais lutam por um lugar ao sol, com algumas concorrentes despontando graças a talentos individuais acima da média, cujos nomes devemos guardar para um futuro bem próximo.

Mali galga degraus gradativamente e, após dominar a África, começa a se impor no mundo. Fruto de um trabalho da federação nacional, a estrela Sika Kone conquistou o MVP da liga espanhola e foi draftada na WNBA – estrela da seleção que finalizou o Mundial adulto de 2022 na penúltima posição. À época, pouco destaque para outra jovem, a ala-pivô Maimouna Haidara, que a despeito dos números tímidos foi a terceira jogadora em minutos na seleção malinesa.

Haidara guardou combustível para o Mundial sub 19, onde vem brilhando. A líder em eficiência (28 por partida) e sétima cestinha é a alma malinesa na competição – sua equipe chegará até onde Haidara levar. Na fase de grupos, a grande responsável pela vitória de Mali sobre a Alemanha e a única a produzir um triplo-duplo.

O confronto nas oitavas deve ser uma pedreira (Austrália ou França); convem não duvidar da potência de Haidara.

Outra jogadora africana deixou seu nome na história do torneio e se candidata a maior prospecto continental: a egípcia Jana Elalfy é a principal responsável pela surpreendente virada sobre a tradicional China, após perder o primeiro tempo por 24 pontos! Não se trata de uma desconhecida, já que ela foi recrutada pela universidade de Connecticut; porém o talento e a liderança demonstrados neste Mundial merecem destaque.

A power forward de 1,93 e 17 anos lidera o torneio em pontos, com aproveitamento na casa dos 50/40/90 (53,3% de dois pontos, 44,4% de três e 95,2% nos lances livres). Elalfy terá pela frente, nas oitavas, outro talento geracional, a ala lituana Juste Jocyte.

A Lituânia avançou em segundo o grupo C, após apertada derrota para o Japão, revés que deve estimular a vontade de Jocyte. Seu potencial é amplamente conhecido; sua presença no circuito adulto data de anos atrás e ela sagrou-se campeã da Eurocup pelo Lyon. Mais notável que os números brutos é a calma com que produz e envolve suas companheiras; podendo facilmente concentrar a bola e pontuar em profusão, suas atuações privilegiam o coletivo e sem pressa ou afobação, ela aguarda a bola chegar em boas condições.

Jocyte costuma, em sua precoce carreira, crescer em jogos decisivos. Vejamos como será contra o Egito.

E o Brasil?

O Brasil sentiu o poderio de Jocyte na estreia, quando a ala colocou sua seleção com boa vantagem no placar desde a ‘bola ao alto’. Com claros problemas de fundamentos, as brasileiras encontraram alternativas durante o jogo e estão em evolução partida a partida. Os resultados (3 derrotas) não traduzem a melhora (coletiva e individual) vista e sequer deveria ser utilizado como parâmetro. São conhecidas as carências da modalidade, refletidas na campanha.

Atleticismo e tamanho, acima das concorrentes, acabam escondidos pela ausência de arremessos longos e oscilação na intensidade. Era o esperado e, dentro dessa perspectiva, a seleção cresceu durante a fase de grupos: a dificuldade de pontuar foi amenizada (45 pontos anotados na estreia, 58 contra o Japão e 74 para fechar a fase de grupo) e a diferença no placar caiu de um jogo para outro.

Longe do ideal, a seleção, pouco rodada e com parco tempo de preparação, tenta se encaixar. Não há caminho mágico para uma modalidade tão combalida e pouco incentivada, mas visualizamos flashes de jogadoras com imenso potencial e futuro. A próxima etapa será contra o Canadá, uma das favoritas ao título; uma vitória seria (muito) surpreendente e provavelmente a seleção disputará entre a nona posição e a lanterna. No último Mundial sub-19, saímos sem vitória, derrotados pela arquirrival Argentina na partida derradeira; qualquer vitória deve ser celebrada e, principalmente, os pequenos passos e melhoras.


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