Mudanças e equilíbrio na Euroliga: o ponto da situação

Lucas PachecoJaneiro 12, 20236min0

Mudanças e equilíbrio na Euroliga: o ponto da situação

Lucas PachecoJaneiro 12, 20236min0
Lucas Pacheco conta-nos o que se passa na Euroliga feminina, com algumas mexidas a marcar este Janeiro, para além de outras novidades

Ano novo e muitas novidades na Euroliga. Não que seja novidade, em toda edição o período de dezembro e janeiro é marcado por intensa movimentação no mercado. Algumas das mudanças acarretam cenários bem diferentes, ainda que estejamos no início do returno. E, a bem da verdade, algumas jogadoras já haviam trocado de clube.

O maior impacto será sentido em Istambul, onde o poderoso Fenerbahçe incorporou Breanna Stewart e Satou Sabally a seu elenco. Duas jogadoras desse porte alterariam qualquer time, se somarmos a Alina Iagupova, Kayla McBride e Emma Meesseman, temos um verdadeiro esquadrão, de dar inveja aos áureos (e nem tão distantes) tempos do Ekaterimburg.

A equipe teve um início de competição complicado, acumulando duas derrotas inesperadas frente ao Polkowice e Szekszard. A técnica Marina Maljkovic, recém chegada, sofreu para impor seu estilo de jogo; sem Breanna e Sabally, o elenco ainda passou algumas rodadas desfalcado de Iagupova, afastada sem muitas explicações. Gradativamente, a equipe assimilou o padrão tático e novas peças foram incorporadas, como a pivô belga Emma Meesseman.

O poderio turco é tão grande que, sabendo que as duas ausências se estenderiam até 2023, contratou Natasha Howard e Olivia Epoupa para segurar a bronca. Dupla de respeito que sequer faz mais parte do time neste começo de ano. Passado o período de turbulência inicial, o verão chegou forte para o Fenerbahçe neste começo de ano.

Nas duas primeiras rodadas do returno da fase de classificação, as turcas devolveram as duas derrotas iniciais, impondo um sonoro 111 x 61 em casa contra as polonesas de Polkowice e 91 x 71 contra as húngaras de Szekszard. Breanna Stewart teve uma atuação exuberante, com 30 pontos e 17 rebotes.

O Fenerbahçe quer a Euroliga de qualquer forma e, no momento, parece difícil que alguma outra equipe consiga batê-lo. Quer ainda mais covardia? Cogita-se que o clube negocia com a armadora Courtney Vandersloot.

Outra mudança ocorrida no grupo A da Euroliga data de meados de novembro, quando o Polkowice liberou sua sexta jogadora Yvonne Turner para assinar com o Sopron. Para sua vaga, chegou a armadora Erica Wheeler, que logo assumiu a titularidade. As polonesas, que vinham bem, ficaram ainda melhores e seguem como a grande surpresa da temporada. Wheeler forçou uma alteração tática: até sua chegada, a armação cabia a Weronika Gajda, chutadora de três deslocada para a armação.

Gajda cumpriu com primor seu papel e atingiu números acima da média da carreira. Quando Wheeler tomou conta da função, ela retornou para a ala, trabalhando bastante sem a bola, à caça de bloqueios indiretos que a liberassem os chutes longos. É evidente a centralidade de Stephanie Mavunga no time, concorrendo ao título de MVP da temporada regular, porém sem a regularidade do elenco de apoio dificilmente o modesto time alcançaria o equilíbrio que o mantem nas primeiras posições do grupo A.

Ao final do turno da fase de grupos, o Polkowice aparecia como terceiro melhor ataque (76,6 pontos por jogo) e quarta melhor defesa (67,9 pontos sofridos por jogo). Hoje, com mais dois jogos no currículo, as polonesas seguem na liderança do grupo ao lado do Fenerbahçe e perdem a classificação somente em caso de hecatombe.

Além das líderes, a disputa pelas duas vagas finais às quartas-de-final segue entre USK Praga, Valencia e Tango Bourges. As tchecas sofreram derrotas inesperadas e ainda buscam a regularidade vista em temporadas anteriores; continuam como favoritas à vaga, mas não podem se dar ao luxo de novos escorregões. O Valencia, por sua vez, cresce rodada a rodada; a plena recuperação de Alba Torrens consolida-se a cada jogo, alçada ao quinteto titular. O time espanhol mescla experiência e juventude, além de possuir peças de reposição em todas as posições. Olhos muitos abertos para essa equipe!

No grupo B, reina o equilíbrio e seis das oito equipes seguem vivas. O Sopron sofreu alguns baques e mesmo assim sobra: Vandersloot chegou a ser anunciada, para depois o negócio melar; a pivô Bernadett Hatar continua fora de ação; e Brittney Sykes, contratada antes da temporada, rumou para o rival de grupo, Girona.

Sykes não estreou ainda no time espanhol, que tenta por fim à gangorra. O time acumula derrotas para os lanternas do grupo, ao mesmo tempo em que esbanja vitórias sobre as equipes favoritas. Basta uma olhada sobre os números para notar a razão: ao fim do turno, a equipe ocupava a penúltima posição em pontos por jogo (64,8, à frente somente do decepcionante Basket Landes), enquanto oprimia suas adversárias na defesa, liderando a competição no quesito, com 60,4 pontos sofridos por partida.

O teste de olho evidencia a identidade do elenco: ataque de pouco chute longo, com dificuldade na meia quadra, defesa sufocante, com fisicalidade, envergadura de sobra e ótimas coberturas. Curiosamente, a contratação de Brittney Sykes reafirma esse perfil, duplicando as qualidades (e as fragilidades) de Rebekah Gardner, principal estrela do clube.

A montanha russa atinge outras equipes do grupo: o italiano Schio e o espanhol Avenida, soberanos no turno, perderam tração e caíram na tabela após derrotas seguidas neste início de ano. O Avenida enfrenta dificuldades na liga nacional que não tinham reverberado para a Euroliga – até o clássica contra o Girona, quando levou uma sapecada de 74 x 48. O alerta subiu após a segunda derrota seguida, para o turco Mersin (85 x 80); nesta semana, após liderar o placar no primeiro tempo, com 15 pontos na dianteira, sofreu o empate do último quarto e sofreu a terceira derrota consecutiva frente ao Landes – 71 x 64.

Agora, a situação complicou-se e não há mais espaço para revés. Mesmo cenário do Schio, que acumula duas derrotas nas últimas partidas. Os resultados tiraram a equipe da liderança do grupo e ameaçam a classificação. A equipe perdeu consistência e tem se ressentido de uma pontuadora nata, capaz de dominar a bola nos momentos decisivos e apertados: Rhyne Howard, em sua primeira experiência europeia, ainda não é essa jogadora e se fia demais nos chutes de três; Marina Mabrey caiu de produção.

Emblemática a derrota na rodada passada, ocasião em que enfrentava o húngaro DVTK Miskolc. Era a oportunidade de abrir folga na tabela e praticamente eliminar sua adversária; a dolorida derrota, por uma posse, 65 x 63, reacendeu as esperanças húngaras e deixou o Schio contra a parede.

Faltando 6 rodadas para a conclusão da fase de grupos da Euroliga, o grupo B segue embolado e devemos presenciar um perde-ganha nas partidas finais. E por falar em mudanças, não podemos nos furtar de citar a saída de Jonquel Jones do Mersin Çukurova. Além de perder sua principal estrela, o time turco demitiu dois técnicos e estreará novo comandante na partida desta semana.

Se as mudanças acontecem em todas as temporadas, o equilíbrio visto é fator novo; mais uma razão para acompanhar a reta final da fase de grupos da Euroliga.


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