2ª a 4ª Jornada EuroLiga 22/23: Fenerbahçe recupera forças

Lucas PachecoNovembro 16, 20226min0

2ª a 4ª Jornada EuroLiga 22/23: Fenerbahçe recupera forças

Lucas PachecoNovembro 16, 20226min0
Lucas Pacheco passa a limpo o que aconteceu nas últimas três jornadas da Euroliga, com destaque para o Fenerbahçe e não só

Finalizada a rodada 4 da fase de grupos, a Euroliga atinge a metade do turno. Ainda há muito basquete pela frente, o que torna qualquer prognóstico perigoso. A equipe com maior investimento, o turco Fenerbahçe, acabou de estrear a pivô Emma Meesseman e deve receber Satou Sabally e Breanna Stewart a partir de janeiro; o Sopron não conta com a pivô Bernadett Hatar. Porém, com quatro rodadas algumas coisas chamam a atenção.

Equilíbrio

Nos últimos anos, a fase de grupos do principal torneio continental da Europa não trouxe muitas surpresas. Acostumamo-nos a ver as equipes com maior investimento vencer suas partidas e avançar sem dificuldades às quartas-de-final. Este ano, a receita está diferente e equipes apontadas antes do início como coadjuvantes vêm surpreendendo, apimentando a competição já nas rodadas iniciais.

Na rodada quatro, tivemos derrotas das duas últimas invictas: pelo grupo A, o USK Praga foi derrotado, em casa, para o surpreendente Polkowice (80 x 83). Com o resultado, sete equipres do grupo permanecem perto da zona de classificação e o perde-ganha torna tudo mais nebuloso. O Fenerbahçe igualou sua campanha após duas derrotas iniciais; as húngaras do Szekszard aparecem com o mesmo currículo (2v e 2d) e acima na tabela pelo critério de desempate.

A bem da verdade, o único time sem vitória, e que parece destinada à eliminação precoce, é o Olympiacos. Sua pivô Megan Gustafson continua a brilhar, com a maior eficiência e a cestinha do torneio – insuficiente para alavancar vitórias. De resto, absolutamente tudo aberto, onde qualquer resultado inesperado poderá ser decisivo ao final da fase de grupos.

A mesma dinâmica aparece no grupo B, onde o até então invicto Sopron (atual campeão) sofreu sua primeira derrota: 63 x 60 para o Girona. No momento, quatro equipes possuem campanha positiva (3v e 1d), seguidos de perto pelo Mersin Çukurova (2v e 2d). Cotados para disputar a lanterna, o húngaro DVTK Miskolc e o belga Kangoeroes venceram um jogo e buscam novas vitórias para subir ainda mais na tabela.

Também no grupo B, um lanterna sem nenhum resultado positivo: as francesas do Basket Landes parecem ter perdido o rumo e o pior ataque da competição (média de 57,3) não passa segurança à treinadora Julie Barennes. Ela vem alterando os quintetos titulares, sem sucesso; a má fase da jovem armadora Marine Fauthoux contribui demais para esse desempenho, assim como a ausência de uma pontuadora secundária.

O equilíbrio abre muitas possibilidades e enriquece o torneio; ao invés de vitórias amplas das favoritas, temos presenciado combates parelhos e abertos a surpresas. Para os torcedores, aumenta ainda mais os atrativos da Euroliga.

Partida da rodada: USK Praga 80 x 83 Polkowice

Poderíamos ter escolhido a vitória espanhola do Girona sobre o Sopron, mas optamos pela vitória polonesa em função do inesperado. Enquanto Girona e Sopron são equipes consolidadas no cenário europeu, com jogadoras conhecidas, o Polkowice aparecia fora do radar. Bastaram 4 rodadas para mudar esse quadro.

A Polônia sempre está representada na Euroliga, mas há bastante tempo sem destaque. O Polkowice recuperou a vaga após alguns anos ausente, quando o Gdynia carregava as cores polonesas. O time venceu nada menos que os dois maiores favoritos do grupo (Fenerbahçe e Praga) e apresenta um basquete instigante, centrado em volta da pivô Stephanie Mavunga. Ela deve ser o foco das adversárias, pois tudo gira em torno dela, a jogadora capaz de pôr a bola no chão e pontuar em profusão.

Ao seu redor, boas chutadoras espaçam a quadra, liberando espaço para Mavunga jogar no poste baixo e usar seu criativo jogo de pés no garrafão. O Polkowice é o time que mais arremessa de três (27,5 tentativas por jogo), com o segundo melhor aproveitamento (39,4%). Contra Praga, foram 24 tentativas, com 41,7% de aproveitamento; uma mostra do espaço liberado para Mavunga vem dos números da outra pivô da equipe – a grega Artemis Spanou, dos 11 arremessos tentados, buscou 8 tentativas da linha de três.

Mavunga terminou a partida com 25 pontos e 17 rebotes. As polonesas aproveitaram-se da ausência de Brionna Jones da equipe tcheca. A pivô sequer estreou na Euroliga e, sem uma peça de reposição à altura, obriga Alyssa Thomas a se desdobrar. Na derrota, devido ao perigo dos chutes de Spanou, Thomas era obrigada a marcar desde o perímetro, descubrindo o garrafão e os rebotes. Se Thomas optava por permanecer próxima ao aro, o Polkowice revidava com os tiros longos.

O Praga sentiu demais a ausência de Brionna Jones na defesa, assim como no ataque. Sem ela, a responsabilidade pela pontuação teve que ser assumida por outras jogadoras e tradicionalmente sua técnica Natalia Hejkova opta por rotações curtas. Para piorar, Maria Conde, wing espanhola que atacou as linhas de infiltração teve uma partida ofensiva apática (5/17) e por diversos momentos, as tchecas estagnaram. Por largos períodos, a equipe dependeu de contra-ataques para pontuar.

Embora a derrota acenda alerta no time tcheco, não há razão para pânico. O retorno de Brionna Jones resolve grande parte dos problemas e Maria Conde não deve repetir a exibição fraca novamente. Porém, enquanto isso, a equipe colecionou a primeira derrota no torneio e, em um ano tão equilibrado, deve evitar novo tropeço

A importância silenciosa de Cyesha Goree

As húngaras de Szekszard vinham de uma Euroliga passada absolutamente esquecível. A situação mudou este ano, fato revelado pelas vitórias e pela competitividade demonstrada, mesmo nas derrotas. O time briga de igual para igual e já coleciona duas vitórias.

Victoria Vivians é a atiradora de confiança e a mais eficiente do elenco. A armadora Agnes Studer lidera em assistências por jogo (7,5), dando consistência a um elenco de apoio jovem e em desenvolvimento. Porém, sem a presença de Cyesha Gorre dificilmente o time ocuparia uma situação confortável. A pivô de 1,88m e 29 anos, naturalizada húngara, faz o time rodar e desafoga suas comapnheiras nos momentos delicados. Menos pela pontuação e mais pelo jogo de equipe, com bloqueios, pick and pop e rebotes. Além da defesa forte, capaz de conter pivôs pesadas embaixo do aro e alas mais móveis no perímetro.

Goree não é uma novata na Euroliga, mas tem seu melhor desempenho na edição atual. Os americanos usam a expressão glue guy para designar o jogador que, sem protagonismo, consegue fazer o time rodar, movimenta a bola e possibilita o padrão tático. Goree se encaixa nessa definição como poucas nesta Euroliga e não é arriscado dizer que sua equipe irá até onde Goree conseguir levá-las.


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