A rivalidade tem conhecido um decréscimo
Em Portugal falar em rivalidade no futebol ou no futsal é muito semelhante. Apenas se exclui um dos três ditos grandes – o FC Porto. Contudo, na capital portuguesa a intensidade com que se vive um clássico no estádio ou no pavilhão é proporcionalmente muito parecida. Desde que o Sporting e o Benfica disputam o campeonato português que são, ano após anos, os candidatos à conquista do campeonato nacional. Há uns anos o Belenenses, o Freixieiro – que inclusive foi campeão em 2002 – e atualmente o Braga AAUM, interferiram nessa corrida a dois, mas sem a força dos eternos rivais, nomeadamente em questão de títulos.
É então sobre esse aspeto que o restante artigo se vai centrar. Na rivalidade que, desde que Nuno Dias chegou ao comando da equipa leonina, está a ganhar contornos de domínio absoluto do Sporting face ao rival da 2ª circular. O Sporting porque se reforçou com jogadores de topo a nível mundial e o Benfica porque se tem demonstrado incapaz de implementar uma forma de abordar os jogos suficientemente forte para ambicionar rivalizar com o rival.
As contratações também não têm sido as mais felizes. As que se revelaram boas contratações culminaram em saídas prematuras. Juanjo e Elisandro foram dois dos casos. Ambos contratados por equipas da vizinha Espanha, Barcelona e Inter Movistar, respectivamente.
As últimas duas temporadas são o espelho desse domínio.
A equipa verde e branca foi campeã nas últimas duas temporadas, conquistou também uma Taça de Portugal, e marcou presença na Final Four da Uefa Futsal Cup, equivalente à Liga dos Campeões no futebol, no ano passado. Na competição europeia chegou mesmo à final da prova, no entanto acabaria por perder para a equipa de Ricardinho, o melhor jogador português da história e actualmente o melhor do mundo da modalidade.
Ganhou ainda a Supertaça disputada na presente temporada, curiosamente contra o grande rival.
Já o Benfica, e de forma oposta, não foi além da conquista de uma Taça de Portugal e de uma Supertaça. A taça de Portugal foi ganha à equipa da Burinhosa por 5-1, ao passo que a Supertaça foi ganha ao Sporting. Na época transacta a equipa treinada por Joel Rocha não passou sequer das meias finais do playoff que apura o campeão nacional da modalidade.
Pela diferença de conquistas é perceptível quem é a equipa que está a assumir maior domínio na modalidade. Ainda a época estava no início já o Sporting ganhava ao Benfica em casa, num jogo em que predominou, de forma clara, a qualidade do plantel sportinguista.
Existe uma grande diferença entre os dois planteis.
É, essencialmente, na grande diferença dos planteis que se percebe o porquê deste domínio.
De Cavinato, Merlim, Divanei, Cardinal, Dieguinho, a João Matos, Pedro Cary, Diogo, Djo ou Deo, a equipa leonina formou um plantel muito forte e com capacidade para abordar cada jogo consoante aquilo que é necessário. Seja a jogar com pivot mais posicional, onde o jogador tem uma posição mais estática, ou mesmo sem ele – neste caso, qualquer jogador nos momentos de rotação da equipa, quando são feitos os movimentos de ruptura, diagonais ou paralelas, acaba por ocupar esse espaço – a equipa sabe jogar com qualidade.
Porém, toda esta dinâmica só tem sido conseguida devido a uma política interna positiva nesse parâmetro. O clube não só não tem sido complacente com a saída de jogadores nucleares na estratégia da equipa como tem feito esforços para melhorar cada setor o mais possível.
O clube encarnado, e ao invés do seu rival, não foi capaz de acompanhar essa evolução. Certo é que a equipa tem sido alvo de algumas reestruturações internas, nomeadamente com a saída de jogadores que assumiam extrema importância na estratégia da equipa. Saiu Alexandre Patias, Elisandro, Juanjo. A lesão de Chaguinha foi também um contratempo para o técnico.
Em sentido contrário, chegaram alguns jogadores. Robinho, Raul Campos e Deives, trouxeram esse acrescento de qualidade de que a equipa necessitava. A recente contratação de Fernandinho ainda mais. É preciso tempo para que o demonstrem.
Um tipo de jogo também ele diferente.
Caso o adversário jogue com uma defesa à zona, tradicionalmente associada à linha do meio campo, a equipa pode dispor-se sem pivot. No contexto, os jogadores escolhidos por Nuno Dias são capazes de criar uma rotatividade que a qualquer momento é capaz de desorganizar a defesa contrária, numa espécie de 4-0, em que não existe um pivot fixo, todos os jogadores passam na posição.
Se a equipa contrária optar por assumir uma pressão alta, é de extrema importância ter um jogador de características mais posicionais, para que a bola lhe seja colocada e os seus colegas consigam sair da zona de pressão. O Sporting tem também esse tipo de jogador característico de uma tática de 1-2-1.
A equipa de Joel Rocha, de facto, também tem estas condições, mas não com a qualidade de que Nuno Dias dispõe. A juntar a isto há ainda o facto de o Benfica estar muito dependente de Robinho. Muito do jogo ofensivo encarnado começa com o internacional russo, como último homem, a fazer 1 x 1 contra o adversário directo.
Quando no lance, os outros três jogadores da equipa colocam-se perto da baliza contrária para que, assim que se liberta daquela zona, a equipa consiga criar superioridade numérica em zona de potencial perigo. O Benfica carece de estratégias diferentes e desenhadas para cada tipo de jogo. Nomeadamente não depender demasiado de um ou outro jogador.
É, portanto, baseado nas conquistas dos clubes nos últimos dois anos, na constituição dos planteis e mesmo na abordagem estratégica a cada jogo, que a rivalidade tem conhecido um decréscimo. Contudo, alegrem-se os adeptos da modalidade. Brevemente acreditamos que tudo voltará ao normal.