Ouro brasileiro nos World Beach Games na antecâmara do Mundial
A histórica primeira edição dos ANOC World Beach Games animou o litoral do Qatar, tendo no torneio de futebol de praia um dos momentos altos de todo o evento. Na competição feminina, Espanha, Reino Unido e Brasil arrecadaram as medalhas de ouro, prata e bronze, respectivamente, enquanto os premiados do torneio masculino foram, do lugar mais alto para o mais baixo do pódio, Brasil, Rússia e Irão.
Espanha invencível com estreia de sonho das Canarinhas
A competição feminina ficou marcada pelo domínio das selecções europeias, conforme o atestam a presença de espanholas, britãnicas e russas nos quatro primeiros lugares da prova, consequência natural da experiência internacional que têm vindo a acumular nas competições europeias femininas desde 2006. No entanto, uma equipa estreante – o Brasil – veio intrometer-se entre as gigantes do velho continente e, na primeira competição oficial que disputou, arrecadou de imediato a medalha de bronze, após um triunfo sobre a Rússia de Cherniakova, Fedorova e outros nomes sonantes. É certo que todas as jogadoras sul’americanas já tinham vindo a acumular experiência quer no Brasil quer em equipas europeias, destacando-se casos como o de Adriele, uma das figuras das últimas edições da Women’s Euro Winners Cup. Porém, vale a pena realçar o bom trabalho da selecção orientada por Juninho Cinco, que criou uma identidade colectiva forte em menos de um mês de trabalho.
Confirmando o que tinha vindo a ser a tendência geral do futebol de praia feminino europeu, a Espanha conquistou a medala de ouro de forma invicta, selando o feito com uma vitória por 3-2 sobre as rivais inglesas na final. Carol, Lorena e demais colegas continuam a demonstrar um futebol de praia simples e eficaz, reforçando agora o estatuto de líderes mundiais da modalidade. O Reino Unido de Kempson, Clarke e Hillier segue de perto as congéneres do sudoeste europeu, tendo ambas as equipas vencido quer o Brasil quer a Rússia no caminho rumo à final. Apenas a naºão do leste europeu acabou por desiludir com uma prestação insuficiente para alcançar o almejado pódio. Por outro lado, mesmo sem terem passado a fase de grupos, as outras equipas demonstraram que o futebol de praia tem vindo a ser trabalhado com qualidade um pouco por todo o mundo, nomeadamente no Paraguai, não obstante os sinais positivos e a evolução registada ao longo do torneio pelos conjuntos do México, dos EUA e de Cabo Verde.
Brasil dominador no torneio de redenção parcial iraniana
Confirmando o favoritismo, os campeões mundiais venceram os 5 jogos que disputaram na prova e acabaram por conquistar a medalha mais desejada, incluindo uma vitória enfática na final diante da Rússia. Se os triunfos sobre Emirados Árabes Unidos (7-5), Suíça (7-4) e Itália (7-5) espelhavam algum equilíbrio aparente, o placard final de 9-3 no jogo da final frente aos czares cosntituiu uma prova inequívoca do poder avassalador dos comandados de GIlberto Costa. Mantendo as dinâmicas tácticas de anos anteriores, dispondo de um leque de jogadores ultra versáteis, capazes de actuar em todas as posições, o Brasil continua a ser o alvo a abater e sabe acelerar o jogo em momentos decisivos da partida para conseguir distanciar-se dos seus adversários e garantir os triunfos com algum conforto. As formas de Rodrigo Costa, Mauricinho e Lucão são dignas de algum destaque numa equipa que vale pelo colectivo homogéneo.
Se no ano passado a Rússia tinha quebrado a invencibilidade do Brasil na Copa Intercontinental, este ano foi a mais cruel vítima do rolo compresor Canarinho. A expectativa cresce, portanto, para compreender quem poderá destronar o Brasil no próximo mundial – uma tarefa árdua, mas na qual Portugal poderá ter uma palavra a dizer.
Por seu turno, Rússia tinha vindo a apresentar níveis exibicionais convincentes até ao jogo da final, num percurso imaculado que incluiu uma vitória arrancada a ferros sobre o Japão (6–5 no prolongamento) e um triunfo folgado sobre o Irão (6-2). A goleada na final, mercê de um apagão súbito no 2º período e um desmembramento completo no final do encontro, não beliscam a qualidade de uma equipa que regressa ao mundial com legítimas aspirações ao título.
Por seu turno, os persas, ausentes do próximo mundial, acabaram por repetir no Qatar o bronze que tinham alcançado nas Bahamas no último campeonato do mundo (2017), demonstrando que o seu estatuto de superpotência mundial não pode ser posto em causa pela não qualificação para a prova FIFA deste ano. A medalha dos iranianos ganha mais valor ainda se considerarmos que foi conquistada no decurso de uma corrida de obstáculos que incluiu algumas das melhores selecções do mundo: Ucrânia, Senegal, Paraguai e Itália, todos se vergaram aos pés dos persas, que além de bons resutlados demonstraram também a capacidade de renovar a sua selecção de forma sustentada.
Fora do pódio ficou a Itáli, liderada pelo acrobático Gori, que apesar de um triunfo meritório sobre a Espanha na fase de grupos acabaria por não dar continuidade à senda de bons resultados na luta pelas medalhas, não podendo repetir no Qatar o ouro que alcançou nos Jogos Mediterrâneos de Praia em Patras. Apesar disso, trata-se de mais uma indicação positiva por parte dos Azzurri, que partem para o mundial FIFA com boas perspectivas de alcançar os lugares cimeiros. Já a Espanha de Llorenç, tal como o Irão arredada do Mundial FIFA, acabou por não conseguir limpar o sabor amargo dessa ausência com uma medalha, não obstante o bom nível do futebol de praia praticado.
De olhos postos no mundial
Realçamos igualmente as prestações de nível muito elevado do Japão, dos Emirados Árabes Unidos e do Senegal, que apesar de não terem alcançado o primeiro lugar dos respectivos grupos deram provas de grande qualidade e prometem surgir na máxima força em Assunção, na luta pela glória planetária. Os nipónicos apresentaram-se numa forma incrível, esmagando o Uruguai (7-2) e ultrapassando El Salvador (4-2) para depois venderem cara a derrota diante dos czares. Os pupilos de Ruy Ramos contam com a força incrível de Ozu Moreira, mas tambem a explosividade de Akaguma, Matsuo, entre outros.
Os Emirados Árabes Unidos, mantendo a base do plantel dos últimos anos, acabaram por perder os 3 jogos disputados, denotando alguma fragilidade defensiva, mas a forma como se bateram diante da Suíça e principalmente o Brasil permitem antever um futuro próximo risonho para os Emirados. No entanto, encontrarão forte oposição às suas aspirações no Senegal, colega no grupo C do mundial FIFA. Os africanos impuseram uma goleada algo surpreendente ao Paraguai (3-0) e viriam ainda a vencer a Ucrânia (7-5), falhando apenas na decisão por grandes penalidades frente ao Irão, após um thriller que terminou com um empate a 8 bolas. Os senegaleses podem não ser a equipa mais evoluída tacticamente, mas são sem sombra de dúvida os mais fortes do mundo no capítulo físico e tiram partido das valências técnicas de jogadores como Fall, Diagne e Diassy para superar qualquer adversário que não apresente os níveis físicos e de concentração necessários.
Também a Suíça voltou a apresentar o futebol de praia que lhe reconhecemos. Stankovic, Ott, Hodel e Borer são jogadores que constroem uma equipa e podem resolver jogos a qualquer momento, conforme se verificou na partida frente aos Emirados. No entanto, tal como tinha vindo a ser verificado ao longo do Verão, a equipa não se encontra tão equilibrada como em anos anteriores, nem em temros de plantel nem em termos de modelo de jogo. Já o Paraguai, anfitrião do próximo mundial, acabou por reagir bem à derrota inaugural frente ao Senegal, derrotando a Ucrânia (5-4) e caindo aos pés do Iráo na derradeira partida. Espera-se uma prestação de nível superior por parte dos guaranis no próximo mundial, diante do seu público,onde defrontarão precisamente a Suíça, mas também o Japão e os EUA.
As desilusões
Em sentido inverso, cumpre-nos destacar pela negativa a Ucrânia, que se despediu do seu mítico guardião Vitaly Sydorenko sem conquistar qualquer pointo no grupo da morte, bem comoo Uruguai, derrotado de forma inequívoca nos 3 jogos que disputou. Em situação análoga se encontram as Ilhas Salomão, também a zeros no grupo B, apesar da boa réplica que ofereceram contra espanhóis e italianos (derrotas por 8-5 em ambos os jogos). Também o México e Marrocos acabaram por se provar incapazes de superar um desafio da naturezados World Beach Games, ficando longe do patamar das equipas medahadas, ainda que tenham logrado uma vitória nos respectivos grupos.
Poro último, deixamos uma nota sobre a selecção de EL Salvador. Foi positivo para a modalidade ver um país que vive o futebol de praia de maneira tão apaixonada de regresso ao panorama mundial, ainda que não tenha ultrapassado o 3º lugar do grupo D. Ainda assim, as derrotas contra Rússia (5-3) e Japão (4-2) são compreensíveis para uma equipa que acabou por vencer solidamente o Uruguai, contando com a mistura da experiència de Agustin Ruiz ou Frank Velásquez com a irreverência de jovens como o goleador Perdomo. Os resultados não foram os esperados, mas os Cuscatlecos continuam de boa saúde, mesmo após 3 ausências consecutivas em mundiais.