Guardiões lendários do Futebol de Praia para recordar

André CoroadoJaneiro 23, 20217min0

Guardiões lendários do Futebol de Praia para recordar

André CoroadoJaneiro 23, 20217min0
Numa modalidade onde o guarda-redes desempenha um papel primordial tanto na defesa como no ataque, recordamos 3 nomes lendários da posição.

Na gíria do futebol de praia diz-se por vezes que o guarda-redes não é meia equipa, mas quase! Apesar do exagero das proporções, é certo que a afirmação vai beber à realidade do jogo de futebol de praia, onde estes guardiões desempenha um papel preponderante não apenas no processo defensivo, mas também na definição da organização atacante.

Se, nos dias de hoje, essa influência se caracteriza pela predominância do guarda-redes que sai a jogar com os pés fora da sua área defensiva, nas duas primeiras décadas da modalidade o papel do guardiões não era menos relevante no plano ofensivo, uma vez que os ataques se iniciavam frequentemente com o lançamento dos guardiões.

De facto, o sucesso das acções ofensivas estava muitas vezes dependente da qualidade do lançamento, mas acima de tudo da visão táctica do guarda-redes, peça fulcral no xadrez dos areais por ser o guardião não apenas da baliza mas também do tempo: a gestão do tempo nos vários momentos do jogo, em função da interpretação das necessidades da equipa, foi sempre uma das principais competências destes guardiões. O guardião deveria saber ler o jogo e introduzir as mudanças de velocidade no momento certo para criar desequilíbrios e tirar partido das virtudes técnicas dos colegas de equipa.

No artigo de hoje dedicamo-nos a recordar alguns nomes que marcaram o futebol de praia mundial nesta primeira fase da modalidade, nomeadamente durante a primeira década do século XXI. Em Portugal, são célebres os casos de José Miguel Mateus, Paulo Graça e João Carlos Delgado, todos eles bem conhecidos do público português, que ainda hoje continuam ligados à modalidade e já foram alvo da atenção do Fair Play. Desta feita olharemos também a outros 3 nomes lendários que marcaram o panorama internacional no início do século.

Pierre (Brasil)

Sendo o Brasil um país de futebol de praia espectáculo, que dominou a modalidade durante anos a fio com o seu poder de fogo ofensivo, talvez os primeiros nomes que nos ocorrem quando pensamos em grandes estrelas não sejam os de guardiões. No entanto, é na baliza que residiu sempre uma das principais armas da selecção Canarinha. Se hoje em dia o veterano Mão e Rafa Padilha dão cartas entre os postes (e fora deles), também Paulo Sérgio e Robertinho merecem ser lembrados pelo impulso que deram ao futebol de praia brasileiro. No meio, destaca-se um outro nome: Pierre.

Pode estar um pouco esquecido na memória colectiva dos adeptos da modalidade, mas é um nome inesquecível para quem viveu os míticos confrontos entre Portugal e Brasil no início do século! Verdadeiramente elástico entre os postes, ostentando uma concentração imperturbável e revelando reflexos rapidíssimos, o guardião natural do Espírito Santo constituía um verdadeiro muro defronte da baliza brasileira. Com uma compleição física e postura discretas, muitas vezes sem luvas, a qualidade de Pierre podia passar despercebida até ao momento em que o jogo começava, quando se convertia num verdadeiro monstro dos areais!

Apesar de ter sido o guarda-redes principal da selecção brasileira durante um período relativamente curto (entre os reinados de Robertinho e Mão) ficaram célebres as grandes exibições de Pierre nos verões portugueses de 2004 a 2006, quando o muro capixaba impediu, por diversas vezes, a festa lusitana no Mundialito. Infelizmente para a modalidade, Pierre acabaria por retirar-se precocemente em Janeiro de 2007, no Desafio Internacional Brasil vs Resto do Mundo (vitória Canarinha por 7-6), aos 32 anos, devido à incompatibilidade com os seus afazeres profissionais. Pentacampeão mundial pelo Brasil e vencedor de inúmeros troféus durante 9 anos de selecção, o camisola 1 permanecerá sempre uma lenda das areias e uma referência entre os postes!

Roberto (Espanha)

Se juntarmos “futebol de praia”, “Espanha” e “guarda-redes” na mesma frase, provavelmente a maior parte das pessoas pensará em Dona. No entanto, os de melhor memória lembrar-se-ão por certo de Roberto Valeiro, extraordinário pilar da armada espanhola que durante mais de 10 anos defendeu as cores dos nossos vizinhos ibéricos, como um dos melhores guardiões da sua história nos areais.

De origem galega, formou juntamente com os conterrâneros Ramiro Amarelle e Nico Alvarado um dos trios mais temíveis da elite europeia e mundial do início do século, inteiramente constituído por jogadores que haviam conquistado notoriedade directamente no futebol de praia (e não antigos jogadores de futebol de 11, como era apanágio dos primórdios da modalidade em Espanha). De elevada estatura, Roberto destacava-se pela segurança entre os postes, pela rapidez de reacção e consistência assinalável, que se foi aprimorando com o acumular da experiência.

Profundo conhecedor da modalidade e hábil gestor dos ritmos da partida, foi também um exímio construtor de jogo com base nos seus lançamentos portentosos. Ficarão para sempre conservados na retina dos adeptos as suas assistências fenomenais para Amarelle, naqueles lançamentos longos e tensos que faziam brilhar o astros das areias. No entanto, nunca é demais referir, tudo começava na técnica de lançamento e capacidade de leitura de jogo de Roberto.

Por várias vezes campeão da Liga Europeia, embora sem que tivesse logrado levar a sua Espanha à vitória numa grande competição mundial, Roberto será sempre um símbolo do futebol de praia no seu país e no planeta.

Diego (Uruguai)

Terminamos esta evocação de grandes figuras que defenderam as redes nos areais com um nome que, juntamente com o de Pampero, é sinónimo de futebol de praia no Uruguai: Diego Montserrat.

Num país entrincheirado entre o Brasil e a Argentina, cuja selecção se baseava num conjunto restrito de atletas da capital Montevideo, o florescimento do futebol de praia está ligado à criação de uma cultura de grande consistência defensiva e frieza tacticista, cujo sucesso passava muito por uma utilização eficaz da posição do guarda-redes. De facto, a inteligência de Diego na gestão dos ritmos do jogo e na coordenação da organização defensiva da sua equipa constituía-se como uma peça fundamental na manobra de uma formação que se batia de igual para igual contra os colossos Brasil, Portugal, Espanha ou França em qualquer competição.

Os fãs da modalidade não esquecerão, decerto, a determinação serena no olhar do “careca” que defendia com a vida as redes da Celeste. Enquanto resistia corajosamente às investidas adversárias contra a sua baliza, Diego geria o rumo dos acontecimentos com a experiência do leão que espera o momento indicado para atacar a presa. Bastava uma mudança de velocidade no momento certo para o Uruguai passar para a frente do marcador quando menos se esperava. Uma vez em desvantagem, os adversários tinham de trabalhar muito para desfeitear Diego, tarefa hercúlea!

Apesar de condicionado pela presença do Brasil em qualquer competição continental, o Uruguai de Diego sagrou-se campeão da Copa América em 2005 e da Copa Latina em 2011 (com uma defesa decisiva de Diego a penalti de Benjamim), nas duas únicas ocasiões em que venceu a selecção canarinha na História. Mas Diego foi também o rosto principal de várias presenças dos Charrúas no Top 4 mundial, inclusive nos mundiais de 2006, 2007 e 2009. As defesas e a inteligência táctica de Diego são também património inalienável dos anais do futebol de praia.


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