El Salvador imperial, EUA cumprem mínimos
Os torneios de qualificação para o campeonato do mundo de futebol de praia começaram a todo o vapor e são já quatro as equipas qualificadas para a competição máxima da modalidade, que se realizará em Moscovo, na Rússia, no final do mês de Agosto (19-29). Se as confederações da Ásia e da Oceânia foram mais conservadoras na abordagem à crise pandémica e preferiram atribuir as vagas no mundial às selecções qualificadas para a edição de 2019, o mesmo não se passou com a CONCACAF (América do Norte, Central e Caraíbas) e a CAF (África), que lograram organizar os respectivos torneios de apuramento, ao mesmo tempo que contemplavam todas as regras sanitárias. Como resultado, 4 selecções, conquistaram o direito a participar no Mundial Moscovo 2021. El Salvador, EUA, Senegal e Moçambique são, para já, os apurados para o mundial FIFA Moscovo 2021. Nesta artigo, iremos abordar os pontos altos da qualificação da CONCACAF, lançando um olhar às equipas que melhores prestações protagonizaram.
Sí, se puede!
Há 10 anos, la selecta de playa de El Salvador escrevia uma das mais belas páginas da História do futebol de praia à escala global, ao lograr um honroso e surpreendente 4º lugar no Mundial Ravenna 2011. Porém, os Cuscatlecos acabariam por enfrentar alguns dissabores na última década, ao falharem o apuramento para os últimos 3 mundiais de forma consecutiva: um rude golpe para a selecção de um país onde o futebol de praia ascendeu ao estatuto de desporto nacional. As recentes frustrações, motivadas por derrotas tangenciais nas grandes penalidades do jogo decisivo do apuramento, centravam as atenções de El Salvador na renovada oportunidade que a época de 2021 representava, a oportunidade de regressar ao maior palco internacional. Desta vez, a história seria diferente…
Integrados no grupo B, os comandados de Rudis Gallo golearam de forma impiedosa República Dominicana (15-1), Guatemala (7-1) e Bahamas (7-2), antes de eliminarem a formação de Trindade e Tobago (9-2) nos quartos de final. Na partida decisiva, o reencontro com os vizinhos guatemaltecos ditou o regresso de El Salvador ao mundial FIFA, em mais um triunfo contundente por 6-2 assegurado num 3º período muito forte. Já com a qualificação garantida, uma exibição assombrosa de Exon Perdomo ajudou a ultrapassar uma equipa norte-americana sempre aguerrida, em nova vitória tranquila por 6-4, devolvendo a El Salvador o título continental que tinha vindo a escapar desde 2009.
No nosso entender, o sucesso de El Salvador assenta numa ideia de jogo versátil, que inclui elementos do sistema 1:3:1 clássico, potenciando uma ocupação inteligente dos espaços e transições rápidas, com as vantagens de um ataque apoiado partindo do sistema 1:2:2, montado de forma superior pelo guardião Eliodoro Portillo, eleito o melhor da sua posição na qualificação realizada na Costa Rica. Realçamos que, apesar de tirar partido da saída em 1:2:2 para manter a posse de bola e acalmar o ritmo de jogo quando necessário, a selecção salvadorenha encontra sempre múltiplas opções ofensivas no âmbito deste sistema, graças às combinações e triangulações estabelecidas pelos seus jogadores, que além de grande aptidão técnica e física são também dotados de um notável sentido de baliza. Destacamos, naturalmente, as prestações da lenda Franck Velásquez, goleador máximo do torneio com 11 golos (e recordista de golos na qualificação CONCACAF), o melhor jogador do torneio Ruben Batres e o supramencionado Exon Perdomo, numa equipa coesa onde todos os nomes podem brilhar.
Um outro ponto a sublinhar na prestação de El Salvador reside na solidez defensiva apresentada por uma equipa que, nos 5 primeiros jogos, concedeu apenas 1 ou 2 golos por jogo. Apenas os EUA lograram fazer balançar as redes de Portillo por 4 ocasiões, no que cremos estar relacionado com a maior estatura física dos jogadores norte-americanos – algo que poderá constituir um obstáculo adicional para El Salvador no mundial perante selecções mais físicas, como a Rússia ou o Senegal, por exemplo. Não obstante, a melhoria do nível de jogo apresentado pela selecta de playa em relação ao que tínhamos visto há dois anos é inegável e augura boas perspectivas para o próximo mundial.
EUA qualificados, Guatemala surpreende
Numa competição a eliminar, como é o caso do torneio e apuramento CONCACAF para o mundial, nem sempre as melhores equipas conseguem o apuramento para o mundial, sendo inquestionável o papel da sorte na definição dos confrontos da fase decisiva. A pressão de ter de ganhar os jogos dos quartos de final e das meias finais para conseguir marcar presença no mundial é imensa e pode ditar alguns dissabores, mas também deliciosas surpresas. Desta feita, o apuramento de El Salvador nunca estaria realmente posto em causa, mas o apuramento da segunda equipa poderia, no nosso entender, ter sido discutido por 3 formações de nível semelhante: EUA, Guatemala e Costa Rica.
Quis o destino que a selecção das Stars and Stripes acabasse por conseguir a qualificação, repetindo o êxito de 2019. Com mérito, indiscutivelmente, nomeadamente no que diz respeito à manobra ofensiva de uma equipa recheada de bons executantes. A forma como os norte-americanos tiram proveito do porte físico de jogadores como Silveira, Canale, Mondragon e Perera (embora um pouco abaixo do que já o vimos fazer em anos anteriores) para ganhar espaço na área adversária e armar o pontapé de bicicleta é digna de antologia, revelando-se uma arma difícil de contrariar para qualquer equipa de topo à escala mundial. No entanto, parece-nos também que, além desta opção mortífera e da primazia técnica do guardião Chris Toth, a saída em 1:2:2 dos homens de Francis Farberoff se revela um pouco estéril e previsível, o que poderá ser motivo de preocupação para os vice-campeões da CONCACAF na Rússia. Além disso, as veleidades defensivas concedidas pelos norte-americanos ao longo da competição podem revelar-se fatais para as suas aspirações no mundial, conforme já o foram nos embates contra Costa Rica e El Salvador.
Ironicamente, a derrota por 5-3 contra a anfitriã Costa Rica na fase de grupos acabaria por se revelar decisiva para a qualificação norte-americana. Num jogo francamente pouco conseguido por parte das Stars and Stripes, a exibição fantástica do acrobático Greivin Pacheco catapultou os costa riquenhos para o 1º lugar do grupo C, deixando os EUA na segunda posição. Todavia, este resultado lançou os pupilos de Francis Farberoff no lado bom da tabela: aquele em que não estava a selecção de El Salvador, e como tal o caminho mais acessível para o mundial. Assim, após derrotar uma combativa, mas nem sempre organizada selecção do Panamá nos quartos de final (4-3), os EUA derrotaram uma equipa mexicana em momento de renovação (claramente abaixo do desempenho de anos anteriores) por 5-2 para carimbar o apuramento para o mundial.
Costa Rica aos altos e baixos, Guatemala quase, quase…
Por seu turno, a Costa Rica, que vencera categoricamente os EUA na fase de grupos, ainda que sem convencer plenamente nos outros jogos, acabaria por não passar dos quartos de final, mercê de uma derrota clara por 6-4 diante da surpresa da prova: a Guatemala. No nosso entender, ambas as equipas reuniam condições para, com um pouco de sorte, alcançar a qualificação. Todavia, apresentaram estilos muito diferentes: os costa riquenhos, com experiência nos mundiais de 2009 e 2015, apresentam um estilo muitas vezes semelhante ao dos EUA, muito assente na saída em 1:2:2 e na capacidade desequilibradora de Greivin Pacheo ou Cristián Sanchez. Porém, quando controladas as movimentações essenciais destes jogadores, as opções ofensivas dos homens da casa reduzem-se drasticamente.
As aspirações da Costa Rica embateram assim na organização defensiva de uma selecção guatemalteca que, além de ter feito o trabalho de casa, demonstrou um estilo de jogo simples e eficaz, semelhante ao que era praticado por El Salvador há cerca de 5 a 10 anos: velocidade, qualidade técnica na condução de bola na areia, inteligência em busca de espaçoes vazios e um excelente entendimento do sistema 1:3:1 clássico, que se ajusta que nem uma luva às qualidades técnicas e físicas dos seus executantes. Gonzalez, capitão de equipa, é o destaque natural num plantel equilibrado, que conjuga a experiência de alguns elementos com uma maioria de jogadores abaixo dos 25 anos de idade. Também o seu guarda-redes, Castro, se revelou uma peça fundamental para o sucesso do conjunto centro-americano: apesar de um perfil físico pouco convencional para um guardião de futebol de praia, as suas prestações entre os postes encheram o olho dos presentes.
No fim de contas, os guatemaltecos averbaram apenas 2 derrotas na competição, diante dos todo-poderosos salvadorenhos, mas venceram Bahamas (nas grandes penalidades após empate a 3 bolas), Costa Rica (6-4) e México (5-2), estes últimos na partida da disputa do bronze. Caso tivessem sido incluídos no outro lado da chave, escapando aos Cuscatlecos, teriam os bravos da Guatemala alcançado o apuramento? Nunca o saberemos… em tpdo o caso, as indicações deixadas pelo conjunto guatemalteco foram as mais positivas, pelo que poderemos esperar bons desenvolvimentos durante os próximos anos.
- Bahamas
- Canale
- Castro
- CONCACAF
- costa rica
- El Salvador
- Eliodoro Portillo
- Exon Perdomo
- Francis Farberoff
- Franck Velasquez
- Futebol de Praia
- Gonzalez
- Greivin Pacheco
- Guatemala
- México
- Moçambique
- Mondragon
- Mundial de Futebol de Praia FIFA
- Mundial FIFA 2021
- Nick Perera
- Panamá
- Ruben Batres
- Rudis Gallo
- Russia
- Senegal
- Silveira
- Trindade e Tobago