Boguslaw Saganowski: Jogadores que marcam selecções
Sagan: O líder espiritual da Polónia
A História da selecção polaca de futebol de praia funde-se com o percurso de Boguslaw Saganowski nos areais. Irmão de Marek Saganoswki (futebolista que representou o Vitória SC de Guimarães na primeira década do século XXI), Boguslaw primava pela força física, pela vontade inexcedível e pela técnica acrobática que empregava ao serviço da Águia Branca que ostentava orgulhosamente ao peito.
Constituía a face mais visível do trio Sagan – Viki – Zuk (do qual também faziam parte Witold Ziober e Marek Zuk), que entre 2005 e 2006 foi responsável por levar a Polónia da divisão C europeia à divisão A, ao 3º lugar na Liga Europeia e ao Mundial de Futebol de Praia FIFA 2006 em Copacabana. Saganowski deslumbrou no Rio com os seus indomáveis pontapés de bicicleta, que quase valeram o apuramento à Polónia, mas um golo japonês no último minuto do confronto frente aos nipónicos deitaria por terra as esperanças da nação do leste europeu.
A Polónia de Saganowski prometia muito, apresentando uma forma de jogar atractiva e com grande potencial de crescimento. Tratava-se de um modelo tacticamente muito simples, já então muito baseado na virilidade e nas transições rápidas, tirando partido do factor surpresa possibilitado pela explosividade do pivô Saganowski, complementada pela criatividade de Ziober e a veia goleadora de Zuk. Demasiado simples…
Alguns anos pelas ruas da amargura
Apesar de sempre constituir uma dor de cabeça para as equipas do topo europeu, tendo por diversas vezes surpreendido equipas como Espanha, Portugal e Rússia, a equipa polaca não voltou a apresentar os mesmos índices de consistência que lhe permitissem alcançar os lugares cimeiros europeus ou uma qualificação para o mundial.
Durante esses períodos, a presença de Sagan na sua selecção não foi a mais assídua, com as suas escassas aparições intercaladas por longos períodos de ausência, em que outras figuras como Daniel Baran e o próprio Ziober acabam por surgir como os nomes de destaque da equipa. Saganowski acabaria mesmo por surgir como técnico principal da Polónia em algumas etapas da Liga Europeia. O certo é que as dinâmicas da sua selecção não acompanhavam a evolução dos tempos e pareciam ter estagnado em 2006…
Faltava algo para motivar o ressurgimento da grandeza polaca nos areais. Algo que catapultasse a Águia Branca de volta às grandes decisões no plano europeu. Nem o regresso de Saganowski, pesado e fora de forma, conseguiu dar o tónico exigido a uma Polónia envelhecida e sem ideias. Foi então que o inesperado aconteceu: uma nova fornada de jovens talentos começou a afirmar-se, Sagan treinou arduamente para regressar à sua melhor forma e, desta vez, a sorte acompanhou a audácia polaca.
Um surpreendente regresso ao topo
Corria o ano de 2016. A Polónia protagonizou mais uma prestação modesta na Liga Europeia e, apesar da melhoria da qualidade de jogo, não se adivinhava que pudesse representar uma verdadeira ameaça ao apuramento das principais potências europeias para o mundial, no torneio disputado no fim do Verão em Jesolo, Itália. Após uma fase de grupos tranquila, a tarefa polaca ganhava proporções épicas, dado que teria de ultrapassar a Ucrânia, recém-coroada campeã europeia, e a todo-poderosa Rússia na segunda fase de grupos.
Se ninguém duvidava que ucranianos e russos teriam de trabalhar muito para superar uma Polónia em crescimento, o apuramento da Polónia parecia um sonho distante, destinado ao fracasso com tantas vezes antes. Mas estava lá Saganowski, o talismã da Polónia, liderando as hostes nacionais com o seu exemplo de abnegação e crença! Os seus mais jovens companheiros seguiam-lhe as pisadas e construíram uma muralha defensiva sólida, capaz de segurar a vantagem alcançada no contra-golpe. Foi da autoria de Sagan um dos golos na vitória por 4-3 frente à Ucrânia, mas o seu papel foi ainda mais decisivo no triunfo histórico diante da Rússia por 5-3, com um hattrick do mítico número 8 polaco a revelar-se verdadeiramente decisivo e a selar a qualificação para o mundial das Bahamas FIFA 2017.
No final, a Polónia chegaria mesmo a conquistar o torneio de apuramento europeu, desfeiteando categoricamente Itália (3-2 a.p.) e Suíça (6-3) rumo ao primeiro título de dimensão europeia dos polacos. 12 golos de Sagan, que então contava já 39 anos de idade, foram absolutamente essenciais no triunfo das Águias Brancas, que, sem terem alterado verdadeiramente a sua forma de jogar, alcançavam o topo do futebol de praia europeu, encabeçados pela sua figura de sempre!
Em pleno mundial, a Polónia enfrentou algumas dificuldades, terminando o grupo na 4ª posição sem qualquer vitória. Contudo os polacos acabaram por ser, juntamente com a Itália, a equipa que mais golos apontou frente ao eventual campeão Brasil (4), tendo Sagan continuado a deslumbrar o mundo com as suas acrobacias plenas de oportunidade, averbando um total de 4 golos.
A despedida: Depois de Saganowski
Após o mundial, o mítico 8 polaco acabaria por abandonar definitivamente a selecção, confiante em jovens como Jesionowski, Madani e Friszkemut para dar seguimento ao bom trabalho, bem como em Ziober, seu companheiro de tantas batalhas, para capitanear a equipa. Impulsionados pela onda positiva do ano anterior, os polacos ainda lograriam alcançar a Superfinal da Liga Europeia de 2017, mas não chegariam a repetir o mesmo feito no ano seguinte, começando a evidenciar uma notória orfandade após a saída da sua referência espiritual.
Em 2019, são várias as competições europeias nas quais a Polónia terá a oportunidade de demonstrar que o sucesso de 2016-2017 não foi obra do acaso. Além da Liga Europeia, a qualificação para os jogos mundiais de praia de San Diego (já no próximo mês de Maio em Salou, Espanha) e o apuramento para o Mundial FIFA Paraguai 2019 (a disputar em Julho, em Moscovo), serão os testes de ouro à resiliência polaca para superar a saída de Sagan.
Para já, não se adivinha no conjunto polaco a capacidade de regeneração necessária a uma melhoria das prestações apresentadas. Os dos jogos amigáveis frente a Portugal na Figueira da Foz (vitórias lusas por 7-2 e 5-2) revelaram, mais uma vez, uma equipa muito fria, muito forte fisicamente, bem organizada defensivamente, capaz de causar dificuldades aos adversários, mas sem a capacidade de tomar a iniciativa indispensável a uma selecção com aspirações aos lugares cimeiros de uma qualquer competição.
No nosso entender, será extremamente improvável o surgimento de um novo Saganowski na Polónia dos dias de hoje. Construir uma equipa em torno de um jogador é cada vez mais difícil no futebol de praia actual, sobretudo quando o modelo de jogo se baseia puramente em anular o jogo dos adversários. Não obstante, o exemplo de Sagan, à semelhança de outras figuras maiores do futebol de praia europeu ainda em actividade, continuará a perdurar na memória colectiva dos fãs da modalidade como aquele que reergueu a sua selecção das cinzas, 10 anos depois de ter escrito as primeiras páginas de uma história esplendorosa nos areais!